Depois de uma longa jornada de impunidade, analista que defende estupro de mulheres, pedofilia e morte de gays, negros e comunistas é condenado a 41 anos de prisão
Marcelo Valle Silveira Mello foi condenado a 41 anos e 20 dias de prisão nesta quarta-feira (19). A decisão é do juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba.
O homem é conhecido em fóruns da internet há vários anos por defender a morte de mulheres, negros, gays e comunistas.
Além disso, o extremista defendia abertamente a pedofilia e gerenciava páginas que traziam até manuais sobre como “aplicar estupros corretivos em lésbicas” e violentar menores de idade.
Marcelo, que é Analista de Sistemas, também foi condenado à reparação de danos de R$ 1 milhão e ao pagamento de 678 dias-multa. O valor da reparação de danos, segundo o despacho, será destinado a programas de combate aos crimes cibernéticos e programas educativos da área.
“O acusado representa verdadeira ameaça à ordem social, se solto, não só na condição de autor de delitos como divulgação de imagens de pedofilia, racismo e líder de associação criminosa virtual, mas também como grande incentivador de cometimento de crimes ainda mais graves por parte de terceiros, como homicídios, feminicídios e terrorismo”, afirmou o juiz Marcos Josegrei.
A militante feminista Lola Aranovich, uma das principais vítimas de Marcelo, comemorou a decisão judicial. “Vitória e grande alívio! Marcelo Valle Silveira Mello, líder de quadrilha neonazista e misógina que me atacou durante 7 anos, foi condenado a 41 anos de prisão! Estou muito feliz!”, escreveu Lola, que é professora universitária e blogueira.
O deputado federal Jean Wyllys (PSOL), que também foi alvo de Marcelo, ainda não se manifestou sobre sua condenação.
2012
A primeira prisão de Marcelo foi noticiada no Pragmatismo Político em 2012. No entanto, já se sabia que ele praticava crimes na internet desde, pelo menos, 2006 — época em que a principal rede social brasileira era o Orkut.
Na época, também foi preso Emerson Eduardo Rodrigues, apontado ao lado de Marcelo como um dos líderes de fóruns destinados a propagar ódio contra negros, gays, mulheres e nordestinos.
Ambos foram detidos primeiramente na Operação Intolerância, mas se livraram porque havia, naquela altura, vácuo na legislação brasileira para crimes cometidos na internet.
Antes do Marco Civil da Internet (2014) e da Lei Antiterrorismo (2016), os ataques reiterados articulados por eles só podiam ser enquadrados em crimes contra a honra ou injúria racial, por exemplo.
Fórum Dogolachan
Os primeiros sites de Marcelo e Emerson foram retirados do ar em 2012, com a prisão deles. Ao serem soltos pela Justiça, os dois voltaram imediatamente a criar outras páginas, entre elas o fórum Dogolachan.
Desde o início, o Dogolachan se propunha a ser o centro de referência para usuários machistas, de ideologia ultradireitista, pautados para o ataque e a degradação de mulheres. Mas não só.
Usuários apoiaram, por exemplo, o Massacre de Realengo, no qual Wellington Menezes de Oliveira matou 12 crianças — dez delas meninas — e depois se suicidou.
Um dos temas mais recorrentes do fórum era o da “feminização” da sociedade, em que os homens estariam se relegando a posições subalternas socialmente para agradar às mulheres e ao politicamente correto em voga.
Para os usuários do Dogolachan, uma ação de contra-ataque seria necessária para devolver o “lugar de direito” aos homens héteros e brancos, derrotados pela revolução cultural dos anos 1960.
Olavo de Carvalho e Roger Moreira
Em 2015, depois que Marcelo Mello e Emerson Rodrigues já estavam longe da cadeia, foi criado um falso blog no nome da blogueira esquerdista Lola Aranovich.
No site, foram postados discursos de ódio e incitação ao infanticídio de meninos, a queimas da Bíblia e à venda de medicamentos para aborto.
O site ficou conhecido na internet quando o escritor Olavo de Carvalho e o músico Roger Moreira, do Ultraje a Rigor— ambos expoentes da direita brasileira —, compartilharam o link. A blogueira recebeu, durante meses, ligações de homens raivosos e ameaças de morte.
O caso da blogueira levou à aprovação da Lei Lola, que atribui à Polícia Federal a investigação de crimes de ódio contra mulheres pela internet. A norma entrou em vigor em abril deste ano — mês em que Marcelo Mello voltou a ser preso, na Operação Bravata.
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