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“Eu gostaria de ver sentar na minha frente o William Bonner”, diz Lula em nova entrevista

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"Eu gostaria de ver sentar na minha frente o William Bonner, que há seis anos fala mal de mim todo dia no Jornal Nacional. O nome Lula é mais falado na boca dele do que os filhos dele". A nova entrevista de Lula, concedida aos jornalistas Juca Kfouri e José Trajano

Luiz Inácio Lula da Silva (Imagem: Captura de tela)

RBA

Juca Kfouri abre a entrevista: “O que você vai ver agora e pelas próximas duas horas é um programa especial da TVT. A primeira entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde que o site The Intercept Brasil revelou conversas, digamos assim, nada republicanas entre o ex-juiz e hoje ministro da Justiça Sergio Moro, o procurador Deltan Dallagnol e outros procuradores, que redundou no julgamento, na sentença e na prisão do ex-presidente”.

Está comigo o companheiro José Trajano para esta nossa conversa com o ex-presidente Lula. Você nota que nós não estamos nem no bar do Sindicato dos Bancários em São Paulo, nem no Papo com o Zé, na sala da casa dele. Estamos na sede da Polícia Federal, de onde grande parte do país espera que o ex-presidente Lula possa sair em breve, quando se fizer justiça no país.

Juca – Presidente Lula, primeiro, muitíssimo obrigado por nos receber. Em segundo lugar, eu gostaria de saber do senhor o seguinte: durante os últimos tempos, o senhor tem dito que viveria para ver Moro e Dallagnol desmascarados, pegos na mentira. Isso acabou acontecendo mais rapidamente do que o senhor imaginava?

Lula – Juca, primeiro, eu sou um cristão fervoroso. E eu sempre disse que Deus é tão justo que ele consegue escrever por linhas tortas. Se a gente tivesse sido levado a sério pelos meios de comunicação no Brasil, quando nós fizemos todas as denúncias que o Intercept está fazendo agora, durante o processo, não teria surpresa o que aconteceu.

O que aconteceu foi dito por mim várias vezes, foi dito pelo Cristiano (Cristiano Zanin Martins, advogado de defesa), foi dito por tudo mundo que me defende. Eu aproveitando para dizer a você que estou ficando feliz com o fato de que o país finalmente vai conhecer a verdade. Eu o tempo inteiro disse que o Moro é mentiroso. É mentiroso. Eu disse que no primeiro depoimento que eu fiz, e isso está gravado, que ele estava condenado a me condenar porque a mentira tinha ido muito longe. O Dallagnol é tão mentiroso que depois de ficar uma hora e meia na televisão mostrando o powerpoint, ele consegue dizer para a sociedade: não me peçam provas, eu só tenho convicção. Ele deveria ter sido preso ali. Ele deveria ter sido preso por enganar 210 milhões de brasileiros.

Mas como houve uma mentira no inquérito feito pelo delegado, houve uma mentira pela acusação feita pelo Dallagnol, houve uma mentira do Moro no julgamento, referendada pelo TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) que nem leram o processo e julgaram, porque o objetivo é evitar que o Lula participasse do processo eleitoral de 2018, agora veio à tona. E o que está acontecendo de mais grave? É que estou vendo neste instante a Globo tentando salvar o Dallagnol e tentando salvar o Moro. Tentando mostrar, olha, não pode vazar coisa que não se sabe de onde é porque isso aí foi um hacker… Ora, por que é que não tiveram essa seriedade quando vazaram a conversa da Dilma comigo, quando vazaram a conversa dos meus filhos com a mãe, por que não tiveram esse pudor? Por que não tiveram o pudor de colocar a gente na televisão no momento em que acusavam a gente?

