Depois de divulgar em seus canais um vídeo em que Olavo de Carvalho deprecia militares, Jair Bolsonaro volta atrás, apaga o conteúdo e faz a primeira crítica pública ao seu guru político
O presidente Jair Bolsonaro compartilhou, no último domingo (21), um vídeo que aumentou a tensão na disputa por espaço dentro de seu governo entre os apoiadores do escritor Olavo de Carvalho e os militares.
Na gravação compartilhada pelo presidente, Olavo diz que os “milicos” só fizeram “cagada” nas últimas décadas e que “entregaram o país ao comunismo”. Depois de muita repercussão, a publicação foi apagada nesta segunda-feira (22).
A exclusão do material coincidiu com um post feito quase no mesmo horário pelo vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente, no Twitter.
“Começo uma nova fase em minha vida. Longe de todos que de perto nada fazem a não ser para si mesmos. O que me importou jamais foi o poder. Quem sou eu neste monte de gente estrelada?”, escreveu Carlos, também na segunda, em mensagem que sugere seu afastamento do controle das redes sociais do pai e a sua participação no compartilhamento do vídeo.
Na gravação, Olavo contesta o principal argumento utilizado pelos militares para justificar a tomada do poder em 1964, com a destituição do então presidente João Goulart. “Esse pessoal subiu ao poder em 1964, destruiu os políticos de direita e sobrou o quê? Os comunistas, que tomaram o poder. Eles dizem: ‘Livramos o país dos comunistas’. Não, eles entregaram o país ao comunismo”, diz o escritor em trecho do vídeo.
“Se tivessem vergonha na cara, confessariam seu erro, mas é só vaidade pessoal, vaidade grupal e vaidade esotérica. Os milicos têm que começar a confessar os seus erros”, afirma. “Essa é a lei de Cristo. Primeiro, os seus pecados. Depois, os dos outros. Criaram o PT e não têm coragem de confessar.”
Olavo também sugere que o interesse dos militares não é patriótico. “Todos querem entrar na elite, não derrubar a elite. Tudo o que querem é ficar em Brasília, brilhar e embolsar o dinheiro do governo.”
No início do mês, Bolsonaro disse em café da manhã com jornalistas que era responsável por tudo o que entrava em suas redes sociais, mesmo que não tivesse sido o autor da publicação, já que apenas pessoas de sua “total confiança” têm acesso às respectivas senhas.
Carlos, que sempre apontou Olavo de Carvalho, como seu principal mentor intelectual, é visto como desafeto do vice-presidente Hamilton Mourão, que tem sido atacado pelo escritor gaúcho radicado nos Estados Unidos.
Na semana passada, após encontro com Olavo, o vice-líder do governo no Congresso Pastor Marco Feliciano (Podemos-SP), entrou com pedido de impeachment contra o vice-presidente. Feliciano acusa Mourão de deslealdade e de “conspirar” contra Bolsonaro.
Nota da Presidência
O vídeo de Olavo foi apagado de todas as redes sociais do presidente Jair Bolsonaro, mas o estrago já estava feito. Na noite desta segunda-feira, o mandatário divulgou uma nota em que critica o seu guru publicamente pela 1ª vez, ainda que de maneira tímida.
Bolsonaro afirmou que as críticas do escritor a militares “não contribuem” com o governo. “As recentes declarações de Olavo de Carvalho contra integrantes dos poderes da República não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento de objetivos propostos em nosso projeto de governo”, afirmou o presidente por meio de nota lida pelo porta-voz da Presidência.
No entanto, Bolsonaro ponderou ao afirmar que Olavo “teve um papel considerável na exposição das ideias conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela esquerda e que tanto mal fez ao país”.
Na nota, lida pelo porta-voz da Presidência, Bolsonaro diz ainda ter “convicção de que o professor, com seu espírito patriótico, está tentando contribuir com a mudança e com o futuro do Brasil”.
Olavo de Carvalho vive nos EUA, estudou astrologia e é considerado uma espécie de guru dos filhos do presidente Jair Bolsonaro e de ministros do chamado núcleo ideológico do governo, como Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Abraham Weintraub (Educação).
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