Justiça

Há três anos, Moro debochava de acusações de que era ‘juiz-investigador’

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Vídeo: Há três anos, durante palestra, Sergio Moro debochou de acusações de que ele era um ‘juiz-investigador’. Neste domingo (9), reportagens especiais publicadas pelo The Intercept comprovaram a veracidade da tese

Sérgio Fernando Moro (Imagem: Rodolfo Buhrer | Reuters)

RBA

Há três anos, o ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro, debochou de quem o acusava de ser “juiz-investigador”. O vídeo abaixo traz fala de Moro em palestra na Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco), em Curitiba.

Ontem (9), o site The Intercept Brasil revelou trocas de mensagens entre Moro e o procurador Deltan Dalagnol, que mostram justamente orientações, dicas e combinação de operações entre acusação e julgador.

Ações ilegais que culminaram na condenação do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e de outros políticos e empresários.

Na palestra, Moro afirmou que ficava irritado e que eram infundadas as críticas ao trabalho dele, que o consideravam um “juiz investigador”.

Se ouve muito por aí, ‘a estratégia de investigação do juiz Moro’. Eu falo assim, a culpa é toda do Ministério Público e da Polícia Federal e dos órgãos auxiliares, porque eu não tenho estratégia de investigação nenhuma. Quem investiga e decide o que vai fazer é o Ministério Público e a polícia. O juiz ele é reativo. O juiz normalmente deve cultivar essas atitudes passivas”, disse.

As conversas entre Moro e Dallagnol revelam que o ex-juiz não apenas adotara uma linha de investigação, como orientava os procuradores. Entre as mensagens estão a combinação de ações, cobranças sobre a demora em realizar novas operações, orientações e dicas de como a Força Tarefa da Lava Jato devia proceder. Além disso, o site revelou que o procurador duvidava das provas contra Lula e de propina da Petrobras horas antes da denúncia do tríplex e que a equipe de Ministério Público Federal atuou para impedir a entrevista de Lula antes das eleições por medo de que ajudasse a eleger o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad.

Moro e Dallagnol chegam a comemorar a repercussão das manifestações contra o governo da ex-presidenta Dilma Rousseef. Dallagnol parabeniza Moro “pelo imenso apoio público hoje”. “Seus sinais conduzirão multidões, inclusive para reformas de que o Brasil precisa, nos sistemas político e de justiça criminal”, continua.

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Depois, os dois conversam sobre a divulgação da conversa entre Lula e a ex-presidenta, quando da indicação dele para ministro, o que revela que a ação foi premeditada e negociada entre acusação e julgador. Dallagnol diz: “Não entendo que tivéssemos outra opção”. E Moro responde: “Não me arrependo do levantamento do sigilo. Era melhor decisão.”

Apenas 15 dias depois de trocar essas mensagens, Moro ainda diria, na referida palestra, que quem o acusava de “juiz investigador” devia olhar nos autos e identificar algum ato em que isso estivesse demonstrado. “No máximo juntada de documentos. Eventualmente, oitiva de uma testemunha. Dentro desse rol enorme de casos criminais é praticamente nada”, disse o ministro.

Naquele momento, as conversas reveladas ontem já estavam registradas em seu celular.

Confira a íntegra da palestra abaixo:

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