E nós estamos vivendo nesse instante, Juca, uma coisa extraordinária, que é o seguinte: acho que a máscara vai cair. O que vai acontecer não sei. Só quero te dizer que neste instante eu estou mais tranquilo do que o Moro, mais tranquilo do que o Dallagnol, tô mais tranquilo do que qualquer juiz neste país. Porque a minha tranquilidade é daqueles que sabem que é honesto, que sabe que Deus sabe que eu sou honesto, eu sei que sou honesto, o Moro sabe que eu sou honesto, o Dallagnol sabe que eu sou honesto, e eles sabem que estão mentindo. Então, essa é a minha tranquilidade, que eu espero que se faça justiça neste país. E o que eu espero? Que a Globo, porque a Globo, é, na verdade, a grande mentora dessa panaceia toda. Ninguém é contra combater a corrupção. Tenho certeza de que você não é, tenho certeza de que o Trajano não é, todos, 210 milhões de brasileiros são favoráveis que combate, até os que roubaram são favoráveis. Perguntasse pro Sérgio Cabral uma semana antes, para o Eduardo Cunha uma semana antes se ele favorável, ele me dizia que era, só que não sabia…?

Então, eu estou aqui, Juca, agradecendo essa entrevista, porque é a oportunidade que eu tenho. A Polícia Federal invadiu a minha casa. A Polícia Federal invadiu a casa dos meus filhos. A Polícia Federal invadiu o Instituto (Lula). A Polícia Federal sabe que não encontrou absolutamente nada e não teve coragem de dizer na televisão que não tinha encontrado nada. Quando encontrava uma barra de ouro na casa do Nuzmann, fazia um carnaval, quando encontrava na casa do Sérgio Cabral fazia um carnaval, na minha casa não tiveram a coragem, a sensatez, não encontramos na casa do Lula, na casa dos filhos dele, debaixo do colchão da dona Marisa, desculpa, presidente Lula. Não fizeram isso. Porque embora eu seja o brasileiro que mais respeita as instituições… Duvido que a Polícia Federal tem um presidente que cuidou mais dela do que eu, duvido. Sem pedir um favor. Duvido que o Ministério Público tenha um presente que mais respeitou a instituição do que eu.

Agora, essas instituições, que são poderosas não podem ser manipuladas por moleques irresponsáveis. Denunciar pessoas honestas. Eles só falaram que apuramos, arrecadamos R$ 3 bilhões. A pergunta que se faz é o seguinte: quantos bilhões, quantos empregos e quantas empresas quebraram pela brincadeira de vocês? Não era possível apurar corrupção sem quebrar empresa? Era. Prende o dono e deixa a empresa funcionando, como a Samsung continuou funcionando, como a Volkswagen continuou funcionando na Alemanha. Por que quebras as empresas? Por que desmoralizar a Petrobras, quebrar a Petrobras?

Hoje, Juca, eu quero aproveitar vocês dois pra dizer: é porque o Dallagnol, o Moro e a Lava Jato estão hoje muito mais a serviço dos interesses norte-americanos do que a serviço aos interesses do combate à corrupção. Estou afirmando isso, espero que o Moro esteja ouvindo. Aliás, a Globo poderia fazer um debate entre eu, o Moro e o Dallagnol, eu sozinho contra os dois. Os dois fizeram curso em Harvard, são bem preparados, têm muitas informações, poderiam fazer um debate comigo, em qualquer horário que eles tivessem, pra gente ver quem está mentindo nesse país. O Brasil hoje é vítima de uma grande mentira. E estou dizendo isso sem negar as coisas importantes de combate à corrupção.

É muito importante que empresário que roubou esteja na cadeia, é muito importante que político que roubou esteja na cadeia. É muito importante que a delação seja feita espontaneamente, não manter as pessoas presas três ou quatro anos, pedindo pra pessoas citarem meu nome, como pediram pra muita gente citar meu nome. Tinha gente que era presa, a primeira coisa que ele falava: e o Lula, e o Lula? Eu passei quantos ouvindo falar: o que dia que prenderem o Emílio Odebrecht, o Lula está ferrado, o dia que prender o Marcelo está ferrado, o dia que prender o Léo (Pinheiro), o dia que prender o ? tá ferrado. Pode prender até o Moro, pode prender até os parentes dele. Porque eu duvido que neste país tenha um empresário, tenha um político, que tenha a coragem de dizer que um dia eu pedi 5 reais pra ele.

