Rio de Janeiro

Alunos nazistas realizam ameaças em escola para surdos no Rio

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Servidores do Instituto Nacional de Educação de Surdos denunciam alunos que se declaram nazistas e ameaçam funcionários e outros alunos do espaço. As ameaças fizeram a direção do Instituto, referência no ensino aos surdos, suspender as aulas

Sede do Ines no Rio de Janeiro (reprodução)

Leonardo Coelho, Ponte

Servidores do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines) denunciam a existência de um grupo de alunos que se declaram nazistas e teriam ameaçado funcionários e outros alunos do espaço, localizado na zona sul da cidade do Rio de Janeiro.

As ameaças fizeram a direção do Instituto, referência no ensino aos surdos, suspender as aulas no início do mês (5/4) e enviar um comunicado interno informando que havia denunciado o caso às Polícias Federal, Civil e Militar e reforçado a segurança do prédio.

No comunicado interno, enviado aos funcionários via Whatsapp e obtida pela Ponte, a direção afirma que alguns professores haviam comunicado “a existência de indícios de violência e apologia ao nazismo, que poderiam trazer riscos à comunidade da Instituição”.

Na mesma nota, a direção se comprometia a adotar “uma segurança reforçada ostensivamente nos principais pontos de acessos da Instituição” e a advertir e suspender temporariamente um dos autores das ameaças, “buscando dessa forma garantir a segurança e a integridade de todos da nossa comunidade”.

Segundo funcionários do Ines, há um pequeno, mas influente grupo de alunos que há tempos demonstra publicamente interesse e admiração pelo nazismo e pela figura do líder Adolf Hitler. “Após o que aconteceu em Suzano, alguns deles têm tentando surfar nessa onda e vêm fazendo ameaças indiretas aos professores da casa”, pontua um servidor. Segundo ele, um dos alunos vinha ultimamente repetindo que haveria um suposto “Dia D” em breve dentro da escola, o que foi interpretado como uma possível ameaça de massacre. (Aparentemente, o autor da ameaça não entende muito de história, já que o Dia D, ocorrido em 6 de junho de 1944, foi a operação de desembarque dos Aliados na costa da Normandia, na França, uma operação que visava justamente combater a Alemanha nazista.)

Em outra ameaça, presenciada por uma funcionária que falou com a reportagem, um aluno disse à uma professora que o Inesprecisava de uma limpeza entre os professores”. Foram essas intimidações que, somadas, justificaram o pedido de suspensão das aulas e o pedido de investigação de determinados alunos.

Não sabemos se alguns desses alunos têm ligações, por exemplo, com fóruns na deepweb. Simplesmente nós não sabemos”, avaliou uma servidora. “A gente tende a subestimar os alunos por eles terem essa condição específica mas o fato é que temos um corpo discente diverso e não sabemos até que ponto eles estão inseridos dentro dessa esfera obscura e tóxica da internet, palco de misóginos, racistas, etc”.

Uma nota recente da Assines (Associação dos Servidores do Instituto Nacional de Surdos) reforçou a sensação de insegurança ao explicitar que, nos últimos dez dias, “toda a comunidade do INES tem lidado com a explosão de tensões políticas que se acumulam há anos no Instituto, no país e no mundo. Trata-se do resultado da expansão de forças políticas de extrema-direita que propagam discursos de ódio e chegam a defender a eliminação física de determinados grupos de pessoas”, diz o texto (leia a íntegra aqui).

Um aluno ouvido pela reportagem contou que se surpreendeu com o uso do termo “nazismo” na nota disseminada pela direção, mas ressaltou que não está surpresa com a presença de pensamentos extremistas dentro do Ines. Segundo ele, há vários casos de intolerância entre os alunos do Instituto.

Há casos não só de surdos que não aceitam ouvintes, mas também de surdos que não aceitam que se use aparelhos auditivos ou que se oralize [comunicar-se por meio da fala, e não do sistema de Libras] e, por isso, reclamam de exclusão e até de interferência para que os alunos que optam pela oralidade não consigam concluir suas tarefas escolares ou mesmo se sintam mal a ponto de tirar seus aparelhos para estar no Ines”, diz.

A Ponte esteve no INES nesse dia para averiguar a normalização e confirmar o conteúdo da nota com a direção. Em nenhum momento do trânsito do repórter no instituto, que durou pouco menos de uma hora, ele foi parado, questionado por seguranças ou passou por qualquer tipo de procedimento básico de segurança.

A direção recebeu e registrou o relato de alguns professores, e enviou à Polícia Federal para dar início à investigação. Conforme foi informado pela Policia Federal essa investigação demora, então, a Direção Geral resolveu entrar em contato com as seguintes autoridades: Quartel General, 9a DP Catete, 2° Batalhão da Polícia Militar e SESOP (Polícia Civil), seguindo o mesmo procedimento adotado pela UFRJ [universidade que sofreu ameaças na semana passada]”, afirma o comunicado interno da direção.

Polícia Federal e Polícia Militar não responderam à reportagem. A Polícia Civil disse apenas que representantes do Ines estiveram em uma delegacia na tarde do dia 8, mas não chegaram a finalizar qualquer registro referente ao caso.

O diretor do Instituto, Paulo Bulhões, não quis falar com a Ponte sobre as ameaças. O MEC (Ministério da Educação) se limitou a afirmar, através de um telefonema de sua assessoria de imprensa, que o Ines possui autonomia administrativa e que questões de cunho interno precisam ser encaminhadas à direção.

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