Economia

Ciência econômica

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Economistas parecem ter adotado a simplista ideia de que a economia estará bem se, e somente se, os empresários aumentarem seus lucros, seja gastando menos com pessoal, com impostos ou, num discurso oportunista de ocasião, com a previdência.

Imagem: Corriere

Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político

Eu, leigo, entendo tanto de economia como qualquer economista formado na USP, em Chicago ou numa EAD: muito. Ou porra nenhuma, que em economia esses níveis de saber se equivalem.

O que quero dizer é que a Economia é uma ciência extremamente subjetiva. Grandes nomes dela podem pensar antagonicamente. E mais, tudo a interfere e é interferido por ela.

De convergência apenas a ideia de que pra sociedade ir bem a economia deve estar bem. E, a partir dessa premissa, as divergências iniciam.

A primeira questão é: o que afinal é a economia estar bem; ou qual o termômetro pra medirmos isso.

Os economistas formados e/ou influenciados na Universidade de Chicago, como são os mentores econômicos do Brasil hoje, parecem ter adotado a simplista ideia de que a economia estará bem se, e somente se, os empresários aumentarem seus lucros, seja gastando menos com pessoal, com impostos ou, num discurso oportunista de ocasião, com a previdência.

É uma ideia que parte do pressuposto na confiança nos empresários (e eles não são amiúde elevados a heróis?). Confia-se que, em diminuindo sua planilha de custos, automaticamente iriam aumentar os salários dos seus “colaboradores” (eufemismo de empregados) e/ou contratariam mais, sic, colaboradores.

Isso é o mesmo que crer que eles não estão preocupados em aumentar seus lucros para poderem aumentar seus pro-labore ou pra aumentar a sobra do fluxo de caixa a ser dividido entre os sócios no fim do ano. Tal pensamento crê que os empresários irão reinvestir todo o lucro aumentado na própria empresa, sem levar em conta, por exemplo, que algumas empresas podem até ter capacidade financeira, mas não precisam mais crescer, pois não tem capacidade de aumentar seus clientes num prazo exequível.

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É um pensamento legítimo, mas tão ingênuo como o da minha filha que me obedece por três dias a fio porque senão o coelhinho da Páscoa não lhe deixará chocolates. Neste caso, o coelhinho me foi mais eficiente do que muitos subempregos oferecidos pelos empresários. Coelhinho, meu verdadeiro herói.

É certo que pra economia andar bem, por óbvio que as empresas devem, em algum grau, estarem bem. E sim, a maioria dos empregos está no setor privado. E nada contra isso. Apesar de frequentes acusações, não defendo o socialismo, em que os meios de produção seriam do estado. Até me pareceria o ideal, mas como o próprio Marx previu, isso é utópico. Economista que não sou, defendo um capitalismo amplo, em que todos tenham real acesso a ele.

É certo, também que, se a economia é por tudo interferida, pra ela estar bem, os assalariados devem ter aumentado seu poder de consumo. E isso sem contar com a benevolência dos patrões.

Com os salários aumentados, com certeza haverá mais consumo. E isso é regra, não uma dedução lógico-simplista. As pessoas precisam consumir. Por que, por exemplo, tirar dinheiro da previdência para que ele volte às empresas e essas, por sua vez, devolvam às pessoas se podemos entregar esse dinheiro (possibilidade de consumo) diretamente ao consumidor?

A lógica está invertida. Ao invés de se aumentar os salários, do trabalhador e do aposentado, para que ele seja entregue às empresas pelo consumo, se está tirando do trabalhador e dando diretamente às empresas, para que elas repassem parte ao trabalhador. É ilógico. É perverso.

O coelhinho por certo não concorda com isso. E essa discordância é uma boa desculpa para os pais que tiveram arrochados seus salários e por isso não têm dinheiro de pagar cinquenta pau por um ovo de poucas gramas darem a seus filhos.

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*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”

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