Juca – Mas o Lula não tá ferrado, presidente?

Eu não tô ferrado, não. Sinceramente. Eu estou acabrunhado. Eu gostaria de estar em liberdade, gostaria de estar vendo o meu Corinthians jogar, gostaria de estar vendo a minha família. Sabe? Eu já falei pra todo mundo que quando eu sair daqui eu vou casar.

Juca – Aliás, o senhor se arrepende de ter dito para o ex-ministro Bresser-Pereira da sua namorada? Porque parece que ela foi prejudicada por causa disso.

Eu não me arrependo, não me arrependo. Veja, deixa eu falar uma coisa pra você. Tem uma frase que é o seguinte: o amor sempre vencerá. Demora, mas vencerá. É como disse o Batochio (José Roberto Batochio, advogado) ontem: a verdade pode ficar doente, mas ela não morre. Eu gostaria de estar em liberdade, gostaria de estar na rua, gostaria de estar conversando (?) com vocês, mas eu estou aqui consciente que tem milhões e milhões e milhões de brasileiros pior do que eu, em liberdade. Ontem eu vi na televisão em Recife, na porta de um supermercado, o povo invadindo um caminhão que cata lixo para comer. Nós tínhamos acabado com a fome neste país. E essas pessoas não se dão conta que o falso moralismo delas levou o país à bancarrota. E digo levou o país à bancarrota porque a Globo tem culpa nisso. A Globo transformou o combate à corrupção numa grade dela, em que o Lula é citado, sabe, em quatro anos mais de 100 horas no Jornal Nacional.

Trajano – O próprio Glenn, numa entrevista ontem, coloca a Globo como parceira da Lava Jato.

Veja, quando o Moro começou esse processo, o Moro visitou a Folha, o Estadão, a Veja, a Época, a IstoÉ, a Globo, visitou todos os canais de televisão. Ele diz no artigo dele, Mani pulite, que só é possível dar certo se a imprensa ajudar. Ora, é muito importante que a imprensa ajude, o que a imprensa não pode é condenar as pessoas antes do julgamento, o que não pode é um juiz votar pela manchete de um jornal. Um juiz tem que votar pelos autos do processo, pela testemunha.

Trajano – Mas, presidente, as matérias do Glenn na Intercept revelaram uma série de diálogos que mostram o conluio do Sergio Moro com o Dallagnol e os outros procuradores. A gente pode listar aqui vários assuntos diferentes, até listei alguns aqui: a sua condenação rápida, em segunda instância, a proibição da entrevista à Monica Bergamo, pode eleger o Haddad…

Mas, tudo isso, Trajano, tudo isso, a bala já saiu do cano, a bala já está em direção a mim. O que é duro é inventar o processo. O tal do apartamento da cota da Bancoop está na minha declaração de Imposto de Renda desde 1975.

Trajano – E ele mostra uma insegurança que não tinha provas.

Então, eles inventaram toda uma história. Porque o objetivo da Lava Jato… eu era a Copa Jules Rimet. Precisaria me conquistar, precisaria ganhar, nem que fizesse como a do Brasil (que roubaram depois) e me deixar logo depois. Mas era preciso chegar no Lula, senão não tinha valido a pena o golpe. Pra quê tirar a Dilma e deixar o Lula voltar em 2018? Então, eles montaram a estrutura de me trazer pra cá. No apartamento não dava para me trazer pra cá, então eles inventaram a seguinte fantasia: tinha uma empresa offshore no Panamá, que tinha comprado coisa da Petrobras, e que eu estava envolvido nisso, tal. Quando prenderam a moça do offshore, descobriram que o offshore era dono do apartamento dos Marinhos em Paraty e descobriram que a empresa era dona do helicóptero da Globo. O que que fizeram? Soltaram a moça, mas não me tiraram do processo. Quando nós entramos com o agravo, depois da sentença mentirosa do Moro, o que o Moro disse? Nunca disse que a Petrobras está envolvida e que o apartamento é do presidente. Então por que eu estou preso, por fato indeterminado? Que fato é esse, não se sabe? O que eles pensaram? Já que tá tu, vai tu mesmo.

