“Greve nacional da educação em 15 de maio é uma resposta a todos os ataques que a educação pública, os professores, estudantes e técnicos administrativos vêm sofrendo com toda essa perseguição ideológica e política”
Talita L. Tavares*, Pragmatismo Político
Diante do decreto do Governo Federal, bloqueando 5,8 bilhões na educação, que se refletiram em bloqueio de 30% no ensino superior, docentes da Universidade Federal de Mato Grosso – Campus Rondonópolis (UFMT-ROO) se reuniram em Assembleia Geral, no dia 13 de maio. A assembleia foi convocada pela Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (ADUFMAT/ROO) para discutir os ataques que vêm sofrendo a educação pública no país. Na ocasião, professoras e professores presentes votaram pela adesão à Greve Nacional da Educação, no dia 15 maio de 2019.
Na Assembleia, foram discutidos os impactos sobre as despesas de manutenção da instituição e a impossibilidade de arcar com todos gastos necessários ao seu funcionamento básico a partir de setembro do ano corrente. Frente às dificuldades apontadas, a ideia de “bloqueio” de gastos foi duramente contestada pel@s docentes. Esse bloqueio foi decretado em 29 de março (2019) e tem sido tratado pelo Governo de Jair Bolsonaro como uma espécie de congelamento ‘provisório’ de parcela das verbas do Orçamento Federal.
No entanto, docentes da UFMT- ROO presentes na assembleia entenderam a ideia de “bloqueio” como artifício discursivo que camufla o prenúncio de um corte efetivo. Entenderam o bloqueio sob a roupagem da precarização e sucateamento estratégico da universidade pública, como projeto político interessado, que facilita caminhos para privatização dessas instituições, como modo de silenciamento e desaparecimento das vozes discordantes do Estado antidemocrático bolsonarista e, sobretudo, como medida racista e classista.
Assim, foi alertado de que, principalmente, estudantes negr@s e pobres serão @s mais prejudicados pela medida do governo. De que, sem bolsa estudantil, a possibilidade de sobrevivência na academia por esse grupo ficará praticamente impossível; de que impedir a mobilidade social de negr@s e pobres por essa via é empurrá-los para aumento do exército de reserva de empregos precarizados. Somam-se a esses, os grupos de pessoas trans recorrentemente expulsas de casas que, dependentes de bolsas e/ ou da própria existência da academia, devem ser vistos como alvo dos ataques de um governo abertamente LGBTfóbico.
Nesse sentido, docentes da UFMT-ROO corroboraram o entendimento do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES) de que a “greve nacional da educação em 15 de maio é uma resposta a todos os ataques que a educação pública, os professores, estudantes e técnicos administrativos vêm sofrendo com toda essa perseguição ideológica e política” (Caroline Lima, 1ª secretária do ANDES-SN) viabilizada, entre outras vias, pela incitação do Ministro da Educação e do Presidente da República à filmagem de docentes por alunos.
Assim, a UFMT-ROO decidiu:
pela luta “em defesa da educação, ciência e tecnologia públicas” (ANDES-SN); pela instauração de meios alternativos e extramuros da universidade para não interrupção de suas atividades docentes, quando, diante da precarização forçada pelo governo, não se puder contar com os recursos de luz, água e equipamentos da instituição; pela ampliação do contato da universidade com a comunidade; e pela ausência de desejo de negociação com o atual governo, destacando a perversidade de que esse é capaz, quando coloca professores e professoras no lugar de inimigos da sociedade.
Com o intuito desses enfrentamentos, foi criada, no dia 13, uma Comissão de Mobilização entre @s docentes e alun@s para preparação organizada da paralisação do dia 15 de maio, como ato de demonstração e exercício de força coletiva contra o atual governo e seus ataques à educação pública do país.
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*Talita L. Tavares é professora do Curso do Psicologia (UFMT-ROO)
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