Repórter aborda mãe de um dos atiradores de Suzano
Tentativa de entrevista: no meio da rua, repórter da Band força a barra ao abordar mãe de Guilherme Monteiro, um dos responsáveis pelo massacre em Suzano (SP)
Um repórter da Band forçou a barra para tentar entrevistar a mãe de Guilherme Taucci de Monteiro — um dos atiradores no ataque a uma escola de Suzano, na Grande São Paulo.
As imagens foram registradas no meio da rua na tarde de quarta-feira (13), horas após o ataque. Tatiana Taucci, de 35 anos, parecia atordoada e confusa enquanto era perseguida pelo ‘profissional’.
Conheça o perfil dos atiradores
“Não sei [porque Guilherme fez isso], também estou querendo saber”, disse a mulher, enquanto tentava escapar do homem. “Era uma criança tranquila, tem só 17 anos, para mim é uma criança; minha família é de paz, isso é muito estranho”, acrescentou.
A forma como o repórter abordou Tatiana provocou reações nas redes sociais. “Que coisa grotesca; a mãe, sozinha, sem nenhum parente, amigo ou advogado do lado, sendo acossada e tratada como cúmplice do ato do filho por um repórter mandando ela mostrar o rosto”, escreveu um internauta.
“Abordagem mais grotesca impossível. Violento, invasivo, desrespeitoso! A mãe sozinha sendo pressionada pelo jornalista! Vergonhoso”, escreveu o perfil da Mídia Ninja.
“Nessa reportagem faltou tudo , noção, bom senso, humanidade, Educação, amor ao próximo e inclusive conteúdo útil. Que merda de repórter! Que merda de humano! Lixo!”, publicou outro internauta.
VÍDEO:
Guilherme Monteiro
Mais tarde, ao ser entrevistada pela Folha de S.Paulo em sua casa, Tatiana lamentou: “Como é que pode meu filho ser chamado de assassino, meu Deus? Isso é chocante”. Segundos depois, ela mesma conclui: “Mas do que é que vão chamar ele se matou toda essa gente na escola?”.
“Perdi meu filho e meu irmão [Guilherme também matou o tio, irmão da mãe]. Não dá nem pra acreditar… Minha vida acabou”, diz ela, sentada na cadeira em que, conta, Guilherme passava as madrugadas jogando no computador.
“Ele tinha internet, TV a cabo, tinha tudo. E o bobão faz isso? Estou com muita raiva, de tudo. Nosso relacionamento até que não era ruim. Mas a gente quase não conversava”, revela a mãe.
Desempregada há dois anos e mãe de outras quatro crianças, duas das quais moram na mesma casa onde Guilherme vivia, Tatiana batalha contra uma dependência química de longa data, que a leva a passar boa parte do tempo nas ruas.
Fruto de um relacionamento breve entre Tatiana e Rogério Machado Monteiro, o atirador Guilherme foi criado pelos avós. “O pai e a mãe não estavam muito aí pra ele, sabe?”, diz o avô. Com a morte da avó, quatro meses atrás, Guilherme passou a dar sinais de tristeza permanente. “Acho que ele ficou deprimido”, arrisca a tia.
Ao sair pela manhã para o atentado, Guilherme deixou no chão, ao lado do beliche onde dormia, uma foto queimada, que a mãe reconheceu como sendo sua com o pai do adolescente.
Segundo Tatiana, Guilherme abandonou a escola no ano passado, a um ano de concluir o ensino médio, porque dizia não aguentar mais ser “zoado por causa das espinhas do rosto”.
O avô pagou um tratamento para o neto, e sua pele “melhorou muito”. “Ontem mesmo, quando ele chegou da rua de noite, eu esquentei o jantar pra ele. Estava tudo bem”, lembra o avô, com a voz embargada. Guilherme comeu arroz, feijão e hambúrguer. “Ele adorava hambúrguer.”
Massacre em Suzano
Guilherme e Luiz invadiram a Escola Estadual Professor Raul Brasil, onde estudaram, na manhã desta quarta-feira (13), e abriram fogo contra a coordenadora pedagógica, a inspetora e alunos, matando sete pessoas e ferindo outras onze.
No caminho até o colégio, Guilherme parou na loja do tio, Jorge Antônio Moraes, irmão de sua mãe, onde já havia trabalhado, e atirou contra ele. O tio morreu no hospital.
O filho de Jorge Antônio Moraes e primo de Guilherme afirmou que seu pai não discutiu com o atirador antes de ser morto. “É mentira o que estão dizendo que meu pai discutiu com ele. Meu pai deu uma oportunidade pra ele. Ele não tem culpa de nada, esse menino que era louco”, afirmou o rapaz de 27 anos.
De acordo com a família, Jorge não tinha contato com Guilherme Monteiro desde que o demitiu, há cerca de dois anos, da loja de carros da qual era dono.
“O Jorge empregou esse menino para ajudar. Ele era alguém que ajudava as pessoas. Mas ele [Guilherme] começou a fazer coisas erradas na loja, roubar coisas dos carros. Por isso que ele teve que demitir”, afirmou Sônia Hernandes, tia de Moraes.
Moraes tinha 51 anos, era casado e tinha três filhos de 27, 22 e 15 anos. Ele era dono de uma loja de vendas de carros usados, onde também funcionava um estacionamento e lava-jato.
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