Juca – Presidente, deixe eu fazer uma pergunta. O senhor há de se lembrar, quando fizemos este livro, A Verdade Vencerá, da editora Boitempo – aproveito pra dizer que está praticamente esgotado e vai sair uma nova edição –, há um momento em que o senhor se refere ao fato de que no Instituto Lula o senhor foi visitado por inúmeros grandes empresários brasileiros.

Todos.

Juca – O senhor poderia nominá-los? Porque, por exemplo, até onde é possível imaginar, algum dos Marinho (donos da Globo) o visitou?

Muitas, tive várias conversas. Estive com o João Roberto Marinho na casa do Palocci. Logo depois da manifestação de 2013, que eu queria saber qual era o papel da Globo de suspender a sua novela para transmitir aquela… E o João Roberto Marinho, com a maior cara do pau, me disse: olha, porque tinha um clima insustentável dentro da Globo, então nós achamos que era melhor suspender, os artistas queriam participar… Sabe? Ora, eles não suspenderam a grade da Globo nem pro enterro do doutor Roberto Marinho.

Juca – Mas ele não estava entre aqueles que lhe pediam para ser candidato à Presidência?

Deixa eu falar, chegou um momento… Isso não é bom falar por mim, senão dá a impressão que estou sendo arrogante…

Juca – Cabotino.

Mas chegou um momento em que era unanimidade o Lula ser candidato a presidente em 2014. Unanimidade. Não tinha um empresário, de qualquer setor, seja do agronegócio, do etanol, do açúcar, da indústria automobilística, da construção civil, da indústria de máquinas, seja banqueiro. Roberto Setúbal (então presidente do Itaú) esteve comigo. O Trabuco (Luiz Trabuco, presidente do Bradesco) esteve comigo. O Santander esteve comigo. Todos eles, a salvação da lavoura era o Lula voltar a ser presidente. Bom, a partir de junho de 2014, eu disse que não ia ser candidato a presidente. Não tinha, primeiro, havido nenhuma demonstração da Dilma de discutir o assunto. Se ela não queria discutir o assunto, é porque queria ser candidata, e ela tinha o direito, porque era presidente. Então, morreu o assunto. O PT queria que eu fosse, mas o PT também não tomava a decisão, abrir a discussão. Até que chegou no Anhembi, a Dilma foi convidada para um ato do PT que tinha lá, e o pessoal começo a gritar “volta, Lula, volta, Lula”. E eu fui obrigado a fazer um discurso, acabar com a brincadeira, a Dilma é nossa candidata a presidente, acabou.

Então, a partir desse instante começou a haver um afastamento dos empresários. Eu não era mais, então eles ficaram todos atrás do Aécio, alguns atrás da Marina, tal. Mas houve um momento em que eu era unanimidade. Isso poderia ser perguntado a outras pessoas, porque eles poderiam dizer melhor. Todo mundo achava que eu deveria voltar pra presidente. E eu na verdade, hoje, passados cinco anos, eu poderia ter discutido minha volta. Eu estava, como é que se fala, eu estava nos cascos, eu tava afiado, eu tinha vontade de fazer o que eu não tinha feito, com tanta vontade de fazer mais coisa que era possível fazer…

Juca – Por exemplo…

Trajano – Está se arrependendo, então, de ter feito esse discurso lá?

