Marido e filhos do jornalista Glenn Greenwald são ameaçados de morte após publicação das reportagens que desnudaram Sergio Moro e Deltan Dallagnol. Houve, ainda, tentativa de extorsão. Polícia Federal, comandada pelo próprio Moro, é acionada para proteger a família
A família do jornalista Glenn Greenwald passou a receber ameaças de morte após a publicação, no The Intercept, das reportagens que revelaram as vísceras do projeto de poder do ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro e do procurador Deltan Dallagnol.
As ameaças de morte foram tornadas públicas na noite desta terça-feira (11) pelo deputado David Miranda, marido de Glenn Greenwald. Em um dos textos que recebeu, o ameaçador diz que vai “usar um atirador de elite para explodir a cabeça” da mãe do deputado.
O autor do texto continua: “Veja que não deixamos nenhuma evidência forense sobre a galinha preta desossada da Marielle Franco”, em referência à ex-vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, que foi assassinada em março de 2018.
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O responsável pelas ameaças afirma também que David Miranda, Glenn Greenwald e seus filhos só ficarão vivos caso depositem 10 mil dólares em bitcoins em uma conta indicada. “Vocês têm até o final do mês de junho para o pagamento”, diz o texto, que é é assinado por ‘Unidos do Realengo’ – Marcelo Valle (UR-MV).
A Polícia Federal, comandada pelo ministro Sergio Moro, pivô de todo o escândalo, foi acionada para proteger a família de Greenwald. O jornalista comentou o caso nas redes sociais. “Esses e-mails são mais repugnantes e horríveis do que você pode imaginar: informações muito detalhadas e privadas, ameaças gráficas e grotescas. O ódio é distorcido além do que é humano”, lamentou
David Miranda também se manifestou: “Esse é só um dos e-mails que recebi. Não mostramos todo o conteúdo porque é uma das piores coisas que alguém pode ler”.
Em entrevista concedida à Agência Pública na manhã de terça-feira, Glenn foi questionado justamente se sentia medo das consequências que ele, seus familiares e o seu site poderiam sofrer, já que estão mexendo com poderosos.
“Nós sabíamos que tudo isso [as ameaças] iria acontecer, mas o que podíamos fazer? Têm jornalistas cobrindo guerras. Têm jornalistas sem visibilidade investigando corrupção contra pessoas muito perigosas. Se você não quer esses riscos, você não deve fazer jornalismo”, respondeu.
‘Lavajatogate’
No último domingo (9), uma série de 4 reportagens (veja abaixo) publicadas pelo The Intercept revelou Sergio Moro Moro deu acesso privilegiado à acusação e ajudou o Ministério Público a construir provas contra o investigado — no caso, o ex-presidente Lula. Juiz e acusação combinavam estratégias, trocavam informações dos bastidores dos processos e anunciavam decisões antes de serem julgadas.
Em um dos trechos divulgados, os procuradores mostram-se preocupados com a possibilidade de Lula conceder uma entrevista antes do 1º turno da eleição presidencial. Os membros da Lava Jato temiam que a aparição do ex-presidente poderia fortalecer a candidatura de Fernando Haddad.
O Intercept ainda publica trechos em que Moro teria passado a Dallagnol o contato de possíveis testemunhas, sugerindo a torca de ordem nas operações que ainda seriam realizadas e até mesmo perguntado se a Lava-Jato não estava demorando muito para fazer uma nova operação.
Veja o que o The Intercept já revelou até agora:
♦ Parte 1
♦ Parte 2
♦ Parte 3
♦ Parte 4
♦ Parte 5
♦ Parte 6
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