Museu do Holocausto em Israel visitado por Jair Bolsonaro rebate: "nazismo é de direita". Historiadores explicam confusão do presidente brasileiro
Depois de visitar o Museu do Holocausto em Israel, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira (02/03) “não ter dúvidas” que o nazismo foi um regime de esquerda.
“Não há dúvida, não é? Partido Socialista, como é que é? Da Alemanha. Partido Nacional Socialista da Alemanha” respondeu Bolsonaro aos jornalistas presentes em Jerusalém.
O consenso majoritário entre os historiadores, incluindo os do museu visitado por Bolsonaro, é de que o nazismo foi um movimento radical de direita. Em seu site, o Museu traz um breve histórico sobre a ascensão do partido nazista na Alemanha entre guerras.
Ao abordar a situação alemã após o Tratado de Versailles, que selou a paz entre as principais potências europeias após a Primeira Guerra, o museu explica que havia um clima de frustração que, “junto a intransigente resistência e alertas sobre a crescente ameaça do Comunismo, criou solo fértil para o crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha, gerando entidades como o Partido Nazista”.
A fala do presidente Bolsonaro vem após o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também dizer que as ideias nazistas e fascistas eram de esquerda.
Em um post recente em seu blog, Araújo escreveu que “a esquerda fica apavorada cada vez que ressurge o debate sobre a possibilidade de classificar o nazismo como movimento de esquerda”, explicando que, em um sua opinião, o nazismo foi um movimento de esquerda.
História
“Tanto o nazismo alemão quanto o fascismo italiano surgem após a Primeira Guerra Mundial, contra o socialismo marxista — que tinha sido vitorioso na Rússia na revolução de outubro de 1917 –, mas também contra o capitalismo liberal que existia na época. É por isso que existe essa confusão [sobre o nazismo ser de esquerda ou de direita]”, afirma Denise Rollemberg, professora de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF).
A ideia de uma “revolução social para a Alemanha” deu origem ao Partido Nacional-Socialista alemão, em 1919. O “socialista” no nome é um dos principais argumentos usados nos debates de internet que falam no nazismo como um movimento de esquerda, mas historiadores discordam.
“Me parece que isso é uma grande ignorância da História e de como as coisas aconteceram. O que é fundamental aí é o termo ‘nacional’, não o termo ‘socialista’. Essa é a linha de força fundamental do nazismo — a defesa daquilo que é nacional e ‘próprio dos alemães’. Aí entra a chamada teoria do arianismo”, disse Izidoro Blikstein, professor de Linguística e Semiótica da USP e especialista em análise do discurso nazista e totalitário.
SAIBA MAIS:
— Brasileiros dão ‘aula’ de nazismo aos alemães e passam vergonha alheia
— Casal desmascara blogueiro Nando Moura sobre nazismo e esquerda
Em setembro do ano passado, em entrevista ao jornal O Globo, o embaixador alemão no Brasil, Georg Witschel, afirmou ser “uma besteira completa” dizer que o nazismo foi um movimento político de esquerda. O diplomata afirmou que há amplo consenso entre historiadores alemães e mundiais de que Hitler liderava uma corrente política de direita.
Siga-nos no Instagram | Twitter | Facebook