Vizinhos estão incrédulos e não conseguem entender como os rapazes que seriam "tranquilos" e costumavam sentar na guia da calçada para conversar puderam cometer tamanha atrocidade
Joana Oliveira, ElPaís
Na rua do bairro de classe média em Suzano onde Guilherme Taucci Monteiro, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25 anos, viviam, os vizinhos estão incrédulos. Não conseguem entender como os rapazes “tranquilos“, que costumavam sentar na guia da calçada para conversar, puderam cometer tamanha atrocidade: invadir a Escola Estadual Raul Brasil, disparar contra duas funcionárias e matar cinco adolescentes — outras duas pessoas foram socorridas, mas uma morreu a caminho e outra no hospital.
Os dois eram vizinhos na rua de paralelepípedo, suas casas ficavam uma ao lado da outra. Viviam no local desde crianças. Também estudaram na mesma escola onde praticaram o massacre: a Escola Estadual Professor Raul Brasil, a menos de um quilômetro de distância de suas casas.
Cinco horas depois do crime, a pacata via recebia a visita ostensiva de carros policiais, que buscavam qualquer indício da motivação do crime. Assustados, vizinhos se trancaram dentro de suas casas, e quando abordados pela imprensa repetiam que tudo era surpreendente.
Guilherme vem de uma família desestruturada, segundo os vizinhos: a ausência da mãe fez com que ele fosse criado pela avó. Vivia também com o padrasto e com duas irmãs mais novas. Pouco depois das 14h, uma tia, que se identificou apenas como Sônia, deixava o local. Ela mora nos fundos da casa e afirmou que a família está chocada. “Ninguém esperava que ele pudesse fazer isso“, disse, antes de entrar no carro. Nenhum outro familiar estava no local. Ainda segundo os vizinhos, antes de entrar na escola, os jovens fizeram uma outra vítima do lado de fora, o dono de uma locadora de carro. Era o tio de Guilherme, que também morreu.
Na casa de Luiz Henrique, a mãe, o pai e os avós, com quem ele vivia, também haviam deixado o imóvel. Fabricio Cicone, que se identificou como advogado da família, afirmou que todos estão “extremamente abalados”. “Era um rapaz estudioso, trabalhador. Ninguém entende.”
“A gente era amigo desde os 13 anos. Ele gostava muito de jogar videogame, de jogar futebol, nunca demonstrou isso… todo o tempo que convivi com ele, ele era um menino de boa, calmo. Nunca falou em bater, em matar ninguém. Nunca falou nada de arma, nem de colecionar arma”, conta emocionado Cesar Expedito, de 27 anos, amigo de Luiz Henrique. “Ele começou a trabalhar há um ano lá em Guaianazes com o pai, capinando.”
Cesar diz que Luiz Henrique tinha uma relação normal com a família e menciona apenas algumas brigas, “o que acontece em toda a família”. Outra vizinha, que não quis se identificar, disse que “o Luiz era o mais explosivo e o Guilherme era mais tranquilo”.
A vizinhança especula sobre razões para o ocorrido e comenta sobre o perfil dos jovens apontados como autores do atentado. “Para mim, o Luiz tinha mais o perfil de planejar algo assim”, conta outro vizinho, que também não quer se identificar. Outros dizem que a família de Luiz mal falava com os vizinhos. “Sempre foram muito reservados, eram de pouca conversa.”
Leia também: Senador usa massacre em Suzano para fazer campanha pró-armamento
Os crimes cometidos pelos jovens em Suzano guardam uma série de semelhanças com os cometidos por Eric Harris e Dylan Klebold na Columbine High School, no Colorado, Estados Unidos, em 1999, que deixou 13 mortos e 24 feridos. Nos dois casos, tratava-se de ex-alunos que usaram diferentes tipos de armas — entre eles explosivos — e usavam roupas escuras, bonés, luvas e cinto tático.
Siga-nos no Instagram | Twitter | Facebook