Redação Pragmatismo
Direita 06/Mai/2019 às 14:00 COMENTÁRIOS
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Deputada aluna de Olavo de Carvalho mira a destruição de Paulo Freire

Publicado em 06 Mai, 2019 às 14h00

Maníacos ideológicos: deputada que é "aluna" de Olavo de Carvalho há 13 anos quer revogar lei que escolheu Paulo Freire como Patrono da Educação Brasileira

Deputada aluna Olavo de Carvalho destruição Paulo Freire
Caroline Rodrigues De Toni (Imagem: Captura de tela Twitter)

RBA

Atacado por parlamentares do campo conservador e pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, o educador Paulo Freire receberá, in memoriam, a Medalha Timbira, condecoração máxima do estado do Maranhão. O anúncio, feito em rede social pelo governador Flávio Dino (PCdoB), coincide com nova ofensiva contra aquele que é considerado uma das principais referências do ensino em todo o mundo. A morte de Freire completou 22 anos nesta quinta-feira (2).

Reconhecimento à importância de sua monumental obra para a educação em todo o mundo. Claro que também no nosso Estado, pois agimos inspirados em suas lições, que são eternas“, escreveu Dino, que no ano passado tornou o piso salarial dos professores da rede pública estadual, de R$ 5.750, o maior do país.

Segundo dados divulgados pelo governo maranhense, com base no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) subiu no estado entre 2016 e 2017. E um dos destaque é para a educação: de 2012 a 2017, o IDHM subiu de 0,609 para 0,682. Em 2015, o Executivo estadual lançou o programa Escola Digna, para construir e reformar unidades – foram mais de 800 desde então.

Enquanto isso, Jair Bolsonaro concedeu ao astrólogo Olavo de Carvalho, mais conhecido por pronunciamentos virtuais polêmicos e agressivos, o mais alto grau da Ordem de Rio Branco, condecoração que distingue aqueles que se destacam por “serviços meritórios e virtudes cívicas“.

O presidente declarou nesta semana que é a favor de tirar de Paulo Freire o título de Patrono da Educação Brasileira. Não falou em substitutos.

Nesse sentido, a deputada federal Caroline de Toni (PSL-SC) protocolou terça-feira um projeto de lei para revogar a Lei 12.612, de 2012, que deu o título ao educador brasileiro. A argumentação é singela: “Não podemos aceitar que a nossa educação seja pautada por um ideólogo marxista“, escreveu.

Freire nunca foi comunista. Já houve uma tentativa no Congresso, rechaçada, de retirar o título.

A parlamentar foi a mesma que, em parceria com colegas, apresentou projeto sobre o programa Escola sem Partido. E ela se apresenta como “aluna” de Olavo desde 2006 – 13 anos, quase o período do ensino básico, médio e superior, somados.

Mas foi só recentemente, em março, que ela conheceu pessoalmente o guru do bolsonarismo. O comentário sobre o encontro não é muito claro: “Recomendo que todos façam o curso virtualmente, precisamos urgentemente inverter o modo como vemos a política, para que o protagonismo da vida social não venha dela, mas sim dos cidadãos“.

Em sua justificação para o projeto, Caroline afirma que “evidências” – não especifica quais – mostram que o “enfoque excessivo na formação política do aluno” não oferece respostas às deficiências da educação nacional. O método de Freire tem foco no ensino básico. A deputada também foi presidenta do Movimento Brasil Livre de Chapecó (SC).

Maníacos ideológicos

Em entrevista à revista CartaCapital, a deputada Luiza Erundina (Psol-SP) credita os ataques a Paulo Freire a uma aversão à filosofia que defende a conscientização das pessoas, “torná-las sujeitos da sua própria vida“. Para Erundina, autora do projeto que resultou na lei de 2012, a proposta de Freire tem “poder transformador“, das pessoas e da realidade, “o que é ameaçador para sociedades autoritárias e conservadoras como esta que estamos vivendo hoje no Brasil“. Ela se refere aos críticos como “maníacos ideológicos, que não têm racionalidade nenhuma“.

A nova ofensiva contra Paulo Freire, cuja obra possivelmente é ignorada por quem a ataca, faz parte de uma série de ofensivas contra a educação brasileira, o ensino na área de humanas e à universidade pública. O governo já falou em corte de verbas para algumas instituições e posicionou-se contra o ensino de Filosofia e Sociologia, como se essas disciplinas impedissem o avanço de outras áreas.

Os recentes ataques do governo Bolsonaro ao ensino de humanidades e à universidade pública de modo geral merecem o veemente repúdio de todos os que entendemos o papel da educação para a formação da cidadania. Por isso, juntamo-nos aos protestos que as declarações e ações do presidente do Brasil e seu ministro da Educação vêm provocando no país e no exterior“, diz nota assinada pelos professores e pesquisadores Edson Capoano, Kamila Fernandes, Sylvia Moretzsohn e Tadeu Feitosa.

Desprezar o ensino de filosofia e sociologia em prol de áreas supostamente mais “úteis” é condenar o povo à ignorância. Impor o corte radical de 30% no orçamento de todas as universidades federais é condená-las à extinção. Cultivar o ódio ao professor e estimular os estudantes a denunciá-los é investir na degradação do caráter da juventude“, afirmam.

O jornal inglês The Guardian dedicou editorial à “política educacional” do governo. “Os políticos autoritário não são os únicos inimigos das humanidades. Existe também uma opinião de que a educação superior é mera servidora dos mercados, ainda que qualquer pessoa educada posa ver que esse é um caminho equivocado“, diz a publicação.

Os princípios da democracia liberal se veem ameaçados pela violência, mas também por algumas formas de agressão intelectual. Se queremos defendê-los e melhorar suas práticas, precisamos de mais filósofos e sociólogos.”

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