Bolsonaro tenta localizar médicos cubanos que ficaram no Brasil
Ao não conseguir preencher as vagas do programa Mais Médicos, Jair Bolsonaro corre atrás de profissionais cubanos que ficaram no Brasil. Depois de eleito, presidente disse que "expulsaria" os cubanos do Brasil
Após declarações ofensivas do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que levaram o governo de Cuba a chamar de volta mais de 8 mil médicos que atuavam no Brasil pelo programa Mais Médicos, o governo decidiu pedir ajuda aos cubanos.
A pediatra Mayra Pinheiro, que atua na pasta da Saúde de Bolsonaro, enviou mensagens amigáveis aos cubanos que ficaram no Brasil orientando que preencham formulários e participem de cursos preparatórios para submetê-los a uma prova, o Revalida.
Na mensagem, Mayra – que ganhou as manchetes da mídia nacional por hostilizar a chegada dos cubanos no governo Dilma – chama os cubanos de “colegas” e “irmãos” e afirma que o programa continuará com outro nome: “Mais Saúde”.
Depois da fala desastrosa de Bolsonaro, o então presidente Michel Temer (MDB) publicou editais para tentar preencher as vagas. Entretanto, diversos locais ainda sofrem com a ausência dos profissionais.
A adesão insuficiente em um primeiro edital fez com que o governo fizesse um segundo chamado. Prevendo buracos, o governo Bolsonaro – que chegou a dizer que iria “expulsar” os médicos cubanos – agora corre atrás dos profissionais que não voltaram para a ilha para tentar reintegrá-los ao programa.
Quadro atual
Inicialmente, foram abertas 8.517 vagas. No primeiro edital, restaram ser preenchidas 2.448, ou 28% do total. No segundo chamado, foram abertas 2.549 vagas em 1.197 municípios e 34 regiões indígenas.
1.707 profissionais registraram interesse e eles devem se apresentar nos locais de trabalho até quinta-feira (10).
Após este período, haverá uma reavaliação de quantas vagas ainda restarão. Então, brasileiros formados no exterior poderão manifestar interesse e, por fim, será a vez dos estrangeiros. Nessa última etapa entrariam os cubanos interessados.
Retorno
No dia 19 de novembro, menos de uma semana depois da decisão do governo de Cuba de romper sua participação no programa Mais Médicos e determinar a volta de seus profissionais à Ilha, o general Hamilton Mourão, vice-presidente de Jair Bolsonaro, arriscou um palpite, com uma pitada de ironia:
“Posso até ser leviano, mas acho que metade não volta, hein. Não sei, acho que eles gostam do nosso estilo de vida.”
Evidentemente, na declaração estava implícita a torcida do bolsonarismo de que um parcela considerável dos cubanos, diante da iminência de ter de trocar as maravilhas da democracia brasileira pelo retorno à ditadura caribenha, optariam por ficar por aqui. Passado pouco mais de um mês, não foi o que se viu.
Segundo a jornalista Mônica Bergamo em sua coluna na Folha, mais de 6 mil, dos 8 300 médicos cubanos que atuavam no programa, já retornaram a seu país, onde foram recebidos com festas pelas autoridades e pela população.
Outros 1 800, casados com brasileiros e brasileiras, decidiram permanecer no Brasil, devidamente autorizados pelo governo do presidente Miguel Diaz-Canel.