Caetano vai processar bispo que “gostaria de dar veneno de rato” para ele
Em missa pela ditadura, bispo dom José Francisco Falcão chama Caetano Veloso de imbecil e diz que “gostaria de dar veneno de rato para ele”. Artista anuncia que vai à Justiça
Em uma missa no último dia 31 de março, o bispo Dom José Francisco Falcão afirmou, referindo-se a Caetano Veloso, que gostaria de “dar veneno de rato” para o “imbecil” que compôs a música “É proibido proibir”.
A fala do bispo repercutiu nas redes sociais e Caetano Veloso anunciou que vai interpelar judicialmente o líder religioso para que ele esclareça quem é o “imbecil” e qual seria a pessoa que ele gostaria de matar com o veneno. Caetano é o autor da canção, lançada em 1968.
Joseita Brilhante Ustra, viúva do coronel torturador Carlos Brilhante Ustra estava presente na missa. Além dela, foram vistos os generais Paulo Chagas (que disputou o governo do Distrito Federal), Rocha Paiva (que foi amigo de Ustra e integra a Comissão de Anistia) e o deputado federal do PSL general Eliéser Girão (RN). Algumas pessoas foram de verde e amarelo.
Veneno de rato
Ao tratar de disciplina e hierarquia durante a homilia, o bispo da Arquidiocese Militar disse que até mesmo as liberdades têm suas restrições. E citou a canção de Caetano. “E tem um imbecil que nos anos 70 cantou que é proibido proibir. Gostaria de dar veneno de rato para ele”, afirmou. O áudio vazou.
O 31 de março é a data marcada pelo golpe de 1964 que tirou João Goulart do poder e instaurou a ditadura militar no Brasil, que durou até 1985. Em nota, a Arquidiocese Militar nega que a missa tenha sido em homenagem ao golpe.
O comentário do bispo Falcão recebeu diversas críticas nas redes sociais. “Esse bispo tem que ser penalizado pelo Papa. Onde já se viu um padre pregar assassinato?”, questionou um internauta. “É ou não é a ascensão do Fascismo até nos ditos ‘santos’?”, indagou outro.
Letra — É proibido proibir (Caetano Veloso)
A mãe da virgem diz que não
E o anúncio da televisão
Estava escrito no portão
E o maestro ergueu o dedo
E além da porta
Há o porteiro, sim…
E eu digo não
E eu digo não ao não
Eu digo:
É! — proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir…
Me dê um beijo, meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estantes, as estátuas
As vidraças, louças, livros, sim…
E eu digo sim
E eu digo não ao não
E eu digo:
É! — proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir…
(falado)
Caí no areal na hora adversa que Deus concede aos seus
para o intervalo em que esteja a alma imersa em sonhos
que são Deus.
Que importa o areal, a morte, a desventura, se com Deus
me guardei
É o que me sonhei, que eterno dura
É esse que regressarei.
Me dê um beijo meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estátuas, as estantes
As vidraças, louças, livros, sim…
E eu digo sim
E eu digo não ao não
E eu digo: É!
Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir…