Abraham Weintraub: "Quem saber ler e escrever não vota no PT"
Quem sabe ler e escrever não vota no PT, diz novo ministro da Educação. Abraham Weintraub afirma que ficará vigilante a "tudo que sair" da pasta, como livros didáticos, e estará atento a "sabotagens"
Novo ministro da Educação, Abraham Weintraub afirma que ficará vigilante a “tudo que sair” da pasta, como livros didáticos, e estará atento a “sabotagens”. Ele nega, porém, que haverá perseguição no MEC. “Não sou caçador de comunistas”, disse.
O ministro afirmou que trabalhará para entregar o que está no plano de governo e não fará, por ora, mudança no Fies ou no ProUni. “Chega de solavanco.”
Tema do programa de Jair Bolsonaro, a disciplina nas escolas é alvo de preocupação. Ele defende que professores agredidos em sala de aula chamem a polícia e que os pais sejam processados e, “no limite”, percam o Bolsa Família e a tutela das crianças infratoras.
“Temos de cumprir leis ou caminhamos para barbárie. Hoje há muito o ‘deixa disso’, ‘coitado’. O coitado está agredindo o professor”, disse, frisando que ainda não há medidas previstas para enfrentar o problema.
Weintraub diz que o cronograma do Enem será cumprido e que Bolsonaro não lerá antes as questões da prova. “Se sair um Enem todo errado, sou o culpado e tem de me dar reprimenda ou me tirar do cargo.”
Sua indicação é uma vitória de Olavo de Carvalho?
Bolsonaro é uma bandeira. Atrás dela, há vários grupos: monarquistas, militares, evangélicos, liberais, olavistas. Eu e meu irmão (Arthur, assessor da Presidência) temos bom trânsito em todos. Não estou no grupo (de olavistas). Olavo tem ótimas ideias, mas não concordo com tudo. Falar que não tem grande papel na mudança de pensamento no Brasil é loucura.
E se Olavo criticar uma escolha do senhor para o MEC?
Paciência. Não senti pressão nenhuma até agora. O presidente me deu carta branca para formar o time. Ele me pediu para entregar tecnicamente os melhores resultados. Não estou lá para fazer barulho.
Qual o principal problema a ser enfrentado na Educação?
Há várias coisas da agenda com atraso no cronograma. Vélez saiu por isso. Não porque foi pego em escândalo ou por não ter capacidade intelectual.
O senhor defende o enfrentamento ao “marxismo cultural”. Como propõe fazer isso?
No curto prazo, tomando cuidado com tudo o que sair do MEC, como livros didáticos. Estamos preocupados com vazamentos, com sabotagens. Mas não estou indo caçar ninguém. Não sou caçador de comunistas. Não gosto do comunismo, mas aceito o comunista. Quero a redenção dele.
O que isso quer dizer?
Quero convencer pela lógica. A pessoa não é má pura e simplesmente. Está envolvida numa mentira e aquilo é uma realidade para ela. Precisamos explicar que é uma ideologia errada.
A estratégia de impedir a volta do PT passa pela Educação?
Sem dúvida. Uma pessoa que sabe ler e escrever e tem acesso à internet não vota no PT. A matemática é inimiga do obscurantismo. Não sou contra petista. Tenho amigos que são petistas. Pessoas boas que não conseguem se livrar.
O sr. é favor de rever a ditadura militar nos livros didáticos?
O momento é de entregar resultado. Não quero entrar na discussão. Evidentemente que houve ruptura em 1964. Mas foi dentro de regras. Houve excessos? Houve. Pessoas morreram? Sim. É errado? É e infelizmente ocorreu. Mas em um dia de protesto na Venezuela morreu mais gente do que no período. As coisas precisam ser contextualizadas.
Houve contrarrevolução. Está documentado. E tem que ser escrito, dito. Por que não? Quando comparamos com o que houve na América Latina não concordo em chamar de ditadura. Houve regime de exceção.
Há problemas graves de aprendizado nas escolas. A prioridade é enfrentar o marxismo cultural?
Quem é o patriarca da educação moderna brasileira? Paulo Freire. Deu certo? O Brasil gasta como países ricos em termos de PIB e nossos indicadores estão muito abaixo da média. A gente gasta bem e os indicadores são ruins.
É por causa de Paulo Freire?
Falar que é uma explicação única seria burrice. Deixa eu sentar lá. Cada dia sua agonia.
Manterá o decreto com o método fônico na alfabetização?
Estou fechando o time e gostaria de ter a opinião da pessoa para a área. O método fônico não estava no plano de governo. Sinto-me à vontade para mudar se for o caso.
A Base Nacional Comum Curricular será modificada? Acabará?
Modificar. Acabar, não. O plano de governo não fala em acabar. Chega de solavanco.
O programa fala sobre manter a disciplina nas escolas. Quais serão as medidas para isso?
No curto prazo, não faremos nada nesse aspecto. Mas sou a favor de seguir a lei. Se o aluno agride, o pai é responsável. O professor tem de fazer boletim de ocorrência. Chama polícia, os pais vão ser processados e, no limite, tem de tirar o Bolsa Família dos pais e até a tutela do filho.
A gente não tem de inventar a roda. Tem que cumprir a Constituição e as leis ou caminhamos para barbárie. Hoje, há muito o “deixa disso”, “coitado”. O coitado está agredindo o professor. Se o professor alegar que não tem apoio do Estado, um recado: o Estado somos nós. “Ah, mas é o PCC (Primeiro Comando da Capital) que está fazendo.” Tem que chamar prefeito, secretário de Educação e enfrentar o problema. Não tem que sentar e achar que nunca vai mudar.
A gráfica do Enem faliu. O cronograma será mantido?
A população não tem que ficar sendo alarmada enquanto a gente acha que consegue entregar no prazo. Vamos resolver.
E se o presidente pedir para ver as questões do Enem?
Falarei que garanto que não haverá problema. Se sair um Enem todo errado, todo torto, sou o culpado e o presidente tem de me dar uma reprimenda ou me tirar do cargo. É assim que funciona. O presidente tem 22 ministros. Não deveria perder tempo com isso.
Qual é o seu plano para as universidades federais?
O Brasil gasta muito e a produção científica com resultados objetivos para a população é baixa. Precisamos escolher melhor nossas prioridades. Não sou contra estudar filosofia, mas imagina a família de agricultores que o filho retorna da faculdade com título de antropólogo? Acho que ele traria mais bem-estar para ele e para a comunidade se fosse veterinário, dentista, professor, médico.
Qual sua visão sobre política de cotas, ProUni e Fies?
Tem de manter. No curto prazo, não podemos bagunçar muito. Estamos mexendo com a vida das pessoas. Temos de fazer movimentos que não impactem de forma dura e negativa. O pagador de impostos tem de ser respeitado.
O sr. pretende respeitar o primeiro colocado na lista tríplice para reitor das universidades?
Está dentro da lei?
O senhor pode escolher qualquer um dentro da lista.
Perfeito. Está respondido. Vou escolher o que achar mais conveniente. Dentro da lei.
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Agência Estado