Analista de Sistemas condenado a 41 anos de prisão inspirou assassinos do massacre em Suzano. Marcelo Valle, que já planejou atentado na UnB, é criador da moeda virtual BolsoCoin, vendida como a primeira criptomoeda “da direita alternativa e neonazista do Brasil”
Saulo Araújo, Metropóles
Os autores do massacre desta quarta-feira (13/3), que teve 10 mortos e ao menos 23 feridos em Suzano (SP), pegaram dicas de ataque em massa numa página virtual criada pelo hacker Marcelo Valle Silveira Mello (foto em destaque), preso em 2012 pela Polícia Federal, acusado de planejar um atentado a estudantes da Universidade de Brasília (UnB).
Relembre:
2012: Blogueiro e amigo racista, homofóbico e anticomunista são preso pela Polícia Federal
2012: Internauta preso por racismo e homofobia já havia espancado a própria mãe
2015: Eles defendem a “legalização do estupro e da pedofilia” e continuam impunes
2018: Analista que defende pedofilia e assassinato de gays é preso em Curitiba
De acordo com os investigadores, os responsáveis pela tragédia na Escola Estadual Raul Brasil – Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25 – faziam visitas constantes ao fórum Dogolochan, idealizado por Valle há cerca de uma década.
Em 2018, Marcelo Valle foi condenado a 41 anos, 6 meses e 20 dias de prisão, pelos crimes de racismo, ameaça, incitação ao crime e terrorismo por meio da internet.
Seis dias antes de entrarem atirando em inocentes no colégio localizado no interior de São Paulo, Guilherme e Luiz Henrique publicaram sobre o ataque no Dogolochan. Eles supostamente agradeceram a ajuda de outros membros e deixaram rastros para avisar internautas sobre o crime.
Um print mostra o que pode ser um dos atiradores agradecendo DPR, o administrador do Dogolachan, pelos conselhos recebidos.
“Muito obrigado pelos conselhos e orientações, DPR. Esperamos do fundo dos nossos corações não cometer esse ato em vão. […] Nascemos falhos, mas partiremos como heróis. […] Ficamos espantados com a qualidade, digna de filmes de Hollywood”, diz a mensagem.
Outros usuários questionaram se os atiradores eram integrantes do grupo, e a resposta dada por um dos administradores foi positiva.
Veja: Atiradores de Suzano viram heróis em fórum brasileiro de extremistas
O fórum extremista é conhecido como um local onde a prática de crimes é abertamente discutida. Tópicos abertos mostram que os dois homicidas pediram dicas de como realizar a barbárie.
Ódio às minorias
Marcelo Valle, que é analista de sistemas, havia sido preso durante a Operação Bravata, da Polícia Federal. Os agentes da PF apreenderam com ele um mapa de certa casa de festas no Lago Sul, onde ocorreria uma confraternização de estudantes de ciências sociais da UnB. Por esse delito, ficou detido por 1 ano e 6 meses.
Ao ganhar o direito de cumprir o restante da pena solto, voltou a criar páginas anônimas para atacar e ameaçar mulheres, negros e homossexuais. Uma delas ensinava como cometer estupros. Além disso, ele costumava denunciar às autoridades postagens anônimas produzidas por ele mesmo, a fim de tentar se manter longe de suspeitas.
Valle também foi condenado a pagar R$ 1 milhão a título de reparação de danos e ao pagamento de 678 dias-multa. A quantia será destinada a programas educativos e de combate aos crimes cibernéticos.
BolsoCoin
Em janeiro de 2018, antes de ser preso pela PF, ele voltou a aparecer em noticiários ao criar a moeda virtual BolsoCoin. Oferecida e divulgada em cantos pouco conhecidos da internet, a invenção é uma criptomoeda vendida por seus criadores como a primeira “da direita alternativa e neonazista do Brasil”.
A BolsoCoin é uma das milhares de criptomoedas existentes hoje no mundo. A modalidade é uma espécie de dinheiro virtual que utiliza criptografia para garantir mais segurança em transações financeiras na internet e a fim de criar novas unidades da moeda, como num investimento. A transferência de valores é feita de um usuário a outro, sem a interferência de instituições bancárias.
Agora, o nome de Marcelo Valle volta ao noticiário com a tragédia que comoveu o país.
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