A garotada e o Bolsonaro
É certo que Bolsonaro defende medidas simplistas e propaga, direta ou indiretamente, preconceitos. Só que foram justamente essas “respostas” que atraíram os jovens
Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
Jair Bolsonaro, numa outra de suas comumentes bobagens, disse, a despeito da educação no Brasil, que não podemos despertar “na garotada” o interesse por política.
Nem vou falar sobre a Teoria Construtivista, de Piaget, aplicada nas melhores escolas (inclusive nas particulares e voltadas à elite, que vê o educando como protagonista do seu processo de aprendizagem. Logo, um protagonista do seu viver e na relação com o mundo.
Muito menos falarei do nosso principal intelectual, um dos autores mais citados em estudos científicos do Planeta todo, Paulo Freire, pra não ser chamado de marxista-esquerdopata-petista-lulista-comunista e, por último, nazista (já que Bolsonaro, contrariando inclusive os estudos alemães, garante que o partido de Hitler era de esquerda). Pra Freire (impossível não o citar), educar é um ato político, pois tudo o que o homem faz é político. Entender de política é saber “ler”, entender o mundo.
Vou me ater ao próprio amplo contexto em que Bolsonaro foi eleito. Sim, alguém que sem embasamento algum acha que o Nazismo foi um movimento de esquerda e que os jovens não podem se interessar por politica está no mais importante cargo do Brasil.
Mas, como dizia, o contexto.
Vários fatores levaram à eleição de Bolsonaro. Alguns subjetivos e outros concretos, como as fake news (ou a mamadeira de piroca e o kit gay já foram encontrados em alguma escola, por exemplo?).
Como fator subjetivo, um dos aspectos foi justamente o interesse pelos jovens em política. Mudança essa de difícil precisão de quando começou, mas que vem de pelo menos a popularização das redes sociais e os conseguintes movimentos de junho de 2013, em que a gurizada saiu às ruas para protestar. E tal movimento iniciou em Porto Alegre, contra o aumento das tarifas de ônibus daquela Capital. Estudantes (jovens!), articulados por partidos políticos (olha a política aí!), trancaram o trânsito da capital dos gaúchos em contrariedade ao iminente aumento. Depois, o movimento se espalhou pelo Brasil.
Exatamente. Por paradoxal que seja, a ascensão de Bolsonaro está relacionada com o aumento da politização dos jovens.
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Tá certo que Bolsonaro defende medidas simplistas e propaga, direta ou indiretamente, preconceitos. Só que foram justamente essas “respostas” que atraíram os jovens, principalmente o principal pensamento simplista e comprovadamente sem eficácia, o armamento da população “de bem” (seja lá o que isso for). É que, de fato, a sensação de insegurança em que vivemos, enseja pensamentos imediatistas e desesperadores.
Mas ao propor que os jovens não possam, ou mesmo não precisam se interessar por política é defender um atraso de décadas.
Desde o Fora Collor que os jovens pareciam anestesiados com relação à política. E o próprio pensamento direitista (do qual discordo, mas é legítimo que exista) parecia constrangido de se exibir, se escudando em termos como praticidade, realidade e pragmatismo.
Hoje, não mais. Jovens assumidamente conservadores defendem também abertamente suas ideias. O patético fica por conta do tal “liberal na economia e conservador nos costumes”. Excetuando-se esse e outros pensamentos discriminatórios, as ideias liberais existem e podem, repito, serem defendidas.
Mas, para se defender qualquer que seja a posição, há que se ter uma posição! Há que se conhecer e se ter um embasamento.
Acho que nem à própria direita interessa uma geração alienada politicamente.
Por que ao bolsonarismo a ignorância serve?
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*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”
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