Budweiser recria para 2019 seus anúncios machistas dos anos 50. Até anúncios onde um homem bate em uma mulher ou a usa como tapete de sala eram veiculados na chamada "era de ouro da publicidade"
A era de ouro da publicidade nos Estados Unidos, nos anos 1950, pavimentou o caminho do marketing nas décadas seguintes e se tornou icônica por revolucionar o modo como um produto era vendido aos consumidores. São dessa época aqueles famosos anúncios com ilustrações de homens e mulheres em seus lares no melhor estilo “american way of life” – estilo de ilustração que depois seria cooptado pela Pop Art de Andy Warhol e Roy Lichtenstein.
O problema é que os anos 1950 e 1960 da publicidade foram extremamente machistas, reproduzindo tipicamente o que era a sociedade daquele tempo. De frases como “Até uma mulher pode abrir isso?” até anúncios onde um homem bate em uma mulher ou a usa como tapete de sala, a publicidade vigente mostrava uma mulher submissa ao marido, obrigada a agradá-lo incondicionalmente entre suas inúmeras atribuições domésticas.
Essa época da publicidade, inclusive, foi belamente retratada na série de TV Mad Men (2007-2015), onde os “mad men” (os publicitários da Madison Avenue, em Nova York) criavam uma campanha genial atrás da outra entre um gole de uísque, uma tragada no cigarro sem filtro e um assédio sexual contra uma secretária. A série, apesar de mostrar personagens masculinos em atitudes machistas, também constrói personagens femininas fortes e “modernas”, que rejeitam os discursos sexistas e abraçam as tendências feministas que encontrariam seu auge no final dos anos 1960.
A fabricante de cerveja Budweiser não ficou de fora da tendência sexistas dos anos 1950 e criou muitos anúncios que, aos olhos de 2019, se tornaram anacrônicos e ofensivos. Mas, para a marca, parece que nunca é tarde para corrigir os erros do passado. A Budweiser, em parceria com a campanha #SeeHer (que luta pela representação adequada da mulher na publicidade), decidiu refazer as suas campanhas dos anos 1950, redesenhando anúncios e reescrevendo as frases de efeito.
Coisa similar fez a Skol por aqui, em 2018. A marca reconheceu que havia participado da onda dos anos 1990 no Brasil de campanhas de cerveja onde sempre havia uma mulher seminua e disponível servindo cerveja a homens salivantes e decidiu recriar suas campanhas, dessa vez chamando artistas mulheres.
A noção chegou para a maioria anos depois, embora algumas marcas brasileiras, em anos recentes, ainda tenham se valido da fórmula fácil e ofensiva de colocar a “gostosa” oferecendo cerveja a homens.
Nas recriações da Budweiser, os cartazes onde apenas o homem bebia cerveja e a mulher estava ali para servi-lo integralmente foram recompostos na visão das artistas Heather Landis, Nicole Evans e Dena Cooper. Equidade e independência no lugar do machismo e da objetificação.
Com a campanha, a marca tenta abordar temas contemporâneos e trazer seu nome para o presente, em uma época de concorrência pesada, onde atrair os consumidores da nova geração é fundamental. Nos Estados Unidos, a marca Budweiser caiu para quarto lugar entre as cervejas mais populares – já chegou a ser a primeira. É a primeira vez desde os anos 1970 que não está no top 3. Atualmente, sua “prima” Bud Light ocupa a primeira colocação, seguida por Coors Light e Miller Lite.
Confira os cartazes modificados e atualizados para 2019:
1. Anúncio de 1956
O anúncio original falava que a mulher havia casado com “dois homens” porque o marido sempre tem um “eu interior” e que uma maneira de agradá-lo era com uma Budweiser. Na imagem, o marido chega de viagem enquanto ela espera com uma grinalda. Na recriação de 2019, o anúncio diz “Ela descobriu que tem tudo”. Esperando por ela, três amigas no bar. Afinal, nem tudo se resume a casamento.
2. Anúncio de 1958
Nesse caso, a frase foi mantida: “Onde há vida, há Bud”. A diferença crucial está na imagem.
Enquanto a vida com Budweiser nos anos 1950 era restrita ao homem (enquanto ele martela, a esposa serve a gelada), em 2019 a coisa é mais simples: o casal curte a cerveja junto.
3. Anúncio de 1962
Nessa recriação, a mulher que espera o marido em casa com o jantar pronto se transforma em uma mulher que é feliz, também, solteira. Uma cerveja para ela, uma comida chinesa delivery e um cachorro fofo.
Leia também:
Experimento da Heineken coloca frente a frente pessoas com visões opostas de mundo
Os melhores comerciais contra a homofobia da história
O comercial que quebra todos os tabus sobre menstruação
O Boticário rebate boicote de evangélicos e conservadores com posicionamento firme
Os 10 comerciais mais preconceituosos dos últimos meses
Publicidade com crianças em poses “adultizadas” gera revolta
Guilherme Dearo, Exame
Siga-nos no Instagram | Twitter | Facebook