Três suicídios abrem ferida deixada pelo massacre de Parkland
A comunidade de Parkland lidava com dois suicídios, com poucos dias de diferença entre si, de estudantes que sobreviveram ao massacre na escola. Entretanto, um terceiro suicídio chamou atenção nesta segunda-feira
A comunidade de Parkland lidava, nesta segunda-feira, com dois suicídios, com poucos dias de diferença entre si, de estudantes que sobreviveram ao ataque a tiros em uma escola nesta cidade no sul da Flórida no ano passado, que deixou 17 (dezessete) mortos.
Entretanto, um terceiro suicídio chamou atenção nesta segunda, quando foi informado que o pai de uma menina assassinada no ataque de Sandy Hook, outra escola, também tirou a própria vida.
Jeremy Richman, de 49 anos, perdeu sua filha, de 6, no massacre em Connecticut, que matou 20 (vinte) crianças e 6 (seis) adultos.
Ryan Petty, pai de uma jovem vítima de Parkland, disse à AFP que Richman havia visitado as vítimas desta cidade do sul da Flórida há apenas uma semana.
“Ele esteve aqui em Parkland na semana passada, veio conhecer algumas das famílias daqui, para ajudar“, disse Petty, cuja filha de 14 anos, Alaina, morreu no ataque de 14 de fevereiro do ano passado.
“É devastador saber que [Richman] estava sofrendo“, acrescentou.
Na Flórida, o chefe de divisão de gestão de emergências pediu para os legisladores estaduais destinarem mais recursos para ajudar sobreviventes do massacre de Parkland, ao norte de Miami.
“A saúde mental é um assunto bipartidário“, disse Jared Moskowitz no Twitter. “Agora que estamos em plenário, é o momento“.
.@Fla_Pol Now is the time for the Florida legislature to help. Just like last year. Mental health is a bipartisan issue. While we are in session NOW is the time. #sayfie @FlaDems @fineout @FloridaGOP @richardcorcoran @PeterSchorschFL @RepTedDeutch https://t.co/4jm2l4rIuP
— Jared Moskowitz (@JaredEMoskowitz) 24 de março de 2019
Sydney Aiello, de 19 anos, tirou a própria vida na semana passada, após sofrer por um ano com a “síndrome do sobrevivente” – segundo sua mãe disse a imprensa – fenômeno no qual a vítima se questiona por que se salvou da morte.
Um segundo estudante da escola Marjory Stoneman Douglas morreu no sábado, no que a polícia chamou de um “aparente suicídio“, embora não tenha revelado sua identidade.
Na noite de domingo, pais, estudantes, funcionários e professores da pequena comunidade de Parkland e da vizinha Coral Springs se reuniram de emergência para discutir como melhorar o apoio terapêutico para lidar com o trauma deixado por um dos piores ataques a tiros da história recente dos Estados Unidos.
17+2
“É um dos muitos encontros com especialistas em saúde mental da cidade e do condado para garantir que nossos estudantes, professores e pais recebam a informação necessária para prevenir o próximo suicídio“, explicou Max Schachte, pai de Alex, um dos 17 que morreram no ataque de Parkland.
“Todos estão levando esta crise a sério para salvar vidas“, acrescentou no Twitter.
Today was the first of many meetings with all city, county and mental health experts in order to make sure our students, teachers and parents receive the education they need to prevent the next suicide. Everyone is taking this crisis seriously in order to save lives. pic.twitter.com/ZoCuDSz4Ly
— Max Schachter (@maxschachter) 25 de março de 2019
Petty, que lançou a Fundação Walk Up em Coral Springs no ano passado para ajudar a prevenir o suicídio, disse que há uma “alta correlação entre o suicídio e os ataques em massa, particularmente nas escolas“.
Por um lado, a grande maioria dos agressores em massa pensou em acabar com suas vidas. “Então, uma das maneiras de identificar uma ameaça potencial a uma escola é saber se um estudante está pensando em se suicidar“, disse Petty, explicando que “este é um dos indicadores“.
A correlação também é forte após um ataque. “Após esses eventos de múltiplas mortes, há trauma, dor, ansiedade e depressão, e esse trauma, se não for bem administrado, pode infelizmente levar aos resultados trágicos que temos hoje“, acrescentou o ativista de segurança escolar.
Petty acrescentou que o grupo adotou o “Protocolo de Columbia” – uma série de perguntas que podem ajudar familiares e amigos e detectar se alguém corre risco de suicídio. Se as respostas forem positivas, é recomendado entrar em contato com o telefone de prevenção ao suicídio.
No Twitter, ficou popular a fórmula “17+2”, para se referir ao número de vítimas fatais que o ataque de Parkland deixou, ao todo.
17+2 💔
— Ryan Petty (@rpetty) 24 de março de 2019
“Parem de nos dizer ‘já já superaremos’. Ninguém supera algo que nunca deveria ter acontecido“, escreveu David Hogg, um dos sobreviventes que alcançou maior notoriedade nacional após o ataque por seu combate à venda liberada de armas.
“O trauma e a perda não somem simplesmente. Você tem que aprender a viver com eles e buscar apoio“, afirmou o ativista de 18 anos.
Stop saying “you’ll get over it.”
You don’t get over something that never should have happened because those that die from gun violence are stolen from us not naturally lost.
Trauma and loss don’t just go away, you have to learn to live with it through getting support.
— David Hogg (@davidhogg111) 24 de março de 2019
Os suicídios acontecem perto no primeiro aniversário, neste domingo, da Marcha por Nossas Vidas, protesto nacional contra as armas que reuniu milhares de pessoas em Washington.
O superintendente de escolas de Broward – o condado onde fica Parkland -, Robert W. Runcie, estimulou sobreviventes, amigos e familiares das vítimas a visitar o “Centro de Resiliência” estabelecido em um parque perto da escola, onde há médicos disponíveis toda a tarde.
AFP