Por que os japoneses namoram cada vez menos? Estudo revela que jovens universitários demoram cada vez mais para entrar numa relação amorosa ou para fazer sexo no Japão. Más notícias para um país de população minguante e cada vez mais idosa
O estudante de 19 anos Issei Izawa acha que namorar é mendokusai: mais confusão do que vale a pena. O estudo de línguas numa das principais universidades de Tóquio o coloca na posição perfeita para procurar potenciais namoradas. Mas, em vez disso, ele prefere sair com os amigos ou fazer horas extras em seu trabalho de meio-expediente, para poder comprar roupas ou poupar dinheiro para a próxima viagem.
“Estou no meu primeiro ano e me divertindo à beça de encontrar gente nova, ser mais independente do que era na escola e descobrir coisas novas“, comenta. “No momento, não quero estar comprometido, quero poder fazer as coisas que eu quero. E acho que muita gente na minha universidade, do sexo masculino e feminino, se sente do mesmo modo.”
Essa suposição é apoiada pela edição 2017 de um estudo que a Associação Japonesa de Educação Sexual vem realizando há quatro décadas, em nível nacional. Ele mostrou que 28% dos universitários e mais de 30% das universitárias nunca tiveram um encontro amoroso. Em 2005, esses números eram de 19,9% e 17,6%, respectivamente.
As cifras mais recentes, baseadas em entrevistas com 13 mil estudantes, são as mais altas desde que a associação começou a compilar estatísticas. Elas são também más notícias para um governo que já se debate com uma taxa de natalidade em declínio e uma população que envelhece rapidamente.
Depois de atingir seu pico em 2010, com 127,32 milhões, o número de habitantes do Japão está numa lenta, porém inexorável queda. Analistas calculam que ela chegará abaixo dos 100 milhões em 2065 e se reduzirá a cerca de 83 milhões na virada para o século 22.
Ainda mais preocupante é o fato de que um terço desses japoneses terá 65 anos ou mais, necessitando de aposentadorias e cuidados médicos avançados a serem financiados pelos impostos de um coletivo de trabalhadores que vai minguando.
Mas esse tipo de raciocínio já vai longe demais para a mente de Izawa. “Acho que esta geração é muito diferente da dos nossos pais, que com muito menos idade estavam procurando um parceiro para a vida, e podiam sair direto da universidade para um emprego e ter uma família. Não é isso o que eu quero e, falando com as pessoas à minha volta, não é o que elas querem.”
Em especial as mulheres estão cada vez mais comprometidas em ter uma carreira e ser independentes. Casam-se bem mais tarde, três ou quatro anos depois dos 25 anos típicos para a geração de seus pais, tendo, consequentemente, o primeiro filho aos 30 e poucos anos. Em geral filho único, pois os casais põem na balança os custos e a necessidade de equilibrar o trabalho com a criação da prole.
A maioria dos homens jovens ainda persegue a rota tradicional de uma boa universidade, levando a uma carreira segura, numa empresa que tomará conta deles até a aposentadoria. No entanto cada vez mais optam por caminhos anticonvencionais, incluindo morar e viver no exterior, trabalhar em meio-expediente e investir tempo em seguir os próprios interesses – mesmo que seja para o desagrado de seus mais antiquados pais.
Dos universitários do sexo masculino participantes do estudo, 47% atestaram ser sexualmente experientes, contra 63% em 2005. Entre as mulheres, as cifras correspondentes são de 36,7% e 62,2%, respectivamente.
Outra mudança significativa registrada pelo estudo é a idade em que os jovens japoneses se encontram pela primeira vez. Em anos anteriores, os locais mais frequentes eram classes de aula, clubes esportivos ou ocasiões sociais. Hoje a maioria dos encontros se dá pela internet ou em aplicativos de celular.
A ampla disponibilidade da pornografia na internet também tem provavelmente impacto sobre os jovens japoneses, sugerem especialistas.
“Não é só a juventude que não está fazendo sexo“, comenta Kyle Cleveland, que leciona sobre a sociedade japonesa na Temple University em Tóquio. “Estudos mostram que os japoneses em geral fazem menos sexo do que quase todos os outros países pesquisados.” “Os japoneses costumam ser muito desajeitados, socialmente, e têm medo de interações sociais.” Ou seja: carecem de confiança e muitas vezes tendem à conformidade, o que torna muito difícil namorar.
Deutsche Welle
Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook