Lula

Lava Jato vai para o lixo da história se Lula não for solto

Share

Na avaliação de interlocutores do Judiciário, a reação mais imediata dos tribunais superiores deverá ser a de mandar soltar o ex-presidente Lula com base em recursos já em tramitação. Uma forma de botar água na fervura sem jogar a Lava Jato inteira no lixo – o que pode acontecer num longo e vexaminoso julgamento da ilegitimidade de decisões combinadas entre Justiça e Ministério Público

Sérgio Fernando Moro (Imagem: Rafael Marchante | Reuters)

Helena Chagas, Os Divergentes

As primeiras horas após a divulgação de um escândalo político são decisivas para aferir seu alcance, e os principais termômetros são as reações iniciais de seus protagonistas e da mídia.

Ao emitir nota dando ênfase a um vazamento “criminoso” no site Intercept das comprometedoras conversas do então juiz Sergio Moro com o procurador Deltan Dallagnol e entre integrantes da força-tarefa da Lava Jato, o Ministério Público conseguiu, acima de tudo, dar veracidade a elas. Não disse – e não pode mais dizer – que não ocorreram, ainda que tenha questionado o vazamento ilegal e a retirada de contexto.

A nota confirmando indiretamente que as conversas existiram encorajou a mídia “mainstream” , sempre cética em apontar falhas na Lava Jato e claramente simpática a Moro, a entrar no assunto. Pesou nisso o fato de, na noite deste domingo, o assunto ter tomado conta das redes e sites alternativos. Ficou logo claro que haveria um preço a pagar em termos de credibilidade para quem não tocasse no tema.

A embocadura inicial dos maiores veículos da mídia foi cautelosa, dando em maior ou menor grau espaço prioritário ao hackeamento dos celulares de Moro e de procuradores da força-tarefa. A cobertura não deixou de fora, porém, o ponto principal das conversas – a quebra da ética e o decoro de juiz e procuradores que articulavam juntos atos da investigações e suas próprias ações.

Saiba mais:
Dallagnol usa argumento falacioso para tentar se vitimizar
Imprensa internacional repercute que Moro e Dallagnol agiram com fins eleitoreiros
Dallagnol duvidava de provas contra Lula, mas se apegou a matéria de jornal
“Maior escândalo do Judiciário brasileiro”, diz jurista sobre conluio da Lava Jato
320 juristas pedem afastamento imediato dos envolvidos na conspiração da Lava Jato

Estão estabelecidas, portanto, as bases de um novo escândalo – que, a esta altura, dificilmente será varrido para debaixo do tapete. Sua primeira consequência política será dividir os holofotes e as energias do mundo político com o debate da reforma da Previdência na semana decisiva em que o relatório do deputado Samuel Moreira será apresentado. É bastante provável que o clima tumultuado acabe provocando atrasos na tramitação da PEC na Câmara.

Ainda é cedo para se aferir o grau do estrago na imagem do ex-juiz e hoje ministro Moro – que pode ir de um arranhão passageiro na reputação de quem almeja chegar ao STF (e até ao Planalto) à perda do cargo se a crise ameaçar chegar ao Planalto.

Independentemente do que ocorrer do outro lado, porém, não restam dúvidas de que o ex-presidente Lula será o maior beneficiado pela divulgação das conversas. Ele é seu principal alvo. Ainda que não sejam aceitas judicialmente por sua origem, ou como elementos capazes de anular de imediato condenações da Lava Jato, elas criam um clima favorável à decisão de aceitar logo os recursos do ex-presidente para que ele, no mínimo, passe a cumprir sua pena em regime semi-aberto ou aberto.

A defesa de Lula irá, certamente, jogar todas as suas fichas na anulação do julgamento do triplex, e pode até conseguir isso mais à frente. Na avaliação de interlocutores do Judiciário, porém, a reação mais imediata dos tribunais superiores deverá ser a de mandar soltar o ex-presidente com base em recursos já em tramitação.

Uma forma de botar água na fervura sem jogar a Lava Jato inteira no lixo – o que pode acontecer num longo e vexaminoso julgamento da ilegitimidade de decisões combinadas entre Justiça e Ministério Público.

Leia também:
Lava Jato do início ao fim: uma operação viciada e politicamente interessada
Ex-assessora de Sergio Moro na Lava Jato admite que “a imprensa comprava tudo”
Livro revela erros da Lava Jato e objetivos não-declarados da operação
Operação Lava Jato: como tudo começou
MPF aponta que esquema na Petrobras começou ‘há pelo menos 15 anos’

Siga-nos no InstagramTwitter | Facebook