Não, não, não cabe arrependimento, sabe, em política não cabe arrependimento. Não foi, não foi, o tempo passou, tivemos um outro presidente, a Dilma foi eleita, o Aécio fez a bobagem que fez de criar esse clima de ódio estabelecido no Brasil, de não acatar o resultado, tivemos o golpe com o impeachment, e tivemos agora, como resultado, o país pariu essa coisa chamada Bolsonaro.

Juca – O que o senhor queria fazer que não fez e que estava em cima dos cascos para fazer?

Deixa eu te falar, primeiro eu acho que era possível cuidar mais dos pobres, era possível fazer mais coisa. Eu sei que fui o presidente que mais fez. Mas era possível fazer mais, era possível gastar mais em educação, era possível fazer mais universidade, mais escola técnica. Uma coisa que eu digo era necessário, hoje é urgente, fazer uma regulação dos meios de comunicação neste país. Este país não pode ter os meios de comunicação dominados por nove famílias, não pode. Não pode o cidadão ser dono da televisão, do jornal, do blog, é preciso regular. A última regulação nossa é de 1962. Portanto, não tinha nem fax, nem telefone celular, não tinha nada. Então, é preciso regular. Nós tínhamos um projeto de regulação, feito nas conferências convocadas em 2009 pelo companheiro Franklin Martins, depois a gente achou que era imprudente mandar pra votar no último ano, em que os deputados todos estavam disputando a sua reeleição, e a gente sabia da quantidade de deputado que tinha rádio nos seus estados, se a gente mandasse era perder, que era importante mandar no começo do mandato.

Juca – Eu certa vez ouvi de um alto dirigente do PT que certas coisas não foram feitas porque quando você está numa situação de “tá tudo bem, tá todo mundo feliz?”, é melhor não mexer nisso porque se mexer vai dar problema. Tem um pouco disso?

Tem um pouco do seguinte. Toda vez que você tenta brigar com a imprensa, sempre aparece alguém dizendo assim pra você: “Você tem que tomar um café com eles, você tem que almoçar com eles, você tem que convidá-los prum jantar”. É preciso uma conversa. Isso foi feito, o coitado do Zé Dirceu cansou de jantar com o Roberto Civita, eu conheci o Roberto Civita na casa do Zé Dirceu. O João Roberto Marinho vivia conversando com o Palocci, com o Guido Mantega, com o Zé Dirceu, conversava comigo, conversava com a Dilma. Nunca resolveu.

Uma vez, tem um episódio fantástico, na eleição de 2006. Eu era candidato à reeleição, e nós chamamos o João Roberto Marinho para conversar sobre o papel da Globo na campanha. Eu era o presidente. E comecei a notar que candidato que tinha 2% na pesquisa tinha mais tempo no jornal que eu, mais espaço. Aí chamamos o João Roberto Marinho para conversar, nós tínhamos um observatório da imprensa, e a gente mostrava, o Globo, a Folha, o Estadão, a revista… Era um absurdo, a Heloísa Helena tinha o dobro de tempo que eu tinha no jornal O Globo. E aí, nós chamamos o João Roberto Marinho para uma conversa, o que estava acontecendo, não, todo mundo é igual, nós tratamos igual, não sei das quantas, tal… Aí a Dilma, mas se vocês tratam igual, por que no editorial vocês dão tratamento diferenciado pro Lula? Não, o editorial sou eu que faço. Aí a Dilma pegou e disse: “Este aqui foi você que fez? Um editorial metendo o cacete em mim”. “Não, eu não vi” (Marinho respondia). “Se você não viu, como é que você fez? Como é que você faz o editorial?”

