The Guardian conta como funciona a fábrica de ideias que financia grupos ultra-direitistas como o Movimento Brasil Livre (MBL)
Walter Atsushi Niyama, DCM
A coluna de George Monbiot no The Guardian abordou a questão de como o dinheiro longe dos olhares públicos pode ser prejudicial para as democracias e favorecer algumas pessoas ricas e empresas privadas. Isso para falar sobre os multimilionários irmãos Charles e David Koch, donos de um grande conglomerado industrial de commodities e a estratégia deles para financiarem seus interesses políticos:
“O chefe político dos Koch, Richard Flink, desenvolveu o que ele chamou de modelo de três estágios de mudança social. Universidades produziriam a “matéria-prima intelectual”. Think tanks (fábricas de ideias) transformaria essa matéria em “uma forma mais praticável ou utilizável”. E então grupos de ativistas poderiam pressionar pela implementação de mudanças políticas. Para esse fim, os Koch criaram organizações nessas três partes, como o Mercatus Center na universidade George Mason, o instituto Cato e o “grupo cidadão” Americans for Prosperity, Mas na maior parte do tempo eles investiam em organizações já existentes e que atendiam a seus interesses. Eles colocaram centenas de milhões de dólares em redes de departamentos acadêmicos, thinktanks, jornais e movimentos. E aparentemente estão tendo um notável sucesso.”
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“Até agora não há evidências de que Charles e David Koch estão fundando organizações no Reino Unido. Mas há algumas semanas um leitor me apontou para uma linha que ele encontrou em um formulário enviado para o governo dos EUA pela Charles Koch Foundation, que mostrava dinheiro transferido para uma companhia que parece ser o braço financeiro americano de uma organização britânica. Depois de entender seu significado, estabeleci uma colaboração com o grupo de investigação DeSmog UK. Nós mal podíamos acreditar no que estávamos vendo.
A organização que a Charles Koch Foundation escolheu para financiar é, à primeira vista, surpreendente: uma organização norte-americana criada por uma revista obscura sediada no Reino Unido e dirigida por ex-membros de um grupo dissidente trotskista. Alguns de seus principais colaboradores ainda se descrevem como marxistas ou bolcheviques. Mas quanto mais você olha, mais sentido as doações de Koch parecem fazer. O nome da revista é Spiked”.
A revista, editada por (Brendan) O’Neill, parece odiar a política de esquerda. Ele investe contra o estado de bem-estar social, contra regulamentação, o Occupy Movement, os anticapitalistas, Jeremy Corbyn, George Soros, #MeToo, “privilégio negro” e Black Lives Matter. Ele o faz em nome das “pessoas comuns”, que, afirma, são oprimidas pelas “elites culturais anti-Trump e anti-Brexit”, “elites feministas”, “elites verdes” e “políticos cosmopolitas”.
Sobre a relação da revista com pensamentos de Trotsky, Monbiot explica: “Spiked parece ter se lembrado de tudo o que Trotsky escreveu que poderia ser usado para a causa do capital corporativo e da extrema direita, e esqueceu todas as suas reflexões menos entusiasmadas sobre essas forças”.
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O colunista termina dizendo que: “É essa a extensão do envolvimento dos irmãos Koch com grupos baseados no Reino Unido? Quem sabe? Eu ainda não tive uma resposta da Charles Koch Foundation. Mas vejo esses pagamentos como parte de um padrão mais amplo de financiamento não divulgado. Democracia sem transparência não é democracia”.
PS: Em reportagem antiga, o The Guardian apontou indícios da ligação dos irmãos Koch com organizações de direita no Brasil, como o MBL. Para ler mais a respeito, clique aqui.
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