A morte de um cachorro no Carrefour gerou mais indignação que a do jovem negro estrangulado no supermercado Extra. A cena do assassinato é dantesca
Kiko Nogueira, DCM
A cena é dantesca.
Um jovem morreu após ser estrangulado por um segurança do hipermercado Extra na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na tarde de quinta-feira, dia 14.
A alegação é a de que Pedro Henrique Gonzaga, de 19 anos, teria tentado roubar a arma do homem, segundo O Dia.
O segurança Davi Ricardo Moreira foi preso, mas já saiu na madrugada desta sexta da Delegacia de Homicídios.
Vai responder em liberdade.
Pedro foi imobilizado em um “mata-leão”. Deveria ter sido solto quando ficou inconsciente.
O predador largou sua presa quando era tarde demais.
Tudo foi filmado.
“Está desmaiado, não está não?”, pergunta alguém.
“Está sufocando ele”, diz uma mulher.
“Ele está com a mão roxa”, afirma outra.
Todos obedecem quando lhes é ordenado que calem a boca.
Ninguém faz nada.
O vídeo vai ganhar likes nas redes sociais.
Pedro morreu no hospital após uma parada cardiorrespiratória. O supermercado emitiu uma nota protocolar, afirmando que os funcionários foram afastados.
Mais um que virou estatística. Bandido bom é bandido morto.
Foi sob violenta emoção, certo, doutor Moro? Talquei?
A comoção durou algumas horas e amanhã ninguém se lembrará de mais nada.
Um cachorro abatido a pauladas no Carrefour de Osasco gerou uma onda de indignação no país durante semanas, mobilizando anônimos e famosos.
Páginas e páginas no Facebook homenagearam o cão. Nenhuma será feita para exigir justiça a Pedro.
Antes que você me acuse de odiar os animais: estou fazendo apenas uma constatação.
Olhe à sua volta.
É a vida como ela é. Nada de novo sob o sol.
Pobres de nós.
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