Texto da atriz Maria Flor sobre os três anos de namoro com o ator Jonathan Haagensen estimula reflexão e é uma das melhores coisas que você vai ler na internet nesta semana
No último final de semana, a atriz Maria Flor publicou em seu Instagram um texto que trata de amor, afeto e privilégio branco.
A atriz traz uma reflexão sobre quando ela passou a entender o racismo enquanto namorava o também ator Jonathan Haagensen, famoso pelo longa “Cidade de Deus”.
“O Jonathan morava e ainda mora no vidigal. Ele é negro, eu sou branca. A gente se conheceu em um filme e se apaixonou. Isso não tinha nada a ver com a nossa cor. E lá atrás, eu com 19 e ele com 20 anos, a gente não pensou sobre isso”, escreveu a atriz no início do seu relato.
Maria Flor contou como foi notando o racismo enfrentado por Jonathan e o estranhamento que a relação dos dois causava. A publicações viralizou nas redes sociais, e é uma das melhores coisas você irá ler nesta semana.
Confira a íntegra abaixo:
Durante três anos eu namorei o ator @jonathanhaagensen. O Jonathan morava e ainda mora no vidigal. Ele é negro, eu sou branca.
A gente se conheceu em um filme e se apaixonou.
Isso não tinha nada a ver com a nossa cor.
E lá atrás, eu com 19 e ele com 20 anos, a gente não pensou sobre isso.
Mas estava lá, o tempo todo estava lá. E a gente foi percebendo que não era normal a gente junto em um restaurante, que não era comum a gente fazendo compras no mercado, que não era tranquilo ele dirigir o carro porque seríamos parados na blitz se ele estivesse dirigindo e não eu.
Eu lembro de um dia que fomos parados na entrada do Vidigal por policiais.
Jonathan disse que era morador, mas os policiais mandaram ele descer do carro e começaram a revistá-lo.
Aquilo era humilhante.
Eu na minha jovem arrogância desci do carro e gritei com o policial. E perguntei indignada o que ele estava fazendo.
O Jonathan pediu para eu parar, mas eu gritei e perdi a mão. E o policial nos levou para a delegacia por desacato.
Eu nunca vou esquecer o rosto do Jonathan indo para a delegacia. Tudo que ele tinha passado a vida evitando eu tinha feito acontecer por um capricho meu, por não olhar para tudo a minha volta e perceber que a coisa era muito mais grave. Que abaixar a cabeça tinha sido a realidade dele e eu achei que poderia salvá-lo disso.
Eu, branca, garota da zona sul do Rio de Janeiro, achei que podia fazer justiça. Mas não, eu não podia, e eu só fiz ele passar por uma humilhação que eu jamais entenderia. Jamais.
E mesmo tendo visto e vivido a experiência de ser olhada nos lugares por estar de mãos dadas com um negro, eu jamais entenderei.
E sim, temos que olhar para o lado e perceber que a não existência de um negro na escola do nosso filho não é normal, que não ter um negro no cinema ao nosso lado não é normal, não ter um negro num restaurante não é normal, não ter um negro no ambiente de trabalho não é normal.
E não pensamos nisso. Não percebemos nosso próprio descaso diário. E não percebemos o racismo estrutural que existe em nós.
Hoje eu acho que nosso namoro terminou pela nossa incapacidade de perceber essa gigante distância social que existe na cor da nossa pele.
Siga-nos no Instagram | Twitter | Facebook