Moro não quer que o Intercept faça com ele o que a Lava Jato fez com os investigados
Irritado, Sergio Moro não quer que a divulgação das conversas pelo The Intercept aconteça aos poucos. Ministro chamou essa estratégia de "mecanismo espúrio". Vazamento sigiloso a conta gotas foi expediente usado à exaustão pela Lava Jato
Vazar material sigiloso que narram supostas ilegalidades foi e ainda é um expediente usado à exaustão pela Lava Jato. Mas agora que o vazamento a conta gotas é contra a força-tarefa e o ex-juiz símbolo da operação, Sergio Moro denota que não está nada contente. O hoje ministro de Jair Bolsonaro, inclusive, classificou a estratégia de divulgação do The Intercept Brasil de “mecanismos espúrios”.
“Por que não apresenta desde logo tudo? Se tem irregularidade mesmo, tão graves, apresenta tudo para uma autoridade independente que vai verificar a integridade do material. Aí, sim, se a ideia é contribuir para fazer Justiça, então vamos agir dessa forma. E não com esses mecanismos espúrios“, pregou Moro.
Em entrevista veiculada pelo Estadão nesta sexta (14), o ex-juiz insinuou ainda que o Intercept tem trabalhado com criminosos. Isto porque, na narrativa criada por Moro com ajuda da Lava Jato e da Rede Globo e Estadão, o dossiê do site jornalístico é fruto de invasões de um ou mais hackers nos celulares de procuradores de Curitiba e outras vítimas.
“Não é só uma invasão pretérita que um veículo de internet resolveu publicar o conteúdo. Nós estamos falando aqui de um crime em andamento. De pessoas que não pararam de invadir aparelhos de autoridades ou mesmo de pessoas comuns e agora têm uma forma de colocar isso a público, podem enviar o que interessa e o que não interessa. E também esse veículo (The Intercept Brasil) não tem nenhuma transparência com relação a esse conteúdo. Então vai continuar trabalhando com esses hackers?”
Na Lava Jato, material divulgado contra os investigados nunca passou por perícia fora dos autos apenas porque um dos atingidos colocou sua veracidade em xeque. Mas Moro disse mais de uma vez que o dossiê Intercept precisa ser averiguado, e que “as autoridades independentes” para fazer uma perícia seriam a Polícia Federal – que está sob o guarda-chuva do ministério que ele comanda – ou o Supremo Tribunal Federal.
“Se não querem apresentar à Polícia Federal, apresenta no Supremo Tribunal Federal. Aí vai se poder verificar a integridade daquele material, exatamente o que eles têm, para que se possa debater esse conteúdo. Agora, do contrário, eu fico impossibilitado de fazer afirmações porque eu não tenho o material e, por outro lado, eu reconheço a autenticidade de uma coisa e amanhã aparece outra adulterada. Alguns diálogos, algumas mensagens lá me causam bastante estranheza.”
Na entrevista, Moro também adotou um discurso “sabonete”: admitiu que conversava com frequência com os procuradores pelo Telegram. Disse também que, em sua visão, o que o Intercept revelou até agora, “despido o sensacionalismo”, não tem nenhuma ilegalidade. Mas não assumiu fala A ou B, por dois motivos: alguém pode ter adulterado as mensagens, e ele já não se lembra do contexto em que se deram as conversas.
Veja o que o The Intercept já revelou até agora: