Filme que contesta a 'cura gay', 'Boy Erased' não vem para os cinemas do Brasil e ator americano acusa presidente brasileiro. Surgem questionamentos sobre censura à obra. Presidente Jair Bolsonaro diz não ter nada a ver com isso
RBA
Usando seu já tradicional sinal de positivo ao final da frase, o presidente Jair Bolsonaro manifestou-se via twitter, nesse domingo (3), contra as acusações de censura ao filme Boy Erased – Uma verdade anulada, que não será mais exibido no Brasil.
“Fui informado de que um ator americano está me acusando de censurar seu filme no Brasil. Mentira! Tenho mais o que fazer”, declarou o presidente.
Kevin McHale, que não atua no filme, mas na série Glee, é o responsável pela crítica. “É assim que começa, Boy Erased acabou de ser banido no Brasil. Bolsonaro é perigoso e é uma ameaça à comunidade LGBTQ+ no Brasil. Censurar um filme sobre os riscos da terapia de conversão é apenas o início. Eu te amo Brasil e vou lutar com vocês”, afirmou.
Segundo a Universal, o cancelamento deu-se “única e exclusivamente por uma questão comercial baseada no custo de campanha de lançamento versus estimativa de bilheteria nos cinemas”.
Para o ativista Mathew Shurka, a distribuidora deveria dar mais detalhes sobre o cancelamento. Fundador da organização Born Perfect, que trabalha contra a chamada “terapia de conversão”, Shurka atuou como consultor do longa. Para ele, a decisão pode abrir precedentes para outros filmes com temática LGBT não serem distribuídos por “razões comerciais”.
“Trabalhei de graça no filme, pois a própria produtora disse que ele foi feito para ‘salvar vidas’. Isso quer dizer que, por razões comerciais, a Universal não quer salvar vidas?”, questionou.
Verdade anulada
O filme é inspirado no livro de memórias escrito por Garrard Conley, que também se mostrou descontente nas redes sociais com o cancelamento de sua exibição no Brasil. “Boy Erased censurado no Brasil. Sentia que isso poderia acontecer e é muito triste que esse tipo de coisa esteja acontecendo num país tão maravilhoso.”
No filme, o ator Lucas Hedges vive o jovem Jared, que mora numa pequena cidade conservadora do Arkansas. Aos 19 anos, gay e filho de um pastor da igreja batista, é pressionado a participar de um programa de terapia para a “cura” da homossexualidade.
O pai é interpretado por Russell Crowe e a mãe, por Nicole Kidman. O diretor Joel Edgerton interpreta o profissional responsável pelo tratamento.
Lançado em 2 de novembro nos EUA, a obra teria arrecadado cerca de US$ 8 milhões, valor considerado baixo, o que teria afetado o lançamento em outros países. Segundo a Universal, em data a ser divulgada o filme será lançado via streaming.
A editora Intrínseca, que tinha como previsão inicial de lançamento a data de dia 31 de janeiro, distribuiu às livrarias uma versão do livro Boy Erased com uma sobrecapa ilustrada pelos personagens do filme.
Trailer:
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