"Ame-o ou deixe-o". Silvio Santos e SBT resgatam slogan da ditadura, mas recuam e excluem vinhetas após repercussão negativa. Peças remetem a campanhas do governo Médici, um dos períodos mais sangrentos dos anos de chumbo
Nesta terça-feira (6), o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) começou a veicular uma série de vinhetas de natureza ufanista que resgatam slogans da ditadura militar (1964-1985).
No entanto, após a repercussão negativa nas redes sociais, a emissora de Silvio Santos resolveu interromper as inserções.
Os filmetes mostram paisagens brasileiras intercaladas com a palavra “Brasil” imersa em verde e amarelo. Os filmes incluem o hino nacional ao fundo e músicas como “Eu te amo, meu Brasil”.
A canção foi composta pelo artista Dom, da dupla Dom & Ravel, e fez sucesso no início da década de 1970 na versão da banda Os Incríveis.
As peças remetem a campanhas nacionalistas que marcaram o governo do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), um dos mais sangrentos períodos dos chamados “anos de chumbo”.
Até sites da direita brasileira estranharam as vinhetas. “Silvio Santos voltou ao regime militar”, escreveu o site Antagonista.
Antes de excluir o material, o SBT limitou-se a confirmar que a veiculação das peças é de sua responsabilidade, mas sem entrar em detalhes. Ainda segundo a emissora, o segredo em torno das vinhetas será mantido por “questões estratégicas”.
Depois de decidida a interrupção das inserções, o SBT passou a dizer que houve “equívoco” na veiculação. A intenção inicial de Silvio Santos seria a de “transmitir uma mensagem de união do país” agora que Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República.
“Como em várias outras situações, o dono do SBT não consultou ninguém, nem deu explicações. Chamou um assistente, transmitiu as mensagens que gostaria de ver no ar e ponto final. A mensagem que causou maior choque foi a primeira. Ao som do Hino Nacional, exibe cartões postais de algumas cidades e termina com o locutor oficial do SBT dizendo: ‘Brasil: ame-o ou deixe-o’! Este slogan, dirigido a quem se opunha à ditadura, se tornou um dos símbolos do regime militar”, escreveu o colunista do UOL Mauricio Stycer.
“Diante da surpresa total, houve quem, mais otimista0, tenha especulado que os spots poderiam ser um ‘teaser’ para anunciar uma reprise da novela ‘Amor e Revolução’. Escrita por Tiago Santiago, foi exibida entre abril de 2011 e janeiro de 2012 e tem a ditadura militar como tema principal. Outra especulação, bem mais plausível, é que foi um aceno em homenagem a Jair Bolsonaro, recém-eleito presidente do Brasil. Capitão reformado do Exército, Bolsonaro sempre enalteceu o período da ditadura militar”, acrescentou Mauricio.
Silvio Santos e Figueiredo, último presidente da ditadura militar.
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