Youtuber diz que recebeu telefonema de Sabrina "aos prantos" antes do suicídio
"Tentei o que pude, mas Sabrina não aguentava mais a luta". Maior youtuber brasileiro revela diálogo por telefone com Sabrina Bittencourt horas antes de ela cometer suicídio. Amiga fala sobre última conversa
O youtuber Felipe Neto, que acumula mais de 30 milhões de inscritos em seu canal, revelou neste domingo (3) que conversou com Sabrina Bittencourt horas antes de ela cometer suicídio.
Em desabafo emocionado, Felipe Neto escreveu um longo texto no qual relata sua dor em perder uma amiga. “A maior ativista do Brasil, Sabrina Bittencourt me ligou ontem aos prantos por não aguentar mais a dor e a pressão das ameaças de assassinos que a perseguiam pelo mundo”, escreveu Felipe em seu Instagram.
“Ela denunciou o esquema do João de Deus e o colocou na cadeia. Denunciou e acabou com Prem Baba. Passou 20 anos trabalhando para ajudar jovens e mulheres vítimas de abusos pelo mundo. Ontem, após uma de suas testemunhas protegidas ter o abrigo invadido em Londres por matadores de aluguel, Sabrina me ligou sem saber mais o que fazer. Ela só queria ajudar, mas o mal guiado por milicianos, políticos no poder nesse momento e líderes religiosos poderosos, conseguiu vencer”, continuou o jovem.
O comunicador lembra que Bittencourt não deixou apenas um legado de batalhas contra “líderes religiosos abusadores e chefes de quadrilhas de assassinatos, tráfico de crianças e sequestros”, mas “pistas, testemunhas e cartas nas mãos da Justiça”. Além disso, ele detalha um pouca da constante perseguição sofrida por Sabrina.
“Ela mudava de país clandestinamente toda semana para fugir dos que a queriam morta. Há uma semana, um sujeito começou uma campanha para destruir a reputação de Sabrina, alegando que seria viciada em drogas e esquizofrênica e por isso nenhuma de suas denúncias deveria ser levada a sério. Seus filhos tinham que fugir constantemente de matadores”, explicou Felipe.
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Por fim, Felipe Neto é categórico ao pedir: “Procurem saber quem foi Sabrina Bittencourt, quem ela botou atrás das grades e quem ela estava denunciando antes de morrer”.
Conversa com amiga
Vana Lopes, fundadora do grupo “Vítimas Unidas”, confirmou a morte da amiga. “Protejam a memória de Sabrina”, pediu Lopes, que conta que os homens denunciados por elas se uniram para realizar uma campanha de difamação contra Bittencourt. “Ela me falou na tarde de sábado que estava cansada.”
Sob efeito de medicação para dormir e ainda com receio de falar com a imprensa, Lopes disse que também sofre constantes ameaças. “Tem um pessoal dizendo que sou assassina, incitando as pessoas a me odiarem. A pressão vem inclusive de advogados desses monstros.”
Tudo teria piorado, contou Lopes, quando o grupo lançou um aplicativo. “Passamos a receber muito mais denúncias”, disse ela, uma das vítimas do médico Roger Abdelmassih.
Para ela, Bittencourt teria sido forte para ajudar outras vítimas, mas não a si mesma. “Ela ajudou pessoas, mas, quando era para se ajudar, ficava tudo difícil. É uma quadrilha muito grande atrás de todas essas ameaças. Os abusadores se juntaram para destruir a Sabrina”, reforçou.
Sabrina Bittencourt é a ativista responsável por desmascarar João de Deus no final do ano passado, quando reuniu dezenas de vítimas de abuso sexual.
Ela encaminhou os relatos ao Ministério Público de Goiás e à Polícia Civil. Sob pressão de pessoas ligadas ao religioso, preso em Goiás, Bittencourt denunciava as ameaças que sofria, motivo que fez com que ela saísse do Brasil.