O Brasil que ignora e rejeita os cientistas brasileiros
Felipe Fernandes, via Facebook
Ontem participei de uma matéria publicada no G1, na qual os resultados que obtive em uma de minhas pesquisas foram utilizados para contrapor afirmações feitas por pesquisadores de Harvard. As respostas dadas pelos leitores revelam um cenário que precisa ser urgentemente tratado pela comunidade acadêmica se queremos continuar a fazer pesquisa no país.
Mesmo em meio a onda nacionalista pela qual estamos passando, as pessoas ao invés de se sentirem orgulhosas pela ciência produzida no país (com o fruto de seus impostos) se mostraram extremamente desconfiantes e trataram com chacota o fato de um “pesquisador brasileiro” apresentar os resultados de sua pesquisa.
Estes comentários revelam um distanciamento entre o cientista e o restante da população, que só pode trazer mal para a sociedade em que vivemos. É apenas através do trabalho dos cientistas que podemos nos estabelecer como nação soberana e promover o desenvolvimento tecnológico do qual a população como um todo irá se beneficiar.
Aqui no Brasil, o cientista do exterior é visto como arrogante, porém inteligente, e as pessoas tendem a confiar no que eles dizem apenas pelo status que possuem.
Já a imagem que se tem do cientista brasileiro é bastante diferente, mantém-se apenas o adjetivo de “arrogante”, e somam a ele “despreparado”, “inexperiente”, “burro” e até “maconheiro (?)”. Ignoram complemente (ou nem imaginam) as mais de 10 horas diárias, incluindo domingos, que costumamos dedicar à pesquisa, usualmente feita sob condições extremamente precárias se comparado aos pesquisadores do exterior, e ignoram os resultados que conseguimos produzir mesmo diante de tais condições.
Mas não podemos nos enganar, a culpa deste distanciamento é nossa. Mesmo na era da informação, onde praticamente todo brasileiro tem acesso à internet, a distância entre produção do conhecimento e absorção deste pela população é abissal. Vivemos reféns de índices de produtividade que nos forçam a produzir desenfreadamente e ignoram completamente o retorno que nossa pesquisa gera para o restante da população. E pagaremos muito caro por isso se mantivermos este tipo de comportamento.
Diante deste cenário desolador, faço um apelo aos meus colegas cientistas: dediquem uma parte do tempo de vocês, por menor que seja, para mostrar pra população que existe pesquisa sendo realizada no Brasil, que essa pesquisa é feita com altíssima qualidade, e que ela é importante para o futuro do nosso país.
Se não conseguirmos reverter a opinião pública, e frear os cortes que sucateiam cada vez mais os nossos recursos, os índices de produtividade que temos não irão significar absolutamente nada e a pesquisa livre e pioneira, tal qual nos a conhecemos, irá acabar.
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