Sociólogo italiano diz que Lula é o "líder político mais importante do mundo"
Lula é o mais importante líder político do mundo, afirma Domenico de Masi. O sociólogo italiano esteve com o ex-presidente em Curitiba nesta quinta-feira e relata: "Lula está muito bem psicologicamente e intelectualmente"
Cláudia Motta, RBA
Professor-emérito de Sociologia do Trabalho na Universidade La Sapienza, de Roma, Domenico de Masi é famoso no Brasil por seus livros que tratam das relações de trabalho, felicidade, futuro. A sociedade pós-industrial (1999), Desenvolvimento sem trabalho (1999), O ócio criativo (2000), O futuro do trabalho (2003) estão entre os mais lidos. A tal ponto de, em 2010, ter se tornado cidadão honorário do Rio de Janeiro.
De Masi é mais uma personalidade internacional que aportou em Curitiba, não por suas obras, mas para visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sede da Superintendência da Polícia Federal, no bairro de Santa Cândida.
O sociólogo saiu do encontro, nesta quinta-feira (25), impressionado. “Lula está muito bem psicologicamente e intelectualmente”, disse aos jornalistas e manifestantes que o esperavam na Vigília Lula Livre. “Continua sendo um grandíssimo líder político, o mais importante neste momento no mundo”, afirmou. “Mesmo encarcerado, o prestígio de Lula continua em todo o mundo.”
Como ocorre com todos os visitantes que recebe, Lula aproveitou para agradecer à Vigília e dizer que ouve todas as noites e todas as manhãs os votos dos manifestantes. “Disse que está muito próximo à luta e a Vigília é muito importante para ele.”
O ex-presidente enviou outro recado por intermédio do sociólogo. “Lula disse que tem uma grande dignidade e que nunca vai negociar sua liberdade pela dignidade. E pediu a todos que façam a mesma coisa: jamais negociar a liberdade com a dignidade”, ressaltando que a luta da esquerda é de longo prazo. “Ao fim desse caminho haverá uma esquerda muito melhor do que a que havia no começo”, afirmou Lula.
De Mais também agradeceu à Vigília por tudo que está ocorrendo e que irá relatar sua experiência por onde passar. “Em todo o mundo a intelectualidade concorda que Lula está preso injustamente.”
Lula livre no mundo
Há exatamente um ano, em entrevista ao R7, o sociólogo Domenico de Masi já dizia: “na Europa, Lula é um símbolo. Nos Estados Unidos, Lula é um símbolo e na Ásia Lula é um símbolo. E eu creio que se está arriscando muito, como se diz na Itália, com a prisão de Lula. Terem prendido Lula é perigoso, quase infantil”.
Símbolo mundial, desde sua prisão em abril de 2018, além de juristas, políticos, líderes populares, do movimento sindical artistas e religiosos brasileiros, Lula tem recebido em Curitiba lideranças internacionais que atuam em sua defesa.
Prêmio Nobel da Paz, o ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel esteve em Curitiba poucos dias após a prisão política do ex-presidente e voltou em agosto, quando finalmente conseguiu visitar o amigo. Junto do ex-chanceler Celso Amorim, entregaram a Lula uma dedicatória do Papa Francisco. Esquivel lidera uma campanha pelo Nobel da Paz para Lula, em reconhecimento ao seu legado no combate à fome e à miséria no Brasil.
“Não conheço outro líder que tirou 36 milhões de pessoas da extrema pobreza. Isso é um feito que precisa ser reconhecido, porque tirar milhões de pessoas da extrema pobreza, é construir a paz”, lembra.
Em maio, o ator norte-americano e ativista de direitos humanos Danny Glover. “Meu irmão e companheiro Lula tem que ser libertado para continuar com todas as conquistas que ele alcançou para o povo. Ele é um símbolo de trabalho e amor que repercutiu não só no Brasil como no mundo”, disse.
Em junho, o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica – preso político por 12 anos durante a ditadura uruguaia – afirmou ao companheiro: “Podem prender seu corpo, mas jamais sua mente e seu coração, eles seguem pelos rincões do Brasil, sobretudo pelos lugares mais pobres”.
Para o deputado italiano do Parlamento Europeu Roberto Gualtieri “Lula é uma referência para todos os democratas do mundo e da Europa por suas políticas de igualdade social e desenvolvimento. Lula deixou o Brasil mais parecido com a Europa, conjugando políticas de crescimento econômico com igualdade social”, afirmou em visita ao ex-presidente, em julho.
Ernesto Samper, ex-presidente da Colômbia e ex-secretário-geral da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), também esteve com Lula em agosto. “Não há um único dos princípios universais do devido processo legal que não tenha sido violado no caso do ex-presidente Lula”, disse.
Ainda em agosto, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos resumiu o sentimento após encontrar Lula. “O que vi foi a grandeza de um homem que sabe inspirar não só o país, mas todos aqueles que o visitam. Não se trata do Lula pessoa, mas do Lula ideia. A ideia de um país com esperança em uma sociedade melhor e inclusiva, mais justa e fraterna.”
No mesmo dia, Lula recebeu a visita de Martin Schulz, líder da social-democracia alemã e ex-presidente do Parlamento Europeu. “Não estou aqui para proferir juízo sobre a Justiça brasileira, mas nenhum poder deste mundo poderá impedir-me de confiar num homem com quem cooperei durante muitos anos e em quem continuo confiando.”
O linguista e filósofo norte-americano Noam Chomsky, um dos mais importantes pensadores da atualidade, classificou Lula como “uma das figuras mais significativas do século 21”, após visitá-lo em setembro. “É encorajador encontrá-lo e passar um tempo com ele, que por direito deveria ser o presidente do Brasil.”
No mesmo mês, Lula recebeu o ex-primeiro-ministro italiano Massimo D’Alema e o ex-governador do Distrito Federal do México, Cuauhtémoc Cárdenas. D’Alema classificou a prisão de Lula como uma monstruosidade: “Os juristas europeus constataram que a condenação veio em um processo em que não foram garantidos os direitos dele e não existem provas que o incriminam.”
Cárdenas, reafirmou que a luta pela liberdade do ex-presidente é um compromisso coletivo, parte de uma agenda política que enfrenta o golpe que a classe trabalhadora brasileira vive desde 2016. “Temos confiança de que essa luta que se trata aqui, a partir de uma prisão, vai culminar com a vitória do povo.”
Em novembro, o ex-presidente Lula recebeu o fundador do Podemos na Espanha, Juan Carlos Monedero, que comparou o cárcere de Lula ao de Mandela. “A História lembrará de Lula, mas não de seus algozes.”