Cuba

Valeu, cubanos!

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É lamentável que a cegueira ideológica que varreu o Brasil, tenha atingindo um elemento salutar da humanidade, ou seja, o primado da vida

Juan Delgado, médico cubano sendo hostilizado em sua chegada ao Brasil

Luis Gustavo Reis*, Pragmatismo Político

Em 2012, quando voltava de uma estádia em Cuba, passei horas conversando com um médico cubano, preso junto comigo numa sala quente e apertada do aeroporto Benito Juarez, no México. Lá pelas tantas, perguntei ao médico por que era tão difícil para os cubanos saírem do país, sobretudo aqueles que tinham formação universitária.

Sereno, o médico respondeu que o governo da ilha deixava de investir em infraestrutura e de comprar determinados bens, para aplicar recursos em educação. E que, do ponto de vista do governo, não era razoável que depois de estudar de graça, em universidades qualificadas, o cidadão deixasse a ilha para trabalhar em outro país, sem devolver à população os serviços que ela mesma financiou.

Se é uma questão justa ou não, não cabe a mim avaliar, até porque voltei do país com mais perguntas do que respostas, com mais críticas do que elogios. Mas ontem, ao saber que o programa Mais Médicos estava cancelado, lembrei desse episódio.

Aos que jamais pisaram ou conhecem a realidade da ilha, é estarrecedor questionar a dignidade e o profissionalismo dos médicos cubanos. Há anos, esses profissionais são enviados para combater o ebola na África, a catarata na América Latina, a cólera no Haiti, além de atuarem em outras regiões do mundo.

Apesar da animosidade entre os governos, logo após o furacão Katrina em 2005, que destruiu os bairros pobres de Nova Orleans (EUA), Cuba ofereceu médicos para auxiliarem as vítimas daquela tragédia.

Aqui no Brasil, os cubanos trabalham em regiões que muitos médicos brasileiros não querem ir e estão ali por vários motivos, que vão além do saldo bancário, elemento este que motiva, infelizmente, parte considerável dos médicos brasileiros.

É lamentável que a cegueira ideológica que varreu o Brasil, tenha atingindo um elemento salutar da humanidade, ou seja, o primado da vida.

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Não tenho nenhuma foto do amigo que conheci no aeroporto, mas fico com a imagem de Juan Delgado, médico cubano que foi xingado de “escravo” ao desembarcar no Brasil. Em vez de pegar um avião e “voltar para Cuba”, como muitos queriam, foi trabalhar numa aldeia indígena no coração do Maranhão, lugar que muitos de nós nem sabemos que existe.

*Luis Gustavo Reis é professor, editor de livros didáticos e colabora para Pragmatismo Político

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