Estudantes brasileiros são vítimas de xenofobia na Universidade de Lisboa. Instituição amanheceu com caixa de madeira com convite ao apedrejamento de brasileiros. Reitoria promete abrir processo disciplinar
Cartazes xenófobos contra estudantes brasileiros abriram uma crise nesta segunda-feira (29) na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a mais tradicional instituição de formação de advogados da capital portuguesa. Um grupo de estudantes portugueses colocou um cartaz oferecendo pedras grátis para atirar em alunos brasileiros.
“Grátis se for para atirar a um zuca (que passou à frente no mestrado)”, dizia o cartaz. Zuca é uma gíria para se referir a brasileiros. Estudantes estrangeiros prometem uma grande manifestação na porta da faculdade na quinta-feira, 2 de maio, para pedir medidas contra a xenofobia.
Na tarde desta segunda-feira (29), alunos brasileiros denunciaram o cartaz à direção da faculdade. O caso chegou até o reitor da universidade, António Cruz Serra, que anunciou a instauração de um processo disciplinar.
O processo pode levar até a expulsão dos alunos e os impedir de conseguir entrar para a ordem dos advogados de Portugal. A direção da faculdade de Direito marcou para a manhã desta terça-feira (30) uma reunião com os representantes discentes dos brasileiros.
“Este é mais um episódio de xenofobia de portugueses contra alunos estrangeiros. Mas estamos satisfeitos com a resposta da universidade”, afirmou Elizabeth Matos Lima, aluna de mestrado da instituição e presidente do Núcleo de Estudos Luso-Brasileiros (Nelb), que representa os estudantes do Brasil.
Elizabeth explica que a tensão entre portugueses e brasileiros tem sido crescente, sobretudo nos últimos dois anos, por causa de um forte aumento da presença de alunos de mestrado e doutorado vindos do Brasil.
“É comum que nas turmas de mestrado, de 15 alunos, de 10 a 13 sejam brasileiros”, conta. Segundo ela, professores da graduação da faculdade local são muito rigorosos nas notas. Na seleção para o mestrado e doutorado, na análise do histórico escolar, os brasileiros em geral têm notas muito superiores e ficam com as vagas. A Universidade de Lisboa é pública, mas cobra mensalidade.
A atitude xenofóbica e de incitação à violência foi atribuída ao grupo Tertúlia, que compete na eleição para a Associação Acadêmica da faculdade, e que é conhecido por seu humor áspero e sátiras controversas. Gerou imediata reação dos mestrandos brasileiros, que exigiram da diretoria da instituição medidas punitivas.
“Nunca fui maltratada aqui. A faculdade sempre foi inclusiva e mantém um ambiente ótimo”, afirmou a pernambucana Maria Eduarda Callado, de 24 anos, estudante de mestrado em direito internacional comercial desde setembro do ano passado. “Eu não esperava essa atitude xenofóbica. Eles podem ter achado engraçado. Mas, para nós, não teve graça nenhuma.”
Callado explica que a razão está em uma mudança no calendário do processo de admissão de estudantes de mestrado. Desde o ano passado, a primeira fase de inscrição foi antecipada para maio/junho, quando os estudantes portugueses ainda não concluíram a graduação e, portanto, ainda não podem se inscrever. Com isso, os brasileiros, que em geral terminam o curso superior no fim do ano anterior, têm a chance de se inscrever e conseguir a maioria das vagas do mestrado. Aos portugueses, restam as vagas remanescentes da segunda chamada, em setembro.
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