Educação

Greve nas Universidades Federais é tudo o que Bolsonaro quer

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É hora de fazer a luta conjunta, sem oposicionismo e estrelismo entre as diferentes linhas de pensamentos, é hora de unidade, hora de professores, técnicos, estudantes e sociedade ombrearem não só por esta, mas pelas futuras gerações.

(Imagem: Facebook Mídia Ninja)

Welitton Gerolane*, Pragmatismo Político

As Universidades públicas brasileiras representam muito daquilo que o Governo eleito combate. Mais da metade criadas nos últimos 15 anos, as Universidades romperam seus muros de fora para dentro e junto com as ações afirmativas são a maior e mais efetiva política de transferência de renda e avanço vertical da situação econômica das classes trabalhadoras, são pólos de diversidade e pluralidade cultural, econômica e social, são geradoras de mais de 90% do pensamento cientifico do país.

No contraponto, um Governo que se elegeu prometendo acabar com supostos privilégios das minorias, que aposta na desinformação e na guerra hibrida, e que tem como Ministro da Economia Paulo Guedes, que é irmão da vice Presidente da Associação Nacional das Universidades Privadas, Elisabeth Guedes.

A matemática é simples, a Universidade Pública que até outrora foi reservada a elite econômica do país, agora que abriu suas portas a periferia e a classe trabalhadora, deixou de ser importante para a elite econômica, que pode agora lucrar vendendo educação precarizada enquanto manda seus filhos a outros centros educacionais mundo a fora.

A medida anunciada pelo MEC não é blefe, é a mais pura e sincera intenção do Governo, talvez precipitada pela conjuntura, mas friamente calculada. Afinal, é das salas de aulas que podem surgir os questionamentos mais incisivos contra a reforma da previdência e a agenda privatizante e preconceituosa do Governo brasileiro.

Entretanto, de nada adianta termos esses elementos desvendados, se deixarmos de considerar que a guerra dos Bolsonaros e aliados não é nos princípios, mas sim, na comunicação e na reedição da narrativa política e que agora que eles dão as cartas, mais do que nunca, precisamos enfrenta-los no campo de batalha deles.

Com isso em mente, não fica difícil supor que depois de anos de ataques virtuais ás nossas instituições de ensino, que construindo a falaciosa ideia de que as nossas Universidades abrigam vagabundos, maconheiros, orgias e que vivem paralisadas, e depois de o corte anunciado ter gerado reação positiva de parcela da sociedade, uma greve neste momento fortaleceria a narrativa do caos, e fragilizaria ainda mais a imagem das nossas Universidades.

Por óbvio que com isso eu não quero dizer que está superada a estratégia de paralisação da força de trabalho como mecanismo de luta contra os abusos do capital e do Estado. Mas, quero dizer que nesse momento, especificamente, pode ser uma grande armadilha na qual não podemos cair.

Para o Governo pode ser o melhor cenário, as Universidades tirarão o foco da Reforma da Previdência e acumularão argumentos contra si próprias no seio na sociedade: dois coelhos com uma cajadada só.

O caminho dos que defendem a Universidade Pública deve ser o oposto neste momento, ao invés de fecharmos a Universidade, devemos abri-lá. Precisamos sair das salas de aula e bibliotecas, romper finalmente os muros da Universidade, também de dentro pra fora e leva-la de encontro a sociedade.

Precisamos sair das nossas confortáveis rodas acadêmicas de auto-elogios e divulgarmos aos quatro ventos as maravilhas científicas produzidas publicamente em nossas instituições, divulgar o conhecimento, fazer atendimento comunitário, trazer a sociedade para dentro, dar e assistir aulas de portas abertas. É a nossa única saída.

Ocupar as ruas sim, manifestações tantas quanto possíveis, passeatas, carreatas, panfletaços e twittaços. Mas com o foco em convencer a sociedade de que as Universidades são a solução e não o problema.

É hora de fazer a luta conjunta, sem oposicionismo e estrelismo entre as diferentes linhas de pensamentos, é hora de unidade, hora de professores, técnicos, estudantes e sociedade ombrearem não só por esta, mas pelas futuras gerações.

Para isso, os sindicatos de professores e técnicos já tem a sua pauta de mobilização com os cortes de direitos e quem sabe até de pessoal que 30% a menos de orçamento implicam, os estudantes já tem a sua pauta de mobilização com a possibilidade de a Universidade fechar antes da sua colação de grau, de faltar livros, assistência e pesquisa, e a sociedade terá a sua pauta de mobilização tão logo se perceba que os cortes invariavelmente vão afetar na receptividade de novos alunos pelas Universidades, que tendem a logo começar a suspender os processos vestibulares.

Precisamos fazer o Governo cair na armadilha que ele próprio criou.

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*Welitton Gerolane, estudante de Direito da UFPR, ex Vice Presidente da União Paranaense dos Estudantes (2013/2015) e membro da executiva estadual da Juventude do PT-PR

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