Qual a condição de uma trabalhadora, que tem a responsabilidade de educar centenas de crianças, adolescentes, jovens e adultos, de trabalhar até a velhice? Qual a qualidade do processo de aprendizagem que poderá possibilitar? A que nível de sacrifício físico e emocional estará submetida?
Fábio Garrido*, Brasil de Fato
A educação vem sendo maltratada há muito tempo no Brasil. A maioria dos estados e municípios não pagam o piso salarial nacional do magistério, este ano definido em R$ 2.557,74. O Estado de Minas Gerais, gestão após gestão, não investe o mínimo constitucional de 25% do orçamento em educação. O resultado disso é um dia a dia de salas de aula superlotadas e precariedade nas escolas.
A soma de baixos salários e péssimas condições de trabalho faz da docência uma das profissões que mais adoecem. Para conseguir sobreviver uma professora tem que ter uma extensa jornada de trabalho chegando a mais de 48 horas semanais. Problemas nas cordas vocais, nas articulações e, principalmente, doenças ligadas ao sofrimento psíquico como depressão, estresse e síndrome de burnout, fazem parte da vida dos trabalhadores da educação.
Imaginem, portanto, qual a condição de uma trabalhadora, que tem a responsabilidade de educar centenas de crianças, adolescentes, jovens e adultos, em trabalhar até a velhice. Qual a qualidade do processo de aprendizagem que poderá possibilitar? Que nível de sacrifício físico e emocional estará submetida?
O desrespeito estimulado pelo atual governo ao defender a proposta de escola sem reflexão (que chamam de sem partido), encontra seu ponto alto de crueldade ao propor reforma da Previdência em que professoras trabalharam dez anos a mais, e professores 5 anos a mais para se aposentar. Além disso, inviabiliza que os futuros aposentados recebam o salário integral.
A contribuição de 30 anos dará direito apenas a 60% do salário. Para receber integralmente apenas se conseguir contribuir por 40 anos. Se viver com o salário de professora já é um grande desafio, viver com 60% desse valor significa condenar as responsáveis pela educação de todas as demais categorias profissionais a uma velhice miserável.
Isso não é acabar com privilégios, é apenas destruir o que resta de dignidade da profissão para atender a ganancia dos banqueiros, verdadeiros governantes do país. Mas a resiliência das educadoras é a muralha que mais uma vez vai impedir esse retrocesso.
Mais uma batalha está começando e nós estamos prontos e prontas para resistir.
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*Fábio Garrido é professor da rede estadual e diretor estadual do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-Ute/MG).
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