A arte de ter que relembrar o óbvio
Obviedade não tem partido, não está ligada à esquerda ou direita. Está relacionada ao bom senso, igualdade, direito e garantias fundamentais.
Lucien de Campos*, Pragmatismo Político
Infelizmente virou arte.
Está escrito nos muros, em cartazes, camisetas e músicas.
Parece óbvio relembrar que mulheres, trabalhadores, comunidade LGBT,
Indígenas e a população negra devem ter seus direitos respeitados.
Mas em tempos de ódio, a lógica se inverte.
O óbvio é ocultado, esquecido.
Relembrar a obviedade do bem-estar e sua importância numa sociedade democrática
É hoje um ato a ser condenado
Seja em praça pública ou no mundo virtual.
Em tempos de ódio, relembrar o óbvio também é passível de rótulos
Seu comunista! Petralha!
Ou até mesmo ‘credenciais de acesso a países estrangeiros’
Vai pra Cuba! Vai pra Venezuela!
Em tempos de ódio
A massa de manobra segue em direção contrária.
Nesse ambiente de idiotas tem de tudo:
Tem guru desafiando a ciência sem qualquer profundidade
Ator pornô querendo saber mais que Paulo Freire.
Obviedade não tem partido
Não está ligada à esquerda ou direita.
Está relacionada ao bom senso, igualdade, direito e garantias fundamentais.
Obviedade é a liberdade
Desperdício é o preconceito e opressão.
Em tempos de ódio, a obviedade é oprimida
Consequentemente desperdiçada.
A arte está no pensar, no fazer,
Na poesia, na mensagem, na metáfora.
Não é assim tão óbvia
Mas em tempos de ódio
Defende o óbvio.
Afinal, como disse Bertholt Brecht:
“Que tempos são estes em que temos que defender o óbvio?”
*Lucien de Campos é doutorando em Relações Internacionais pela Universidade de Lisboa e colaborador em Pragmatismo Político.