Deputado Alexandre Frota garante ter aval de Bolsonaro para levar adiante plano de sufocar a Globo. Projeto contará com o apoio de SBT, Record e RedeTV!
O deputado federal Alexandre Frota (PSL) anunciou, nesta terça-feira (8), em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, que se reunirá com os representantes da Record, SBT, RedeTV! e, possivelmente, da Band, para apresentar um projeto que tem como objetivo sufocara a Rede Globo.
A proposta de Frota tem o aval do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Trata-se de um esquema para acabar com um instrumento de negociação que garante o domínio da Globo no mercado da publicidade da TV aberta no Brasil.
“O projeto foi entregue a mim e a uma equipe de profissionais com autorização do Jair. Vou apresentar ao presidente e me reunirei com SBT, RedeTV!, TV Record e talvez a Band”, declarou Frota.
O deputado explica que a finalidade é acabar com a chamada Bonificação por Volume (BV), introduzido pela Globo nos anos 60, que paga comissão às agências de publicidade para ser escolhida como o principal meio de veiculação para os clientes (empresários), donos das maiores empresas do país.
Frota afirma que, no modelo atual, a Globo mantém sem domínio e se beneficia financeiramente diante de suas concorrentes. “Vamos buscar junto ao Parlamento brasileiro a questão do BV. Isso tem de deixar de existir”, declarou o deputado.
Na última segunda-feira (7), em declaração no Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro falou sobre o chamado ‘BV’. “Eu aprendi há pouco o que é isso e fiquei surpreso e até mesmo assustado”, disse o presidente, garantindo que as verbas publicitárias deixarão de privilegiar empresa A, B ou C.
No mesmo discurso em que atacou o BV, o presidente prometeu o fim do que chamou de “privilégio” na destinação de verbas publicitárias do governo federal para determinados órgãos de imprensa “que não sejam parciais”, e disse que “a imprensa livre é a garantia da nossa democracia”.
Bonificação por Volume (BV)
Jargão do mercado publicitário, a sigla BV se refere às expressões “bônus por volume” ou “bonificação por volume”. Em resumo, o mecanismo funciona da seguinte forma: quanto mais publicidade uma agência destina a um veículo durante um determinado período de tempo (um ano ou um semestre), maior será o BV pago por este veículo à agência.
Este tipo de pagamento leva agências a concentrarem anúncios em um mesmo veículo, mesmo que isso não atenda aos objetivos de comunicação do anunciante. Com isso, veículos menores, com menos caixa para pagar o bônus, receberiam menos anúncios. Por isso, a rede Globo seria uma das principais empresas afetada pela medida.
‘Suruba’
Em artigo, o jornalista Ricardo Ebling classificou como ‘suruba’ o mercado de publicidade oficial no Brasil:
Acho que a principal questão, o que desequilibra mesmo o jogo concorrencial entre os veículos, é uma sequência interligada de fatores:
1 – A venda casada de comerciais pela Globo e RBS, através de um jogo de pressão entre os veículos da “casa”. Esta chantagem junto aos anunciantes, públicos e privados, prejudica diretamente a todos, concentrando o bolo num só grupo.
2 – O “suborno virtuoso” chamado BV (bonificação de volume), criado e sustentado pela Globo. O BV é hoje, na prática, o lucro das agências de publicidade. Quem atrasa as faturas para a Globo, fica fora do BV. Tem agência que não recebe do cliente e se endivida na rede bancária para garantir ficha limpa na Globo. É uma prova cabal da dependência de todo um setor de apenas um veículo.
3 – A proibição da existência no Brasil (e só aqui) dos Birôs de Mídia, que criariam maior equilíbrio na compra e venda de espaços comerciais. Os birôs foram proibidos ainda no governo Fernando Henrique, quando estava se abrindo toda a economia para o mundo. Na ocasião, ao contrário do movimento geral, e da pregação em todos os veículos a favor do liberalismo, a mídia trafegou em sentido contrário, fechando o seu mercado para o mundo. Em síntese: os birôs compram a mídia no atacado e a revendem no varejo. Quebrariam na prática com o sistema de BV.
4 – Os descontos nas tabelas de preços praticados só pelos veículos mais necessitados e desesperados. A Globo não dá desconto. O restante, que reparte as migalhas, chega a praticar uma tabela desesperada de menos 80% dos valores de face.
Em vista do quadro sumariamente descrito, a grande mídia brasileira é uma aliança entre empresas quase quebradas e uma gigante que controla todo o fluxo de todas as verbas publicitárias. Mas este conjunto heterogêneo é unificado em torno de um discurso tão pobre quanto falso: o controle editorial ou censura da mídia.
Este notório desequilíbrio comercial deveria estar sendo tratado há muito tempo pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e pela SDE (Secretaria de Direito Econômico), da esfera do Ministério da Justiça. Trata-se de um escândalo de concorrência desleal, que leva à concentração monopolística. O CADE já atuou duro em outros setores, como cerveja, frango e creme dental.
Mas a briga pela regulação é levada pelos interessados para outras arenas, como o Congresso e o Ministério das Comunicações, onde a derrota é certa.
Há um grande veículo matando economicamente a concorrência, ao mesmo tempo em que enquadra todos na linha do ataque às ameaças de “censura à imprensa”. Abril, Diários Associados e o Estadão, por exemplo, estão morrendo mas defendem inflexíveis a “honra” do parceiro predador.
Na prática, o que ocorre no Brasil é uma outra jabuticaba, como em outros casos, sem precedentes nem similitudes internacionais. A concentração de propriedade horizontal e vertical e a papagaiada anti toda e qualquer organização mais ou menos esquerdizante é muito pouco perante o que acontece de fato no controle da distribuição das verbas publicitárias, públicas e privadas: 60% na mão de um só grupo, proporção impensável em qualquer país capitalista do mundo.
Uma linha de trabalho político a ser feito seria a de, pelo menos, atrapalhar a aliança mal sustentada dos adversários, que defendem teses abstratas e se deixam destruir no essencial do negócio: o econômico.
É uma suruba política entre seis ou sete envolvidos onde, no recinto, só um é ativo.
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