Sangue dourado: irmãs brasileiras possuem tipo sanguíneo mais raro do mundo
O “sangue dourado” foi detectado pela primeira vez em 1961, em uma mulher australiana. Até hoje, no mundo inteiro, só foram cadastrados 43 portadores desse tipo sanguíneo. Nesse grupo, há duas brasileiras que são irmãs
Paula Filizola, Metrópoles
Considerado o tipo sanguíneo mais raro do mundo, o Rh nulo ainda é pouco conhecido da maioria das pessoas. Foi detectado pela primeira vez em 1961, em uma mulher australiana. Até hoje, no mundo inteiro, só foram cadastrados 43 portadores desse tipo sanguíneo. Nesse grupo, há duas brasileiras que são irmãs. Uma mora no Rio de Janeiro e a outra, em Juiz de Fora, Minas Gerais.
Por ser extremamente difícil de achar, o Rh nulo é apelidado de “sangue dourado”. É hereditário e serve de doador para todos os outros, desde que seja respeitada a compatibilidade do sistema ABO. Para quem não se lembra das aulas de biologia, o sistema sanguíneo tem fenótipos que são A, B, AB ou O, e segue a seguinte lógica: A recebe de A e O, B de B e O, AB de A, B, AB e O, e O, apenas dele mesmo. O Rh entra como um complemento nessa combinação e costuma ser positivo ou negativo. No caso das irmãs brasileiras, ele é nulo.
As doadoras brasileiras são monitoradas de perto pela equipe do Cadastro Nacional de Sangue Raro (CNSR), do Ministério da Saúde, que centraliza as informações de doadores raros registrados nos hemocentros públicos do país. Tanto a portadora do RJ quanto a de MG já doaram sangue em mais de uma ocasião. Uma das doações ocorreu em 2017, para salvar a vida de uma criança de 5 anos do Piauí que sofre com uma doença rara, a osteopetrose. As informações detalhadas sobre as doadoras, no entanto, são sigilosas.
“Desde que respeite a compatibilidade do sistema ABO, qualquer pessoa, seja negativo ou positivo, pode receber o tipo sanguíneo Rh nulo”, esclarece Bruno de Abreu Castro, biomédico e imuno-hematologista. “No entanto, apesar da compatibilidade, ninguém usa esse sangue para demandas comuns, pois pouquíssimas pessoas o possuem”, explica.
Quando não se encontra o sangue específico para a transfusão, é preferível usar o sangue O negativo, conhecido como doador universal. Como seus glóbulos vermelhos não têm antígenos A, B nem Rh, o sangue O negativo pode mesclar-se com outro tipo sem ser rechaçado como agente estranho.
Saber exatamente o tipo sanguíneo de cada pessoa é essencial em momentos de transfusão. Se uma pessoa for Rh negativo e receber sangue de um doador Rh positivo, seus anticorpos vão reagir ao detectar células incompatíveis com seu sangue. Em alguns casos, isso pode ser fatal.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que o cadastro de doadores raros “tem colaborado com a melhoria do atendimento às demandas de sangue raro, aumentando a segurança transfusional, uma vez que facilita a busca e aumenta as chances de se encontrar um doador compatível”.
Estrutura das hemácias
Segundo o biomédico imuno-hematologista Bruno de Abreu Castro, indivíduos com Rh nulo precisam de acompanhamento frequente, pois a tendência é que eles desenvolvam anemia por causa da fragilidade da estrutura das suas hemácias, que têm uma sobrevida menor se comparadas às de indivíduos com fatores Rh normais. A característica desse tipo sanguíneo faz com que o processo de congelamento de hemácias seja incentivado para servir de autorreserva ao longo da vida ou para atender casos urgentes de transfusão.
Para Samila Santana, hematologista da Fundação Hemominas, é fundamental investir em um banco de hemácias raras congeladas, já que as não congeladas duram apenas 42 dias.
“É um processo cheio de delicadezas. Hoje, se precisamos de uma bolsa de sangue Rh nulo, temos que convocar a doadora conhecida”, explica.
No entanto, segundo a especialista, pela condição rara do sangue, caso aconteça de a doadora estar com anemia, é preciso ter uma garantia em estoque.
Atualmente, cada estado tem desenvolvido programas próprios para armazenamento de hemácias, bem como cadastros mais apurados para aprimorar a identificação de fenótipos em larga escala. Samila acredita que, com a melhoria no diagnóstico, será possível investigar e catalogar mais pessoas com tipos sanguíneos raros.
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