Deltan, que já enalteceu Greenwald, agora diz que está sendo denunciado por "um blog"
Aconteceu em 2017: Deltan Dallagnol referiu-se publicamente a Glenn Greenwald como um "renomado jornalista". Agora, acuado, o procurador muda o discurso depois de ser denunciado pelo editor do The Intercept
Deltan Dallagnol reproduziu nesta quarta-feira (12) nas suas redes sociais um texto, intitulado ‘A Lava Jato nas colunas de fofoca’, escrito pelos colegas Alexandre Schneider e Douglas Araújo, ambos procuradores da república.
No artigo, publicado no Estadão, os procuradores repetem quatro vezes que as denúncias feitas contra Dallagnol foram publicadas por um ‘blog’. A palavra ‘blog’ é usada insistentemente como forma de tentar desqualificar o veículo que divulgou os diálogos.
Pouco tempo depois, já nesta quinta-feira (13), o procurador da Lava Jato voltou a reproduzir nas redes um texto que também foca no ataque ao The Intercept para desmerecer as denúncias. O artigo é escrito por Carlos Sardenberg, no jornal O Globo. “Site Intercept não faz jornalismo, é pura militância”, destaca o funcionário do grupo Globo.
Ao se dedicar nas últimas horas a compartilhar críticas específicas ao The Intercept, Dallagnol deixa transparecer seu desespero e sequer é honesto consigo mesmo. Isto porque, em 2017, o procurador elogiou publicamente o editor do site, Glenn Greenwald.
Na ocasião, Greenwald foi palestrante em uma premiação da Lava Jato no Canadá e elogiou os procuradores e a operação. Deltan Dallagnol postou o vídeo do discurso do jornalista americano em suas redes sociais, fazendo com que o conteúdo viralizasse.
Sobre o episódio, Greenwald observou: “Fui convidado antes de os finalistas serem anunciados. Logo depois, soube que um dos finalistas era a força-tarefa da Lava Jato. Petistas fizeram campanha para que eu não fosse, mas estive lá ao lado do Dallagnol e os elogiei. Disse que tinha críticas a eles, mas manifestei apoio ao trabalho de colocar na prisão pessoas que cometeram crimes. O mesmo Dallagnol postou o meu discurso, com orgulho, dizendo que eu era um jornalista premiado e que havia enaltecido o trabalho deles”
Dallagnol, portanto, sabe que Greenwald é um dos mais respeitados e premiados jornalistas do mundo. Ao atacá-lo agora, o procurador apenas revela que será capaz de ir até as últimas consequências para preservar a imagem de paladino da moral que lhe foi imposta e todos os bônus que conseguiu a partir disto.
Ninguém no Brasil colocou em xeque a competência de Greenwald quando ele revelou, em uma série de reportagens em 2014, que o governo e a sociedade brasileira eram alvos de espionagem dos EUA.
Na época, o jornalista americano recebeu o Prêmio Esso de Reportagem pelos textos acerca do sistema de vigilância virtual dos Estados Unidos em território nacional.
A recepção das denúncias do The Intercept na imprensa internacional mostra como Glenn Greenwald, vencedor de um Pulitzer, é mundialmente respaldado. Não há, fora do Brasil, quem ouse questionar a seriedade do jornalista.
Neste momento, forçar a mão para desqualificá-lo significa não somente ir na contramão do jornalismo e da história, mas também uma confissão de culpa.
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