Em cartaz nos cinemas brasileiros, Border é um filme bem difícil de se definir. Ele pode ser muitas coisas. Mas uma coisa é certa, depois de vê-lo, ele não sairá da sua cabeça
Rafael Argemon, HuffPost
Comum é um adjetivo que não se aplica a Border, filme sueco (literalmente) sem gênero definido estreou nos cinemas brasileiros na última quinta-feira (11). A começar por sua surpreendente indicação ao Oscar de Melhor Maquiagem, uma categoria técnica em que filmes fora de Hollywood raramente concorrem.
Realmente, a maquiagem faz milagres com os rostos e corpos dos atores Eva Melander e Eero Milonoff, mas a mudança física que ela proporciona é a menor das metamorfoses de Border, produção que traz elementos de drama, thriller policial, horror e romance, tudo misturado e envolto em uma atmosfera fantástica que usa o grotesco para questionar as fronteiras que nos separam. Aliás, “fronteira” é uma palavra chave aqui. Tanto a física quanto a metafórica.
Na trama, Tina (Eva Melander) é uma policial que atua como fiscal de alfândega na fronteira entre a Suécia e a Finlândia. Ela possui uma aparência incomum devido a uma condição genética rara e, depois que foi atingida por um raio na infância, desenvolveu um tipo de sexto sentido em que fareja os sentimentos das pessoas. Ela usa esse poder para pegar quem está transportando algo ilegal para a Suécia. Até o dia em que Vore (Eero Milonoff) aparece, um homem com a mesma aparência de Tina. Ela sente que há algo de errado com ele, mas fica obcecada em conhecer melhor aquele sujeito misterioso que pode explicar suas próprias origens.
Border discute o diferente, o estranho, o estrangeiro. Até mesmo na constituição de sua equipe, pois seu diretor, Ali Abbasi, é de origem iraniana.
Vencedor do prêmio de Melhor Filme da mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes, o filme baseado no conto de John Ajvide Lindqvist (também autor do roteiro do cult Deixe Ela Entrar) nos apresenta uma personagem isolada por conta de sua aparência fora do padrão.
Tina é muito competente no que faz e mesmo assim é encarada com nojo por seus colegas. Ela só se sente livre quando passeia pela floresta perto de sua casa. Lá ela pode comungar com os elementos sem esconder seu corpo e sua natureza selvagem.
Essa relação com a natureza é essencial para a história e a compreensão do que o filme quer discutir. Ela é a fronteira entre um mundo antigo e místico e outro moderno e tecnológico. É na floresta que Tina se liberta, porque ela ainda é um ser de um tempo esquecido pelos seres humanos. E é lá que acontece uma cena de sexo que foi sensação desde quando o filme foi exibido em Cannes.
A relação entre os gêneros sexuais também é uma questão que não passa incólume por Border. A fronteira entre o que é masculino e feminino é encarada de uma forma que pode parecer esquisita demais ao primeiro olhar, mas que nos fascina – assim como Tina fica fascinada com a figura de Vore.
Border é um filme bem difícil de se definir. Ele pode ser muitas coisas. Mas uma coisa é certa, depois de vê-lo, ele não sairá da sua cabeça. Se você vai gostar ou não pouco importa, mas ele vai te afetar da forma mais inesperada possível.
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