Jair Bolsonaro não se compromete com lista tríplice da PGR
Jair Bolsonaro diz que só respeitará lista tríplice "se houver um nome nosso". Declaração sinaliza que presidente quer o retorno da época do "procurador amigo" e simboliza o aparelhamento ideológico absoluto do estado brasileiro
blog do Tales Faria
O presidente Jair Bolsonaro tem sido questionado por parlamentares e auxiliares sobre se respeitará a lista tríplice dos procuradores da República para escolha do sucessor de Raquel Dodge como procurador-geral da República.
Lembrado por um líder governista de que não tem se comprometido com a lista elaborada em eleição interna da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), Bolsonaro respondeu:
“Não quer dizer que vou desrespeitar a lista tríplice. Mas só vou acolher se incluírem um nome nosso. Não tem sentido colocar um inimigo.”
Outra expressão que o presidente tem usado para definir o sucessor de Raquel de sua preferência é: “tem que ser meu peixe.”
No linguajar informal do presidente, “meu peixe” quer dizer amigo muito próximo, companheiro, aliado.
Mas o mandatário do Planalto sabe que não há muitos nomes próximos a ele entre os procuradores com possibilidade de se candidatar e de figurar entre os três mais votados da ANPR.
Na próxima segunda-feira (6) abrem-se as inscrições para os candidatos à lista tríplice. A eleição está marcada para 18 de junho e a posse, em setembro.
A votação só não foi acolhida em sua primeira edição, em 2001. O então presidente, Fernando Henrique Cardoso, optou por manter no cargo Geraldo Brindeiro, apelidado de “Engavetador-geral da República”.
A partir de 2003, no primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, todos os chefes do Ministério Público da União passaram a ser nomeados pelo presidente entre os nomes da lista. Lula e Dilma Rousseff escolheram o primeiro colocado da lista. Michel Temer nomeou Dodge, segunda colocada.
Releia: Próximo Procurador Geral da República pode definir destino político do Brasil
Ao UOL, o presidente da ANPR, José Robalinho Cavalcanti, afirmou que a escolha pela lista tríplice é uma forma de garantir ao procurador-geral independência em sua atuação. “Sem a lista tríplice, a Lava Jato seria uma sombra do que é“, disse.
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, deverá ser ouvido pelo presidente. Mas Bolsonaro declarou publicamente que não tem compromisso nem com seu auxiliar que comandou a Operação Lava Jato como juiz.
O presidente quer estar livre para escolher até mesmo um nome do Ministério Público Militar (MPM), do Ministério Público do Trabalho (MPT) ou do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Nesse quadro, até a atual chefe de todo o Ministério Público, Raquel Dodge, poderá ser reconduzida. Ela está desgastada entre os procuradores do Ministério Público Federal e não deverá se candidatar à lista da ANPR.
Mas, no caso de um impasse entre nomes da preferência do Planalto e do MPF, a permanência de Dodge pode ser uma solução intermediária. Seu nome conta com a simpatia dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Hoje, há mais de 10 nomes cotados para o cargo, entre candidatos à lista tríplice e aqueles que não se candidatarão, mas esperam ser nomeados por Bolsonaro.
Ou seja, a sucessão de Dodge está absolutamente em aberto.
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