Ao revelar seus esquemas "para ficar bem consigo mesmo", ex-governador Sergio Cabral afirma, em depoimento, que corrupção na Saúde envolvia o arcebispo do Rio — que fez campanha para Bolsonaro pelos ‘valores cristãos’
Kiko Nogueira, DCM
O ex-governador do Rio Sérgio Cabral disse, em depoimento na terça, dia 26, que resolveu revelar seus esquemas de corrupção para ficar bem consigo mesmo.
Depois de dois anos e três meses preso, Cabral alegou ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal, que é um homem “muito mais aliviado”.
“Em nome da minha mulher, da minha família e da história, decidi falar a verdade”, mandou.
“Esse foi o meu erro de postura, de apego ao dinheiro, ao poder. Isso é um vício”.
Cabral é um pilantra e o arrependimento vale um ovo frito, mas o que ele contou a respeito de uma das figuras mais honoráveis do estado é curioso.
Segundo ele, o desvio de recursos na saúde pública envolvia religiosos. E não se fala aqui de evangélicos.
Citou o purpurado cardeal Dom Orani Tempesta, arcebispo da Arquidiocese do Rio.
“Não tenho dúvida de que deve ter havido esquema de propina com a O.S. da Igreja Católica, da Pró-Saúde. O dom Orani devia ter interesse nisso, com todo respeito ao dom Orani, mas ele tinha interesse nisso”, acusou.
“Tinha o dom Paulo, que era padre, e tinha interesse nisso. E o Sérgio Côrtes nomeou a pessoa que era o gestor do Hospital São Francisco. Essa Pró-Saúde certamente tinha esquema de recursos que envolvia religiosos. Não tenho a menor dúvida”.
Sem fins lucrativos, a entidade é uma das maiores em gestão de serviços de saúde e administração hospitalar do Brasil. Tem sob sua responsabilidade mais de 2.068 leitos e 16 mil profissionais.
Se Cabral está falando ou não a verdade, a Justiça deve responder (Deus, se existisse, teria mais o que fazer).
Vale lembrar que Tempesta era figurinha fácil nos convescotes dele e do prefeito Eduardo Paes.
Não são os únicos políticos que conheceu biblicamente.
Abraçou Jair Bolsonaro.
Em outubro, Jair encontrou-se com o eclesiástico para uma papagaiada moralista da campanha.
“Assumimos o compromisso em defesa da família, em defesa da inocência da criança, em defesa da liberdade das religiões, contrários ao aborto, contrários à legalização das drogas”, disse Bolsonaro ao lado do clérigo.
“Não queremos mais flertar com o desconhecido ou com aquilo que não deu certo em lugar nenhum do mundo”.
Como parte do teatro, assinou um documento vagabundo exaltando valores conservadores. No final da reunião, prestou-lhe continência.
Dom Orani nunca se manifestou sobre o rendez vous.
Uma foto viralizou: funcionárias da Arquidiocese com camisas da CBF posaram para as câmeras fazendo sinais de arminha diante de uma imagem de Jesus Cristo.
É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que uma delação premiada seja sugerida para santos como Dom Orani.
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