Empresário fã de Bolsonaro admite ser o responsável pela gravação do vídeo que exalta o golpe e a ditadura militar divulgado pela Presidência da República no último domingo (31). Ator disse que foi enganado
Um empresário paulista, eleitor declarado do presidente Jair Bolsonaro, assumiu nesta terça-feira (2) ser o responsável pela gravação do vídeo que exalta o golpe e a ditadura militar divulgado pela Presidência da República no último domingo (31). As informações são do Congresso em Foco.
Em nota (veja a íntegra no fim da reportagem), Osmar Stabile diz que produziu o vídeo por sua sua iniciativa e com recursos próprios. O empresário afirma que é um “entusiasta do contragolpe preventivo“, pois, segundo ele, é “assim que boa parte que os historiadores sem ideologias pré-concebidas enxergam ‘1964‘”.
O advogado Piraci Oliveira, que defende Stabile, afirma que seu cliente nunca esteve com Bolsonaro e que não enviou o vídeo para representantes do governo federal. “O vídeo foi encaminhado para grupo de amigos. Ele faz vídeos desse tipo. Não há qualquer relação com o governo. Ele nunca esteve com o presidente. Não há dinheiro público envolvido nem qualquer relação com o Estado“, diz Piraci.
Opinião de forma livre
Stabile alega que agiu como qualquer cidadão “quite com suas obrigações constitucionais e legais”. “Tenho o total direito de expor minha opinião de forma livre“, defende. “Não pretendo fazer revisionismo histórico algum com o meu vídeo. Só tive e tenho a intenção de mostrar a outra face da moeda“, afirma. “E o povo brasileiro pode e deve conhecer outros argumentos, que não aqueles repetidos compulsoriamente, sem respeito aos fatos como eles, de fato, ocorreram“, acrescenta.
Saiba mais: O que a psicologia diz sobre as pessoas que negam a ditadura?
A autoria do vídeo virou um grande mistério depois que a Secretaria de Comunicação da Presidência o divulgou por meio de um grupo do Whatsapp voltado para jornalistas. O Planalto se recusou a informar quem havia feito a gravação, tampouco esclareceu quem autorizou seu envio ao grupo. O vice-presidente Hamilton Mourão atribuiu a divulgação ao presidente Jair Bolsonaro. O porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, se recusou a comentar o assunto e deu a discussão por encerrada.
Males maiores
Stabile ressalta que não teve a pretensão de “mexer com os brios, dores e sentimentos daqueles que se dizem perseguidos pelas Forças do Estado naquele importante período da nossa história“. “Mas acredito plenamente nos esforços de nossas Forças Armadas que evitaram males políticos maiores para a nação. E esse lado da história precisa ser conhecido pelas novas gerações!”
Segundo ele, a narrativa predominante sobre a ditadura traz “meias verdades ou mentiras”. “Meu vídeo, afinal, restringiu-se a falar de um momento pré-regime militar. As Forças Armadas agiram naquela oportunidade rigorosamente dentro da Lei e obedecendo a Constituição de 1946, então vigente“, considera. Em 2017 Stabile se lançou candidato a presidente do Corinthians pela oposição, mas acabou retirando a candidatura nos últimos dias.
Exército da salvação
Ainda no comunicado, o empresário paulista faz uma defesa enfática das Forças Armadas. “O Exército nos salvou e nos salva! Todos os dias! No combate aos focos da dengue, no front da segurança pública, construindo estradas, educando e formando jovens brasileiros, impedindo os ventos frios que massacraram povos em nome de regimes que nunca semearam a democracia, como é de conhecimento geral“, sustenta. “Feliz de um povo que pode criticar suas Forças Armadas, mas pode contar com elas! Sempre!”, emenda.
No início da tarde, a reportagem foi procurada pelo advogado que representa Osmar Stabile, que repassou seguinte nota. Veja a íntegra:
“DECLARAÇÃO
Como Autor-Produtor do vídeo divulgado na data de 31/03/2019 faço essa Declaração. Fi-lo (o vídeo), de moto próprio e às minhas expensas.
Isto posto, venho esclarecer que:
Como cidadão, quite com suas obrigações constitucionais e legais, tenho o total direito de expor minha opinião de forma livre.
Sou um patriota e entusiasta do contragolpe preventivo (pois é assim que boa parte que os historiadores sem ideologias pré-concebidas enxergam “1964”).
