E se no momento do empurrão a arma tivesse disparado? Isso não seria nada raro, o movimento foi de uma imprudência revoltante. O PM ainda apontou para os demais estudantes logo em seguida
Mauro Donato, DCM
A boa imagem da PM perante estudantes do ensino público não durou um mês após o massacre em Suzano.
Na noite de quarta-feira, um grupo de alunos da escola Frederico de Barros Brotero protestava exigindo o afastamento do diretor que, segundo os estudantes, nada tem feito em relação às constantes queixas por melhorias nas instalações.
Chamados pela direção da escola para ‘conter’ o protesto, policiais formaram um cordão em frente ao portão e impediram a entrada dos manifestantes. Uma aluna tentou e foi então empurrada com o cano da arma (uma arma longa).
O PM ainda apontou para os demais logo em seguida.
E se no momento do empurrão a arma tivesse disparado? Isso não seria nada raro, o movimento foi de uma imprudência revoltante.
A escola estadual que fica em Guarulhos é mais uma dos incontáveis exemplos da administração tucana: segundo alunos, não há manutenção no prédio e os banheiros ficam alagados.
Há também uma revolta pela dificuldade que o diretor estaria impondo no ingresso dos alunos do período noturno.
“Não deixam pessoas interessadas em estudar entrarem na escola. Apenas por puro prazer em ver alunos perderem matérias, provas. Uma falta de compreensão com alunos que trabalham e dependem do transporte público para chegar na escola a tempo”, postou em rede social o aluno Arthur Amorim.
“Temos mais aulas vagas do que aula. Não há tolerância, se chegarmos 19:01 na escola, não podemos entrar, tem muita gente que vem do trabalho, pegamos o ônibus, tem trânsito, tem acidentes, diversos fatores e aí chegamos na escola não podemos entrar e perdemos um dia de aula (…) e somos obrigados a ser enquadrados, que é uma humilhação, ainda mais em ambiente escolar!”, desabafou Janaina Libório.
As ocupações que ocorreram no ano de 2015 foram um grito de desespero diante das condições precárias em que se encontram as escolas públicas.
À época o DCM flagrou materiais escolares estocados e não fornecidos aos alunos, estruturas em péssimas condições de uso, banheiros inutilizáveis, escassez quase completa de material de todo tipo. Inclusive cadeiras.
Estive em ocupações de diversas regiões da cidade. O quadro era idêntico em todas. Mais de 200 escolas foram ocupadas.
Mas…
Além de abafá-los com violência, pouco ou nada foi feito em atenção ao que aqueles jovens revelaram. O descaso e a truculência das autoridades persistem.
Não é fácil estudar no Brasil.
Não bastasse ter que sentar no chão e saber que os livros didáticos correm o risco de serem alterados de modo que a história se adeque à ficção criada por Ricardo Vélez, estudantes não estão conseguindo se inscrever no Fies e ninguém sabe como será o Enem neste ano já que o milagre econômico que acompanharia Bolsonaro não deu as caras e fez a gráfica multinacional encerrar as atividades.
Os alunos da escola Frederico de Barros Brotero farão hoje novo protesto e vão pedir a renúncia do diretor da escola que nada fez por uma aluna que estava na ponta da arma de um policial.
Demais estudantes precisam pesquisar sobre o ano de 2015 e ver como podem ajudar.
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