Mulheres violadas

Funcionária de Dória diz que homens são as principais vítimas de violência doméstica

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Em sua cruzada para desmerecer o movimento em defesa dos direitos das mulheres, funcionária de João Dória cria teses mirabolantes e chega a compartilhar que homens são as principais vítimas de violência doméstica. Ela também minimizou a luta pelo direito ao voto feminino

Pietra Bertolazzi (Imagem: Reprodução/Leandro Moura)

Funcionária do governo João Doria (PSDB), a DJ Pietra Bertolazzi tem sido alvo de críticas após posicionamentos extremistas e depreciativos nas redes sociais.

Pietra é diretora do curso de estética, beleza e bem-estar do Fundo Social de São Paulo. Há poucos dias, a mulher de 33 anos publicou um texto que comparava o índice de homicídios entre homens e mulheres.

“Apenas 8% do número total de assassinatos no Brasil ocorreram com mulheres (…) Quase o dobro de homens são mortos por violência doméstica no País. E aí? Quem vai defender esses homens?”, pergunta. Na sequência, vieram as hashtags #antifeminismo e #feministtears.

A publicação de Pietra provocou reação imediata. A promotora Gabriela Mansur, fundadora da página “Justiça de Saia”, publicou a seguinte resposta:

“A sua opinião e análise dos dados está totalmente equivocada. Além disso, esses dados são antigos, de 2014. Atualmente, há novos dados que você, por trazer o debate à tona, deveria saber. Mas se você quiser, te atualizo: ontem, enquanto você estava almoçando, 536 mulheres foram espancadas por seus companheiros no Brasil. Ontem, enquanto você estava assistindo um capítulo de novela, 45 meninas menores de 14 anos foram estupradas no Brasil […] Eu a convido a passar um dia comigo na Promotoria de Justiça, atendendo mulheres violentadas de todas as formas”

Pietra tentou contra-argumentar e compartilhou o post de uma amiga que insistia em demonstrar “estatisticamente” que as maiores vítimas da violência doméstica são os homens.

Houve mais reação. “Gente, você sabe ler estatística? Proporcionalmente, o número de assassinatos contra mulheres é maior, uma vez que representa 40% dos crimes contra as mulheres. Aliás, qual é a sua fonte?”, questionou uma internauta.

No mesmo balaio, a DJ decidiu desmerecer até a luta das mulheres pelo direito ao voto. “O movimento pelo direito ao voto feminino começou com o baiano conservador cristão César Zema, no governo de Getúlio Vargas […] A mulher sempre pode trabalhar, desde que o mundo é mundo […] Nunca existiu no Brasil uma lei que proibisse uma mulher de estudar”, postou Pietra.

Saiba mais sobre as mulheres e o voto:
A história das mulheres brasileiras que foram à luta por seus direitos
A trajetória de luta pelo voto feminino (83 anos)

Em outra publicação polêmica, Pietra mostra duas grandes amigas dela, Fernanda Lara e Stella Jacintho, na estação Capão Redondo do metrô, periferia de São Paulo, com as inscrições: “Ñ tem valet?”(alusão a manobristas VIP); e “Podia ter um Gero aqui” (referência a um restaurante frequentado pela elite da cidade). Ambas são funcionárias do Fundo Social.

Demissão

Na última semana, um abaixo-assinado no Avaaz foi criado para pedir a demissão de Pietra. Bia Dória, esposa do governador de São Paulo, afirmou que a hipótese está descartada.

“A Pietra é muito competente”, disse a primeira-dama do estado. “Nunca cogitamos isso. Ela [Pietra] está indo muito bem”, acrescentou Bia Dória. Até a publicação deste texto, o abaixo-assinado pela demissão da moça conta com mil assinaturas (veja aqui).

Críticos pedem a demissão de Pietra e alegam que ela é uma “mimadinha que não tem noção do que fala”. Mas o presidente do Fundo Social, Filipe Sabará, segue a mesma linha de Bia Dória.

Filipe defende que “rede social é a vida pessoal de Pietra”. Afirma ainda que o que as pessoas postam no virtual não tem a ver com seu desempenho profissional.

Jair Bolsonaro

Pietra Bertolazzi define-se como uma pessoa de “direita” e apoiou a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para a Presidência da República. Nas redes sociais, a DJ tem fotos e vídeos ao lado de gente como Joice Hasselmann (PSL).

A jovem foi DJ em uma festa que comemorou a vitória do presidente chamada ‘Bolsonight’. Em recente entrevista ao blog do Paulo Sampaio, no portal Universa, Pietra disse desconhecer os princípios homofóbicos do presidente da República.

(reprodução/instagram)

Ela afirmou que não tinha ideia de que Bolsonaro já fez a seguinte declaração: “Seria incapaz de amar um filho homossexual; não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que meu filho morra em um acidente de automóvel do que apareça com um bigodudo por aí. Pra mim, ele vai ter morrido mesmo.”

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