Então, eles só pararam de inflar a candidata quando perceberam que ela tirava voto do Alckmin e não de mim. Aí esvaziaram. Como fizeram com a Marina também. Então, tem também uma outra coisa, Juca, que é o seguinte. Com eu dizia pro Franklin, eu vou derrotar todos eles. Deixa ele falar mal de mim, não precisa dar colher de chá pra eles, não tem almoço nem cafezinho, eu vou derrotar eles. Acontece, meu caro, que em 2010, a última pesquisa de setembro eu tinha 87% de bom e ótimo, eu tinha 10% de regular, somado os dois dava 97% que você poderia falar de aprovação. Quando é que alguém teve 87% de bom e ótimo? Então, eu estava também inflado de vaidade de ter derrotado eles. E, talvez, não mandei pro Congresso o projeto também porque eu falei, o ideal é ir pra rua, vai pra rua conversar com o povo que a gente derrota eles. Não derrota.

Eu tenho assistido mais televisão agora, porque eu não tenho o que fazer, eu fico vendo missa, fico vendo culto, fico vendo a TV aberta. É um absurdo a que a sociedade está submetida nesse dia a dia. Então, é preciso que haja uma regulação. E isso tem que fazer parte de um programa. Qualquer candidato do PT, daqui pra frente, tem que colocar no programa dele de campanha regulação. E não tem que ter medo.

Trajano – Queria falar da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), que não foi pra frente como se previa, o canal de televisão. Por que não decolou?

Olha, talvez a gente tenha errado muito… Deixa eu te falar. Eu não sou de televisão. Eu tinha vontade de criar um canal de televisão que tivesse um papel que tivesse a RAI da Itália, a BBC de Londres, que não precisava ter uma grande audiência, mas que fosse um canal de formação de opinião das pessoas que fazem acontecer as coisas no país. Nós, quando aprovamos ela, nós devemos a aprovação a uma heroína, como a Tereza Cruvinel, que foi pra dentro do Congresso, conversar com os senadores, a Helena Chagas… E nós conseguimos aprovar uma TV com orçamento na época de 300 e poucos milhões, que era o orçamento da Bandeirantes. E eu queria criar uma televisão que tivesse alcance em toda a América Latina, em toda a América do Sul, principalmente. Pra que a gente pudesse, sabe, ensinar português também, fazer com que a gente fosse um bloco de verdade. Mas aí nós criamos um conselho muito republicano, começamos nós mesmos a nos vigiar, tomar cuidado nisso, tomar cuidado naquilo, não pode fazer isso, e terminamos criando uma televisão que não funcionou, a ponto de nem o ministro das Comunicações dar as antenas em alguns lugares para que a TV pública pudesse funcionar corretamente. Por isso que eu tinha vontade de voltar. Para rever e refazer coisas que eu não tinha consciência de que era possível fazer.

Juca – Agora, deixa eu voltar só um pouco a uma coisa que o Trajano…

Esta TV que eu estou dando a entrevista agora, a TVT. Você sabe quando foi que nós reivindicamos esse canal de televisão? Em 1985! O ministro das Comunicações era nada mais, nada menos, que o Antônio Carlos Magalhães. Eu fui na reunião com o Vicentinho (Vicente Paulo da Silva, então presidente do ainda Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, atualmente deputado federal) reivindicar. Isso veio sair, eu já não era nem presidente mais. Você percebe para nós como é difícil as coisas? Mesmo quando nós estamos no governo.

Juca – Presidente, deixa eu voltar um pouco, porque não podemos passar tão rapidamente como passamos pelas denúncias do site Intercept. Zé Trajano já fez referência a isso. Eu lhe pergunto: o senhor leu todo o material que o Intercept publicou? O senhor, por exemplo, se deu conta que uma procuradora chamada Laura Tessler diz…

Trajano – Textualmente.

Juca – … que precisamos evitar a entrevista do Lula com Mônica Bergamo porque vai que isso muda o resultado do segundo turno e o Haddad se elege?

