Redação Pragmatismo
Rio de Janeiro 13/Mar/2019 às 10:52 COMENTÁRIOS
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Delegado do caso Marielle que citou Bolsonaro será afastado

Publicado em 13 Mar, 2019 às 10h52

Um dia após fugir do script e citar Jair Bolsonaro quando confrontado por um jornalista que apresentou uma informação indigesta, delegado do caso Marielle Franco será afastado

delegado Giniton Lages Ronnie Lessa
O delegado Giniton Lages ao ser confrontado com a informação que liga a família Bolsonaro a Ronnie Lessa

Uma declaração que fugiu do script no fim da entrevista coletiva sobre a morte de Marielle Franco (PSOL) pode ter motivado o afastamento do delegado Giniton Lages, responsável pelo caso.

Ao apresentar o policial militar Ronnie Lessa e o ex-PM do Bope Élcio Queiroz, apontados pela investigação como os autores do assassinato da vereadora, o delegado seguia um roteiro previamente combinado para expor os detalhes do crime.

Giniton Lages chegou a afirmar que Marielle Franco poderia ter sido morta em um “crime de ódio” porque Ronnie Lessa seria obsessivo por “figuras de esquerda” e tinha aversão às suas causas.

Ronnie Lessa é vizinho do presidente Jair Bolsonaro em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca e foi exatamente lá que a polícia o prendeu.

Questionado, Giniton Lages afirmou que essa informação não era “relevante neste momento das investigações” e que não havia relação direta entre Lessa e a família Bolsonaro.

Mas o jornalista, bem preparado, insistiu e confrontou o delegado com uma informação que, certamente, não seria revelada ao público e deixou Giniton Lages atônito. “E o filho mais novo do Bolsonaro, ele namora a filha de Ronnie Lessa?”.

Imediatamente, Giniton Lages mostra-se desconfortável e é obrigado a admitir: “Bom, isso [o namoro] tem. Isso, tem. Mas para nós isso não importou na motivação delitiva e será enfrentado no momento oportuno”, respondeu o delegado, para logo em seguida ser arrastado para fora da entrevista.

O afastamento do delegado Giniton Lages foi revelado pelo jornal O Globo na manhã desta quarta-feira (13). O motivo oficial é que ele já “teria cumprido a sua missão”.

Nos bastidores da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro comenta-se que, apesar de ser considerado uma figura controlável e obediente a cumprir os roteiros determinados por seus superiores, o delegado mostrou-se incapacitado durante a coletiva de imprensa e não soube lidar com os questionamentos dos repórteres que mencionaram o presidente Jair Bolsonaro.

Delegado Giniton Lages

No ano passado, o miliciano Orlando de Curicica afirmou que foi ameaçado pelo delegado Giniton Lages para assumir a autoria do assassinato de Marielle Franco.

No depoimento, Orlando de Curicica contou que Giniton Lages esteve no presídio de Bangu em maio de 2018. O delegado queria ouvi-lo confessar que matou Marielle a mando do Siciliano. Ele se referia ao vereador Marcelo Siciliano, do PHS.

Orlando disse ter respondido ao delegado Giniton Lages que não tinha envolvimento com o caso e que o delegado teria pedido então para ele acusar o vereador Marcelo Siciliano:

“Fala que o cara te procurou, pediu para você matar ela, você não quis, e o cara arrumou outra pessoa. Mas que o cara que pediu para matar ela”.

Giniton Lages teria oferecido perdão judicial a Orlando de Curicica caso ele assumisse a autoria do assassinato de Marielle Franco. Do contrário, o delegado disse que iria transferir Orlando para um presídio federal.

Orlando entrou para lista de suspeitos do crime depois que uma testemunha contou à polícia ter visto ele e Marcelo Siciliano num restaurante tramando a morte da vereadora.

Uma investigação paralela da Polícia Federal revelou, posteriormente, que essa testemunha havia sido plantada para prejudicar as investigações e acobertar os verdadeiros culpados pela morte de Marielle. A PF concluiu que nem Orlando nem o vereador Siliciano tinham participação no assassinato da vereadora.

Orlando acabou transferido para a Penitenciária Federal de Mossoró (RN) semanas depois do encontro com o delegado Giniton Lages. O depoimento de Orlando de Curicica foi dado ao Ministério Público Federal e os principais detalhes podem ser vistos aqui.

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