Sergio Moro, Jair Bolsonaro e o fenômeno das convicções perdidas
Quando finalmente Sergio Moro e Jair Bolsonaro são postos a provar as convicções que diziam sustentar, fica evidente que tudo jamais passou de meras aparências para encobrir realidades bem menos democráticas e republicanas
Carlos Fernandes, DCM
Foi com o inevitável estardalhaço que o presidente Jair Bolsonaro se desencastelou de seus aposentos para ir ao Congresso Nacional entregar pessoalmente a sua proposta para a tão alardeada reforma da previdência.
Cercado pelo supra suma da nova/velha elite da política nacional, a foto oficial que marcou o momento do repasse do documento das mãos do chefe do executivo nacional para o presidente da Câmara dos Deputados, refletiu a histórica tragédia de um país subequatoriano cujos destinos teimam em ser reiteradamente definidos por gente que jamais compreendeu os dramas e sofrimentos de sua população real.
Com um projeto ainda pior do que o apresentado pelo seu antecessor ilegítimo, Michel Temer, Bolsonaro impôs a sua marca indelével de machismo e sadismo no tema punindo especialmente mulheres e idosos.
O fato de Alexandre Frota encontrar-se ao fundo da imagem com a sua conhecida expressão de garoto pornô na iminência de cometer algum ato de violência sexual deu o ar simbólico e subliminar da coisa.
Quando de suas esperadas palavras à nação, o homem que se aposentou aos 33 anos apelou para o velho, cínico e esgarçado chamamento ao patriotismo dos brasileiros, exigindo que o povo, por mais uma vez, compreendesse e contribuísse com mais uma parcela de suor e sacrifício.
Mas o curioso mesmo na sua fala é quando admitiu ter errado no passado ao votar contra as mudanças nas regras da aposentadoria.
Apenas para lembrarmos, faz muito pouco tempo que o mesmo Jair Bolsonaro era um ferrenho crítico da reforma da previdência chegando a afirmar inúmeras vezes que obrigar o trabalhador a se aposentar aos 65 anos era “um crime”, “uma falta de humanidade”.
É evidente que por esses dias o já velho Bolsonaro não passava de apenas mais um demagogo a entulhar o baixo clero da Câmara em busca de holofotes e algum respaldo popular.
Agora uma vez presidente, já não pode se esconder em discursos humanistas que nada conduzem com a sua história uma vez que se vê obrigado a tomar posição clara e definitiva na eterna dicotomia entre patrões e proletários.
A opção, obviamente, se dá em favor dos patrões, como, verdade seja dita, sempre se deu.
O fato é que esse tipo de discurso demagógico não é em absoluto qualquer novidade na política brasileira e é utilizado à exaustão até por quem jurava a bem pouco tempo atrás não possuir qualquer interesse por entrar nessa seara.
Vejamos o didático caso do ex-juiz Sérgio Moro.
O cidadão que se arvorava na luta paladina contra a corrupção e que se apavonava nos quatro cantos do mundo afirmando ser o Caixa 2 um crime ainda pior do que a própria corrupção, hoje sussurra quase miando que o mesmo Caixa 2 é um crime menor e que não merece qualquer urgência no seu combate.
Não é que, a exemplo de seu chefe, tenha mudado repentinamente de opinião. O fato é que a verdadeira face de um homem é mostrada quando frio e definitivamente confrontado a defender seus reais valores ou, como é o caso, a sua falta.
Da mesma forma que Bolsonaro jamais se preocupou com os idosos pobres e normalmente abandonados pelo Estado desse país, Moro em momento algum quis combater a corrupção endêmica dessa nação.
Ambos, descaradamente, sempre moldaram seus discursos à medida exata de suas necessidades.
Agora, quando realmente são postos a provar as convicções que diziam sustentar, é que resta cristalino que tudo jamais passou de meras aparências a encobrir realidades bem menos democráticas e republicanas.
Como se vê, Jair Bolsonaro e Sérgio Moro provam, por eles próprios, que nenhum país estará a salvo de seus supostos e autoproclamados salvadores.
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