Eu vi. Mas era esse o pensamento deles. Não havia outra razão. Todas as pesquisas de opinião pública mostravam, nesse período 2015, 2016, que qualquer eleição que tivesse no Brasil eu seria eleito presidente no primeiro turno. Todas as pesquisas demonstravam. E se eu pudesse participar de televisão, se eu pudesse fazer comício, a chance seria muito maior. Porque nós estaríamos todo o bloco de esquerda, certamente o PDT estaria conosco, estaria todo mundo conosco, certo?

E eles, quando começaram o processo selecionado ao Lula, o objetivo era o seguinte: olha, não dá pra gente fazer a lambança que fizemos com o golpe na Dilma. Inventar a tal da pedalada pra tirar o PT do governo e dois anos depois entregar pro Lula. Não dá. É preciso tirar o Lula. Essa era uma questão. A outra questão, que pra mim está muito claro, é que eles construíram um processo de mentira. Eu disse ao Moro na audiência que eu participei com ele que a desgraça de quem conta a primeira mentira é que passa a vida inteira mentindo pra poder justificar a primeira. E eles exageraram na mentira. Em 2014, logo que a Dilma ganhou as eleições, eu comecei a alertar o PT de que era preciso ter em conta que eles vinham pra cima do PT. E pra vir em cima do PT iriam em cima de quem? De quem presidiu o país e em cima de quem era seria a figura pública mais importante depois da Presidência da República. E aconteceu. Aconteceu.

Engraçado, porque eu recebi muito conselho, sabe? Que eu deveria ter saído do Brasil, que eu deveria ter ido para uma embaixada. É engraçado, porque eu estou tão consciente do que está acontecendo no Brasil, tô tão consciente da submissão, do complexo de vira-lata dessa gente com relação aos Estados Unidos, que eu falei: não, se eu fugir eles vão colocar que eu sou fugitivo. Então, o Moro decretou a minha prisão, eu vou pra Polícia Federal. Vou lá pra pertinho deles. E aos poucos as coisas vão acontecendo.

Eu vi ontem o desespero da Globo de tentar dar ao Dallagnol mais tempo do que deu à artista principal da novela A Dona do Pedaço. Ela apareceu menos que o Dallagnol tentando se explicar, tentando dizer, porque prendeu não sei quem, porque fez não sei das quantas. A tentativa… Porque a Globo sabe que a hora que cair, não o processo de apuração de corrupção, que tem que continuar. É importante lembrar sempre, Juca e Trajano, que todas as leis, todas as leis que facilitam a apuração de corrupção, todos os mecanismos legais, foram criados pelo partido que eles odeiam, chamado PT.

Trajano – Mas, presidente, de todas essas denúncias que apareceram na matéria do Intercept, várias, todas elas te indignaram muito, dá para pinçar uma, ou o contexto geral é tão absurdo que não dá?

Eu acho que está errado você utilizar a palavra denúncia. O Intercept não fez nenhuma denúncia. Ele apenas trouxe para a sociedade brasileira a verdade. Ele mostrou o que aconteceu

Trajano – E vem mais chumbo grosso por aí…

Eu não sei o que é que vem. O dado concreto é que a imprensa brasileira não teria coragem de fazer aquilo. Você não acha estranho que depois da decisão, da entrevista, do ministro Lewandowski a Globo nunca tenha pedido uma entrevista? Você não acha estranho que as grandes revistas nunca pediram uma entrevista? Você não acha estranho que o SBT, nem o programa do Ratinho, que levou o Bolsonaro, nem os programas de debate da Bandeirantes, você não acha estranho que essa gente não tenha pedido? Afinal de contas, eu sou uma pessoa que ainda tem uma certa audiência no Brasil, mais do que todos os programas deles. Eu gostaria de conversar, eu gostaria de ver sentar na minha frente, onde você está aí, o William Bonner, que faz seis anos que fala mal de mim todo dia no Jornal Nacional. O nome Lula é mais falado na boca dele do que os filhos dele. E eu só queria uma chance.

Assista à entrevista na íntegra

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