Brasil vira chacota na ONU e passa a ser apoiado por Nações que pregam o que há de mais medieval no mundo. Nem aliados como Israel e Chile tiveram coragem de apoiar novo posicionamento brasileiro
Com 20 anos de experiência em coberturas internacionais, Jamil Chade está perplexo com o que viu nesta semana em reuniões do Brasil nas Nações Unidas, em Genebra.
O País virou chacota e passou a ser apoiado por Nações que pregam o que há de mais medieval no mundo, em termos de tratamentos às mulheres, a partir do momento em que começou a executar a mais nova ordem do Itamaraty: se posicionar contra o uso da palavra “gênero” em qualquer contexto, além de vetar a expressão “direitos reprodutivos” e sair em defesa de dogmas religiosos que alimentam a desigualdade entre homens e mulheres.
“O que vi ocorrendo nesta quinta-feira nas salas de reunião das Nações Unidas, em Genebra, é diferente de tudo que essas duas décadas de escola me apresentaram”, afirmou Chade, em artigo publicado no UOL.
Segundo o jornalista, sob Bolsonaro o Brasil abriu mão de décadas de construção diplomática que tinha o mínimo de coerência com os interesses nacionais e de respeito pelos direitos humanos.
Dilma Rousseff e Lula cometeram vários erros, lembrou o jornalista, mas jamais chegaram perto do desmonte que Bolsonaro promove “desconsiderando a multiplicidade da população brasileira e ignorando seus compromissos internacionais”.
“O que presenciei foi um profundo constrangimento”, disparou Chade. “O novo Itamaraty passou a colocar em prática uma diplomacia ideológica-religiosa. E que passou a minar o consenso até mesmo dentro do Ocidente.”
Em outro texto no UOL, o correspondente detalha a reunião da ONU em que o Brasil começou a colocar vetos sobre as expressões relacionadas a gênero que são repudiadas pelo grupo de extrema-direita que está no poder.
Enquanto os diplomatas reproduziam a ordem, “o que se via na sala era uma mistura de espanto, ironias e incompreensão por parte das delegações estrangeiras.”
“Um representante da UE ria, enquanto outro de sua mesma delegação suspirava diante do que escutava”, narrou Chade.
“(…) quem passou a apoiar as propostas brasileiras eram justamente aqueles estados que são acusados de ainda viver com regras medievais para suas mulheres e de cometer atrocidades a quem não segue um dogma religioso. Fomos aplaudidos pela Arábia Saudita, Paquistão e Bahrein”, acrescentou.
Leia a íntegra dos relatos de Jamil Chade, correspondente brasileiro na ONU:
⇒ Relato 1
⇒ Relato 2
⇒ Relato 3
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