Attilio Giuseppe*, Pragmatismo Político
O Movimento Passe Livre articulou em 2013 manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus. Supostamente um movimento de esquerda – a ala “radical” – que atacava o PT, por ter se conciliado com a direita e mantido a governabilidade através de alianças com partidos do centro. O barril de pólvora foi aceso por Black blocks, que não possuem comprometimento com debate político e, posteriormente, explodido após a apropriação da direita na tomada das ruas, com pautas fascistas.
Acreditava-se que a presidenta sem habilidades para aglutinar, a crise econômica e os protestos classistas seriam suficientes para assegurar vitória de Aécio nas eleições presidenciais do ano seguinte. Ledo engano: a direita aprendeu que o PT conquistou a população e se nem a Dilma, inábil politicamente, antipática e desarticulada para falar em público, perdia uma eleição, futuramente com quadros melhores em vista, o partido de centro- esquerda se consolidaria como única solução para articular interesses conflitantes no país.
A partir da reeleição da petista, um movimento paralisante assolou o congresso e a atuação de MBL e Vem Pra Rua – bombardeados com capital estrangeiro – insuflaram manifestações da classe média, comandadas pela Globo e apoiadas por empresários e forças armadas. O cerco estava armado e o impeachment era questão de tempo, mesmo sem crime.
O sentimento antipetismo espalhou-se pelos setores apolíticos da sociedade, que desprovidos de capacidade de análise e conhecimento, apoiavam um golpe de Estado. Feito.
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O Judiciário, para não denotar sua extrema parcialidade expôs membros de outros partidos de direita e passou o seguinte recado para a população: esquerda ou direita são todos corruptos. Num contexto de descrédito da classe política e analfabetismo funcional da população, quem sobra? A figura que parece não se alinhar a nenhum dos lados. Pouco tempo após eleito, a boçalidade gritante fez o serviço de autoflagelo. Resultado: nenhum político serve para governar e subliminarmente emergem novamente os militares.
Fundamental frisar, que os partidos da esquerda “radical” contribuíram para este cenário ao endossar o discurso de “fora PT”. Ciro Gomes, com sua vaidade ilimitada inviabilizou a candidatura do professor universitário, que carecia de ímpeto e visibilidade nacional. A Globo, não vê a hora de tirar bancada evangélica de sua sombra, nada melhor do que a saída do inepto e a ascensão das forças armadas, aliados históricos no país do coronelismo.
A população, como quase sempre bestializada, busca de última hora articular contra as medidas anunciadas pela balbúrdia governista, sem perceber que a instabilidade no contexto atual só contribuirá para o fortalecimento das forças armadas e de ações antiestado. Em terra aonde ninguém presta, só prestam opressores.
*Attilio Giuseppe é historiador e professor.
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