Apontado como o autor dos 13 disparos contra Marielle Franco, policial militar mora no mesmo condomínio de luxo onde reside Jair Bolsonaro, na Barra da Tijuca. Até hoje, Ronnie Lessa nunca havia sido investigado e era considerado ficha limpa
Em operação conjunta com o Ministério Público, a Delegacia de Homicídios do Rio prendeu na madrugada desta terça-feira (12) um policial militar e um ex-policial suspeitos de participar do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) e de seu motorista, Anderson Gomes, em 14 de março do ano passado.
A Operação Lume apontou que o sargento reformado Ronnie Lessa foi o autor dos disparos e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, expulso da corporação, conduzia o veículo. Os investigadores tentam descobrir quem foi o mandante da execução.
Também são cumpridos mandados de busca e apreensão de armas, computadores, celulares e munição, entre outros objetos, em 34 endereços. Lessa foi preso por volta das 4h30 no condomínio onde mora, na Barra da Tijuca, o mesmo onde vivia o presidente Jair Bolsonaro antes de ser empossado.
Segundo as investigações, o ex-sargento foi vítima de uma tocaia em 28 de abril do ano passado. Suspeita-se que tenha sido uma tentativa de queima de arquivo.
De acordo com os investigadores, antes do crime, Lessa fez pesquisas na internet sobre locais que a vereadora frequentava. Ele também monitorava a agenda do então deputado estadual Marcelo Freixo (Psol), hoje federal, com quem Marielle trabalhou como assessora, e também pesquisou a vida do ex-interventor da segurança pública no Rio de Janeiro, general Braga Neto.
A investigação aponta que Ronnie Lessa é o autor dos 13 disparos que mataram Marielle e Anderson; ele estava no banco de trás do Cobalt que perseguiu o carro da vereadora. Élcio Vieira de Queiroz dirigiu o Cobalt.
Quem mandou?
“São prisões importantes, são tardias. É inaceitável que a gente demore um ano para ter alguma resposta. Então, evidente que isso vai ser visto com calma, mas a gente acha um passo decisivo. Mas o caso não está resolvido. Ele tem um primeiro passo de saber quem executou. Mas a gente não aceita a versão de ódio ou de motivação passional dessas pessoas que sequer sabiam quem era Marielle direito”, Marcelo Freixo (Psol).
A investigação revela que o assassinato de Marielle Franco foi meticulosamente planejado durante três meses. O atentado completa um ano nesta quinta-feira (14). Ronnie fez pesquisas na internet sobre locais que a vereadora frequentava. Os investigadores sabem também que, desde outubro de 2017, o policial também pesquisava a vida de Freixo.
A polícia afirma ainda que Ronnie usou uma espécie de “segunda pele” no dia do atentado. A malha que cobria os braços serviria, segundo as investigações, para dificultar um possível reconhecimento.
A Operação Lume foi batizada em referência a uma praça no Centro do Rio, conhecida como Buraco do Lume, onde Marielle desenvolvia um projeto chamado Lume Feminista. Além de significar qualquer tipo de luz ou claridade, a palavra lume compõe a expressão “trazer a lume”, que significa trazer ao conhecimento público, vir à luz.
Exímio atirador
Preso nesta terça-feira (12) apontado como o autor dos disparos contra Marielle, o policial Ronnie Lessa jamais havia sido investigado. Embora os corredores das delegacias conhecessem a fama do sargento reformado, associada a crimes de mando pela eficiência no gatilho e pela frieza na ação, Lessa era, até hoje, um ficha limpa.
Egresso dos quadros do Exército, foi incorporado à Polícia Militar do Rio em 1992, atuando principalmente no 9º BPM (Rocha Miranda), até virar adido da Polícia Civil, trabalhando na extinta Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (DRAE), com a mesma função da atual Desarme, na Delegacia de Repressão à Roubo de Cargas (DRFC) e na extinta Divisão de Capturas da Polinter Sul.
Lessa, como outros adidos (PMs acrescentados aos quadros da Polícia Civil), conhecia mais das ruas do que qualquer policial civil. Logo, destacou-se e ganhou respeito pela agilidade e pela coragem na solução dos casos.
Esta fama, segundo os bastidores da polícia, chegou aos ouvidos do contraventor Rogério Andrade, na época cada vez mais ocupado em fortalecer o seu exército numa sangrenta disputa territorial com o também contraventor Fernando Iggnácio de Miranda. Em jogo, o legado do bicheiro Castor de Andrade, morto em 1997.
Arregimentado por Andrade, Lessa não demorou a crescer na organização e ocupar o destacado posto de homem de confiança do chefe. Até que, em abril de 2010, a explosão de uma bomba no carro do bicheiro não apenas matou o filho dele, Diogo Andrade, de 17 anos, como fulminou a credibilidade de Lessa junto ao chefe, por não conseguir protegê-lo, assim como sua família. O guarda-costa e exímio atirador foi incapaz de evitar a morte do jovem.
Um laudo do Esquadrão Antibombas da Polícia Civil revelou que para explodir o Toyota Corolla blindado de Andrade foi usado um dispositivo acionado à distância por meio de um telefone celular.
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