Homem que torturou e estuprou a esposa e a enteada durante 8 anos é exonerado da prefeitura de Camaçari. Eva Luana abortou diversas vezes, procurou ajuda, foi ameaçada e tentou o suicídio. Ela e a mãe eram obrigadas a tomar o próprio vômito como punição
Thiago Oliveira Alves, 37 anos, foi indiciado na última semana pelos crimes de estupro de vulnerável, tortura e violência contra a mulher.
Ele estava preso na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Camaçari desde o dia 13 de fevereiro e, na quinta-feira (21) foi encaminhado para para o Centro de Observação Penal de Salvador.
O homem estuprou e torturou a enteada e a esposa durante oito anos. O caso ganhou repercussão nacional após as denúncias no Instagram da enteada, Eva Luana da Silva.
Eva, que hoje está com 21 anos, tentou denunciar Thiago quando os primeiros abusos começaram, há oito anos. Na época, ela tinha 13 anos e, após as primeiras denúncias, foi obrigada a retirar as acusações depois que o padrasto ameaçou matá-las.
“Quando eu fiz 13 anos, denunciei. Nessa denúncia, eu tinha certeza que seria salva por todos. Mas não foi isso que aconteceu […] O meu caso não chegou nem ao Ministério Público. Fui obrigada a retirar a queixa por ameaças do meu padrasto. Ele utilizou o poder financeiro pra comprar a liberdade e comprar a minha alma. Porque ali eu perdi a minha alma. E o que eu fui denunciar, 1 ano de sofrimento, se multiplicou em mais 8 anos”, lembra a jovem.
Thiago Oliveira Alves nasceu em São Paulo, onde já tinha sido preso por roubo de carro. Na Bahia, o homem se tornou estudante de Direito e assessor de uma secretaria municipal de Camaçari. A sua exoneração do cargo foi anunciada nesta sexta-feira (22).
A investigação
Para investigar o caso, o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) chegou a designar seis promotoras para atuar na análise do inquérito – uma delas é Anna Karina Senna, substituta na 10ª Promotoria de Justiça de Camaçari.
No dia 31 de janeiro, após Eva ter feito a denúncia, a Justiça concedeu uma medida protetiva para que Thiago não se aproximasse dela e nem da mãe e da irmã. O homem, então, foi obrigado a sair de casa e alugar uma casa para morar.
Eva conta, no entanto, que, antes de ser preso, ele descumpriu a medida que o obrigava a ficar distante das vítimas por, no mínimo, 300 metros. A jovem conta que ele foi até a casa dela e destruiu provas, antes do cumprimento de um mandado de busca e apreensão.
“Ele foi na minha casa. Quando a gente foi com a polícia lá, para pegar as provas, meu guarda-roupa estava todo revirado. Ele conseguiu desfazer todas as provas. Conseguiu quebrar a bateria do celular dele inteira. Quebrou o celular dele no meio. Quebrou meu guarda-roupa procurando papéis dele, documentos. As malas dele, bolsas dele”, disse a jovem.
“Ele ficou acompanhando o inquérito e teve notícia de que haveria uma busca e apreensão na casa onde morava com a família. Foi lá antes e destruiu provas, quebrou celular, chip. Inclusive, ele trocou o segredo da fechadura”, afirmou Maria Cristina Carneiro, advogada de Eva.
Nesta quinta-feira (21), a advogada contou que Eva Luana está se sentindo mais segura, por conta da grande quantidade de manifestações de apoio e da repercussão nacional do caso.
A estudante ainda não retornou às atividades de sua rotina – como as aulas no curso de Direito e o estágio no Fórum de Camaçari. “Ela está fazendo atividades domiciliares por enquanto. Estamos agilizando de modo que ela possa fazer tudo em casa, porque não é recomendado voltar ainda. Por enquanto, ela não tem previsão de voltar”, relatou a advogada.
Tortura e estupro
Após a tentativa frustrada de levar o padrasto para a cadeia, quando tinha 13 anos, a jovem disse que os abusos, torturas e agressões aumentaram. O pai biológico não conviveu com ela e a mãe.
“As agressões eram verbais, físicas e psicológicas. Entre elas comer muito, em tempo estipulado. Isso aconteceu com uma pizza família, pra comer inteira em 10 minutos. Óbvio que não conseguimos. Também tomar 2 litros de refrigerante nesses 10 minutos. Eu levei socos no rosto, e ele não me deixava me proteger com a mão […] Chutes até cair no chão e, de quatro, ele enfiou as pizzas na minha boca, me chamando de animal. Eu vomitei e comi meu próprio vômito. Meu gato comeu um pedaço e lambeu outro, ele me obrigou a comer o que ele havia lambido”.
“Tentei me suicidar várias vezes com cortes e remédios. Eu contei a verdade pois não aguentava mais. […] Ele me agredia nos estupros. Eu era usada como um lixo. Já abortei diversas vezes. Nunca pude ir ao médico pra fazer curetagem. Todas as vezes sangrava e passava mal a noite inteira. Já vi os bebês inteiros no vaso sanitário. Eu era chamada de burra, anta, doente, demente todos os dias, e era obrigada a repetir isso pra mim mesma”
“Ele é um monstro. Perdi minha infância e adolescência. Me sentia um lixo por não ter forças pra pedir ajuda e por sentir tanto medo”
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