Não tenho e nem tive a pretensão de mexer com os brios, dores e sentimentos daqueles que se dizem perseguidos pelas Forças do Estado naquele importante período da nossa história. Mas acredito plenamente nos esforços de nossas Forças Armadas que evitaram males políticos maiores para a nação. E esse lado da história precisa ser conhecido pelas novas gerações! Uma só cansada narrativa que traz meias verdades ou mentiras não pode ser o único norte para um povo que necessita conhecer sua história! Meu vídeo, afinal, restringiu-se a falar de um momento pré-regime militar. As Forças Armadas agiram naquela oportunidade rigorosamente dentro da Lei e obedecendo a Constituição de 1946, então vigente. Ver seu Artigo 177, que fala por si.
O Exército nos salvou e nos salva! Todos os dias! No combate aos focos da dengue, no front da segurança pública, construindo estradas, educando e formando jovens brasileiros, impedindo os ventos frios que massacraram povos em nome de regimes que nunca semearam a democracia, como é de conhecimento geral.
Feliz de um povo que pode criticar suas Forças Armadas, mas pode contar com elas! Sempre! |
Deem a missão! As Forças Armadas a cumprirão sem pestanejar.
Por fim, não pretendo fazer revisionismo histórico algum com o meu vídeo. Só tive e tenho a intenção de mostrar a outra face da moeda.
E o povo brasileiro pode e deve conhecer outros argumentos, que não aqueles repetidos compulsoriamente, sem respeito aos fatos como eles, de fato, ocorreram.
Como disse no meu vídeo O EXÉRCITO (pela sua atuação firme e Constitucional em 31 de março de 64) NÃO QUER PALMAS NEM HOMENAGENS. O EXÉRCITO APENAS CUMPRIU O SEU PAPEL.
E foi apenas isso que enfoquei.
Que Deus nos proteja! Que Deus proteja TODO povo brasileiro, independentemente de sua bandeira ideológica! Eu tenho a minha!
Sou eleitor do Presidente Jair Bolsonaro. E penso que todo Democrata deve respeitar a vontade da maioria demonstrada nas urnas.
É o que tinha a falar — e isso é tudo o que tinha a declarar sobre a postagem de meu vídeo em 31 de março.
E peço respeito por minhas convicções.
OSMAR STABILE DIRETOR PRESIDENTE BENDSTEEL INDUSTRIA E COMÉRCIO LTDA RG 7.306.210-8 CPF 667.923.398-49”
Sobre o ator
Em entrevista pela manhã, o ator profissional especializado em propagandas, protagonista do vídeo pró-golpe Paulo Amaral, homem que aparece à frente da bandeira do Brasil agradecendo ao Exército pelo golpe militar de 1964 e narra o texto lido nas imagens divulgadas em canais de WhatsApp do Palácio do Planalto no domingo, disse que estava impedido de comentar o assunto. Amaral afirmou ter sido contratado no último sábado apenas para “para fazer um comercial, para ler um texto”. “Estou sob sigilo“, declarou. “Não posso falar nada. O meu negócio era gravar um texto”, explicou. “Me pediram para aguardar um ou dois dias. Eles devem falar sobre o assunto até amanhã”.
Sem revelar se apoiava as ideias expostas no vídeo ou o projeto político do presidente Jair Bolsonaro, Amaral disse que “não tinha ideia” do que seria feito da gravação e nem que “iria dar esse problema que deu”. O ator também não quis revelar quem teria contratado nem quanto teria recebido pelo serviço –“é particular”.
(…)
Ele contou ainda que “não tinha a mínima ideia dessa repercussão” e ficou sabendo da divulgação do vídeo no domingo à noite, ao receber uma ligação do filho. Segundo o protagonista do vídeo, ele disse que o comercial “está pra cima, pra baixo, do lado esquerdo, do lado direito”.
Leia também:
“Jogam água no chão e fixam eletrodos em meus genitais…”
Golpe de 1964: Não há o que comemorar
1964: Isso precisa ser lembrado, jamais “comemorado”
A OAB apoiou o golpe de 1964. Quando se arrependeu, já era tarde demais
11 filmes para entender a ditadura militar no Brasil
Empresários que apoiaram golpe de 64 ficaram milionários com dinheiro público
A contribuição decisiva do Ipês para o Golpe de 1964
Ex-torturador espanta o Brasil com relato sobre mortes e torturas na ditadura
Porões da ditadura: Sítio da tortura esconde cenário horripilante
Edson Sardinha, Congresso em Foco | Globo
Siga-nos no Instagram | Twitter | Facebook